Arquivo

Veja. E dizer que já foi uma revista, a maior de todas, que produzia reportagens

Reconheço minha incompetência. Acho a Veja uma revisteca, mais interessada em colocar seu ponto de vista, e vê-lo triunfar a qualquer custo, do que em produzir reportagens, permitindo que a realidade factual se expresse e, enfim, como dizem os cânones, o leitor possa refletir e tirar própria opinião.

 

Hoje é um arremedo, para dizer o mínimo. E olha que ela já desempenho papel preponderante na defesa das liberdades democráticas – essas mesmas que, com sua atitude golpista, busca, com bastante empenho e uma alta dose de mau-caratismo, ferir hoje. Além de, ela própria, não respeitá-las, o que seria possível se oferecesse o bom e honesto contraditório.

 

Reconheço, repito, minha incompetência. Não consegui expressar esse sentimento, e essa constatação, de forma convincente, respaldada em situações concretas. Até me esforcei, mas não consegui. Sorte, mas sorte mesmo, que ainda há quem seja muito capaz e que, munida do mesmo (presumo) sentimento, consegue por no papel aquilo que penso. Foi o caso, nesta sexta-feira, de David Coimbra – longe, mas bastante longe, junto com Moisés Mendes, dos melhores profissionais atuando hoje na mídia gaúcha.

 

Pois é do Coimbra o texto a seguir, que ele publicou em Zero Hora (onde é editor executivo de esportes, entre outras atividades). Vale a pena conferir. Assino embaixo. E se precisar, confirmo em cartório. Confira:

 

“As Vejas que eu vi

 

Eis aí duas capas da Revista Veja sobre o mesmo assunto: Che Guevara. Há 10 anos entre elas. A primeira, publicada em 1997, foi feita a partir de uma matéria escrita por Dorrit Harazim, talvez a repórter de maior prestígio no Brasil. Dorrit viajou à Bolívia, onde foi assassinado o Che, e voltou com um texto descritivo, sustentado por cartapácios de documentos e pelo menos uma dezena de entrevistas. O título: “O Triunfo final de Che”. Dorrit não faz uma apologia do guerrilheiro. Limita-se a investigar as ocorrências de seus últimos dias e tenta explicar como ele se transformou em mito. “Che Guevara tinha tudo para se tornar imortal”, escreveu. “Era bonito, destemido e morreu jovem, defendendo conceitos igualmente jovens, como a solidariedade e a justiça social”.

O texto de 2007 tem como título “Che: Há 40 anos morria o homem e nascia a farsa”. Não é uma reportagem; é um grande artigo. Os autores não saíram para fazer a matéria e retornaram com a convicção de que Che foi um monstro. Não. Eles partiram da convicção de que Che foi um monstro para escrever a matéria. O texto se propõe a convencer o leitor da tese da revista. A Veja de hoje descreveu o Che desta forma: “Com suas fraquezas, sua maníaca necessidade de matar pessoas, sua crença inabalável na violência política e a busca incessante da morte gloriosa, foi um ser desprezível”.

E agora? Em qual Veja devo acreditar? Sei a resposta: na de há 10 anos. Não porque a atual desmoraliza Che Guevara. Pouco me importa Che Guevara. Importa-me a Veja. Criei-me lendo essa revista, leio-a desde o tempo em que ela balizava o jornalismo brasileiro. Acontecia algo grave durante a semana, como, sei lá, a crise do Senado, e eu ia entender na Veja. Mas, por algum motivo, a Veja mudou. Não falo de Diogo Mainardi e outros colunistas. Esses estão emitindo opinião, e fazem-no com competência e graça. Posso até não concordar com o que escrevem, mas não preciso concordar com um colunista para gostar dele. Falo do jornalismo da Veja, da carne da revista.

Alguém dirá que nada na imprensa brasileira é confiável. Não é assim. Há veículos que tentam exercer um jornalismo honesto, sobretudo os grandes jornais. A Folha de S. Paulo, com sua independência feroz, chega a se tornar mal-humorada. O Estadão é tão comedido, que volta e meia vira empedernido. O Globo procura com tal ânsia a qualidade, que não raro roça o fútil. E a Zero Hora debate-se a tal ponto pela eqüidistância, que às vezes resulta sem sal. Nenhum desses jornais aparenta certezas ideológicas tão arraigadas que os levem a qualificar alguém como “desprezível”. Contam o que está acontecendo de acordo com sua forma peculiar de contar, fiéis inclusive aos seus defeitos. A Veja, não. A Veja parece…”

 

SUGESTÃO DE LEITURA – confira aqui a íntegra da crônica “As vejas que eu vi”, de David Coimbra, em Zero Hora.

 

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo