Docentes municipais e o boicote à Feira do Livro

Recebi o seguinte e-mail, que reproduzo exatamente como chegou, assinado por Antônio Lídio de Mattos Zambon, Rúbia Brum, Maria Cristina Rigão Iop e Leda Marzari, coordenadores do Sindicato dos Professores Municiapis de Santa Maria:

”A prefeitura é quem boicota os livros

Prezado Claudemir Pereira, é devido a sua perspicácia em compreender as artimanhas políticas dessa cidade que hoje o Sindicato dos Professores Municipais de Santa Maria vem através de este e-mail propor uma reflexão. Nossas escolas não possuem boas bibliotecas. Aliás, boa parte das nossas escolas municipais não tem sequer biblioteca. Nas que possuem, a colaboração dos professores e da comunidade escolar foi fundamental para o acervo. A prefeitura não doa livros da área de literatura. A Feira do Livro é o único contato que o executivo oferece dos estudantes com a leitura. Resumindo, aquele evento onde se constrói um palanque para a realização de um evento que serve como propaganda da administração municipal é a única oportunidade que o executivo oferece para as crianças “verem” os livros. Se elas quiserem “ler” os livros, é outra história, na escola elas não vão encontrá-los, pois as bibliotecas têm apenas livros didáticos.

Não somos contra a Feira do Livro, o papel que ela tem para a cultura de Santa Maria é imensurável. Porém, não podemos aceitar que ela seja o único momento desse encontro entre os estudantes e os livros. Não podemos aceitar casos como o da escola João da Maia Braga, que desde 2001 não tem biblioteca porque a prefeitura usou o espaço para construir uma nova sala de aula.

Ora, dizer que a Prefeitura custeia a ida dos estudantes a Feira é brincar com a nossa inteligência. Mesmo quando não há boicote, a maioria dos alunos não vai à Feira. Cada escola pode levar uma única turma com o transporte custeado pelo executivo. Como as comunidades em geral são carentes, a Feira acaba sendo um evento para poucos. Então, é muito engraçado ver a Prefeitura criticando o boicote, quando só incentiva a leitura em eventos que podem servir de palanque eleitoral. Nós boicotamos a atual administração porque ela não respeita a Educação. Quem realmente boicota os livros é a Prefeitura, que não monta boas bibliotecas, não oferece acervo de livros e acha que organizando uma única feira por ano está cumprindo com o seu papel.”

OPINIÃO CLAUDEMIRIANA: nunca, em momento algum, disse ou escrevi que as reivindicações dos professores são injustas. Inclusive por que não são. Também não acho que as condições dos alunos sejam as melhores, nem que todas as escolas, ou a maioria delas, ou parte delas têm bibliotecas – o melhor lugar para ler, além da nossa casa (no caso da deles é mais difícil, dadas as suas condições econômicas e geral precárias).

Menos ainda disse que tooodos os estudantes devem ir à feira – embora isso fosse o desejável. E também entendo que os alunos que vão à Praça acabam mais “vendo” do que lendo. Mas, e isso sim é fundamental: seja quantos forem, tomarão contato com o livro. E a situação lhes é agradável, sim – basta perguntar a eles, os pequenos estudantes. Aliás, nem é necessário, apenas se lhe olhe o brilho dos olhos; é suficiente.

No entanto, e esta é a crítica que faço – e mantenho – é o boicote. Ele em nada ajuda a luta dos professores, que é contra a prefeitura, não contra os alunos (por menor fosse o número de beneficiários). É isso, e só isso.