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Comício como aquele não teremos. Mas, não há dúvida, esta campanha será diferente

Quando adolescente, sequer era eleitor – o voto aos 16 anos ainda era recusado -, em 1976, havia um pleito para prefeito. Morava em Alegrete. E fui a um comício. Praça central da cidade, calor, 8 da noite. E ouvi pelo menos uma dúzia de discursos – candidatos a vereador se esforçando para mostrar o que eram e capturar os votos de quase mil assistentes que lotavam o entorno do palanque montado para que, a partir dele, se fizesse o proselitismo.

O ápice do ato político era a palavra do candidato a prefeito. O partido era o MDB, lembro muito bem. E Nilo Soares Gonçalves, o concorrente. Ou seria Adão Faraco? Sei lá. Não importa. Na verdade, o que me vêm à memória não é sequer o teor do discurso, mas a existência dele. E a inexistência de bonés, chaveiros, camisetas ou o que fosse, que depois tornou-se uma inevitabilidade em campanhas eleitorais. À época, era o gogó que interessava. As idéias. Lembra delas? Pois é, as idéias.

José Rubens Pillar, da Arena, salvo engano, foi quem venceu o pleito. E com ele, as suas idéias. Geeente! Era muito interessante. O comício. Um espetáculo. Com seus fanáticos. E seus bêbados. E sem música – exceto a marchinha de campanha. Nada de locutores contratados, menos ainda duplas sertanejas – que, então, sequer faziam sucesso. O animador da festa democrática era um radialista amigo ou correligionário, mas não profissional.

Esse rememorar não é apenas nostálgico. Apenas que, se é verdade que talvez não se tenha um comício como aquele, não é menos verdadeiro que, por força de lei, muita coisa vai ser diferente neste pleito. Não acredita? Então, leia a reportagem de Christiane Samarco e Luciane Nunes Leal, que o jornal O Estado de São Paulo está publicando neste domingo:

”Nova lei faz candidato reaprender a pedir voto
Sem brindes e showmícios, campanha deve ter fiscalização mais rígida; PSDB aposta em cautela e recibos, e PT usa criatividade e seus símbolos

As novas regras eleitorais que restringem os gastos de campanha e impõem maior rigor na prestação de contas à Justiça instalaram a paranóia nos partidos e nos candidatos, que terão de reaprender a pedir votos sem distribuição de brindes, como camisetas e bonés, e sem showmícios, a febre das últimas eleições.

Na pré-campanha presidencial do tucano Geraldo Alckmin, a palavra de ordem é cautela, de preferência com recibo. Quando o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), pôs seu jatinho Citation à disposição do candidato no último fim de semana, para que viajasse de São Paulo a Navegantes (SC), Alckmin pediu que a cortesia fosse transformada em operação comercial.

Preocupado em evitar qualquer dúvida que possa ser questionada pela Justiça Eleitoral ou por adversários, o candidato pediu a Tasso que “legalizasse” o empréstimo. A oferta informal, que sempre foi tratada como simples camaradagem em outras campanhas, acabou transformada em negócio do presidente do PSDB com seu próprio partido. O senador fez um documento para registrar a “doação de serviço” da hora de vôo do jato, a preço de mercado. “Todo o cuidado é pouco”, justificou Alckmin.

Por enquanto, esse tipo de preocupação não chegou à campanha pela reeleição do presidente Lula. Como ele não formalizou a candidatura, fica à vontade para viajar incansavelmente pelo País em visitas oficiais de presidente, sem qualquer custo para o PT.

Já no PSDB, qualquer economia é bem-vinda. Aluguel de helicóptero, nem pensar. Em São Paulo, os compromissos e os deslocamentos do candidato para o aeroporto, na ida e na volta, são feitos de táxi. A ordem é chamar “Seu Gomes”, o ex-policial que serviu ao governador Mário Covas por 18 anos, virou taxista e agora dirige sua Palio Weekend branca para o “Dr. Geraldo”.

Um temporal que inundou a Marginal do Tietê em 11 de maio custou ao candidato duas horas de aflição dentro do táxi do Seu Gomes, um vôo perdido por conta do atraso e três horas de espera do governador da Bahia, Paulo Souto, e do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) no aeroporto de Salvador. Sem saber o que dizer à comitiva que aguardava o tucano, a assessoria do candidato debitou o imprevisto na conta da crise da Varig. Temerosos de aborrecer ACM, os assessores apressaram-se em explicar que o motivo do atraso foi o cancelamento do vôo.

No PT, combalido pelos escândalos do mensalão, do caixa 2, da quebra ilegal de sigilo bancário, dos dólares na cueca, entre tantos outros, o esforço será voltar aos velhos tempos de promover a sigla e a estrela.

“Como o nome e a estrela do PT são marcas fortes, vamos investir no voto na legenda. Ninguém conhece tucano, mas todos sabem que a estrela é o símbolo do PT”, diz o secretário-adjunto de Comunicação, Francisco Campos. “Esta será a campanha da criatividade.”

Para o petista, não é tão simples se…”


SE DESEJAR ler a íntegra da reportagem, pode fazê-lo acessando a página do jornal na internet, no endereço .

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