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Cecília Pires e o resgate da história do MUSM

Cecília Pires tem uma história no movimento docente de Santa Maria. De luta e de bravura. E isso num tempo muuuuuito mais difícil, em pleno regime militar. Hoje, aposentada da UFSM, leciona para alunos de pós-graduação em São Leopolodo, na Unisinos. Mas, nesta quinta-feira, a professora esteve outra vez na cidade, participando do projeto “Repensar a Universidade”, promoção das entidades representativas da comunidade universitária. Eis, aqui, o relato de sua palestra, sobre o Movimento Universitário Santa-mariense, conforme material da Assessoria de Imprensa do SEDUFSM. Cecília, a propósito, estava no grupo fundador da entidade que representa os docentes da Universidade.

”Retomar o passado, se apropriar dele, redimensionando-o no presente. Essa é uma das intenções apresentadas na palestra da professora Cecilia Maria Pinto Pires, aposentada do curso de Filosofia da UFSM, e, atualmente, lecionando no curso de pós-graduação em Filosofia da Unisinos. Ela veio a Santa Maria a convite das entidades organizadoras do projeto Repensar a Universidade, nesta segunda etapa, que aborda “o olhar da comunidade sobre a universidade”. Cecília falou no penúltimo dia do evento, nesta quarta, 5, no Auditório Pércio Reis, resgatando uma parte importante da história do Movimento Universitário Santa-mariense (MUSM). A coordenação da exposição ficou por conta do professor Clovis Guterres, ele também um participante, junto com Cecília, dos primórdios do MUSM.
A professora de filosofia, que é viúva de um nome emblemático para o movimento sindical docente na UFSM, Sérgio Pires, e, ela própria uma fundadora da SEDUFSM, explicou em sua palestra, acompanhada de imagens históricas colocadas em um data-show, que o Movimento Universitário Santa-mariense surgiu no final da década de 60, a partir dos ventos soprados pela rebelião estudantil de maio de 1968, ocorrida na França. Segundo Cecília, o padre Clarindo Redin, da congregação dos palotinos, atualmente morando no Mato Grosso do Sul, foi o grande mentor do movimento em Santa Maria que buscava aliar aspectos da fé junto com um pensamento político transformador, que não se curvava à visão autoritária do governo militar ou de seus tentáculos dentro da própria universidade. O MUSM só passaria a ser conhecido como tal em meados da década de 70, pois em sua origem era chamado de “Grupo Universitário”.

RESISTÊNCIA – Os encontros do Grupo Universitário eram desenvolvidos, conforme ela, através de um convívio litúrgico e político, sendo que o local das reuniões era o antigo porão do Diretório Central dos Estudantes (DCE). A faculdade de Filosofia da UFSM, localizada no antigo prédio da Interamericana, também era um local onde se procurava organizar a consciência da “resistência.” Havia pressões externas ao trabalho concretizado pelo MUSM, que vinham do Exército, e também internas, por parte da direção da própria universidade. Cecília conta que algumas vezes chegaram a ela e a Sérgio Pires ameaças veladas de expurgo dos quadros da UFSM. “Nem todos do grupo eram católicos ou cristãos, mas todos estavam unidos por uma visão humanista”, diz ela. Dos porões do DCE, o MUSM acabou tendo uma sede (rua professor Braga, em frente ao DCE) em função de recursos obtidos por financiamento obtidos pelos padres palotinos junto a entidades alemãs.
O apogeu de atuação do Movimento Universitário de Santa Maria foi em meados da década de 70, sendo que, a partir dos anos 80, houve uma espécie de dispersão das lideranças que atuaram em volta desse coletivo. Cecília Pires diz que “houve uma perda de sentido do MUSM, cuja sede acabou se transformando num grande pensionato.” Mas ela não lamenta isso e acrescenta que não havia interesse dos participantes do Movimento em disputar o poder institucional, mas sim, refletir, criticar e conscientizar.
Segundo Cecília, os objetivos foram alcançados, haja vista a repercussão na opinião pública. Para uma cidade do interior, guardada por quartéis, o alcance foi além do que se podia imaginar, diz a professora de filosofia. “O MUSM teve o tempo de finitude das questões humanas”, declara filosoficamente Cecília e, sempre, acreditando nas utopias que, segundo ela, “são construídas pelas subjetividades do indivíduo.”


COMENTÁRIO CLAUDEMIRIANO: Quem, como eu, viveu a Universidade no final dos anos 70 e início dos 80, e que teve um mínimo de participação na luta contra a ditadura, não tem como esconder a emoção ao reencontrar figuras como a de Cecília Pires. E, com ela, a recordação de Sérgio Pires. Ambos, definitivamente, têm lugar cativo na memória dos que, naqueles tempos sombrios, fizeram da luta pela democracia uma das razões de ser da própria presença na Universidade. Não são os únicos, com certeza, mas estão lá, na vanguarda da discussão política em tempos duros. Nesse aspecto pelo menos, bem diferentes de hoje, acredite.

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