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Anna Ribeiro de Góes Bittencourt (1843-1930) – por Elen Biguelini

A escritora baiana, herdeira de engenho e obra dividida entre sagrado e profano

A poetisa, contista e romancista Anna Ribeiro de Góes Bittencourt nasceu na vila de Itapicuru em 31 de janeiro ou julho de 1843 e viveu em Santana do Catú, na Bahia. Foi filha de Matias de Araújo Góes e Anna Maria da Anunciação Ribeiro. Ambas estas famílias tinham uma posição social importante na região. Seu pai descendia de um grande proprietário de terras, ele próprio tendo aumentado as possessões da família, adquirindo diversos engenhos. Entre eles, o Engenho Api. Teve uma doença no olho que prejudicou sua educação formal. Devido a isto, foi educada por sua mãe. Ela vivia em grande opulência, na propriedade que era o centro cultural da região, uma grande casa que era o local de diversas festas religiosas e culturais do Recôncavo Baiano.

Casou-se com Sócrates de Araujo Bittencourt (1843-1907), outro membro da aristocracia local, em 1865.  Seu marido havia estudado medicina e cuidou das terras do sogro, bem como assumiu posteriormente a Câmara de Catu, onde moravam.  O casal teve três filhos: Pedro Ribeiro de Araujo Bittencourt (1886-?), Maria Francisca e Joana.

Como única filha de seus pais, cuidou do pai em sua convalescência. Após o falecimento de seu pai, ela e o marido se mudaram de Catu para Salvador, mas após a abolição da escravatura retornaram para um engenho vazio. Aos 65 anos, após o falecimento do marido, se mudou para Salvador, onde veio a falecer em 21 de dezembro de 1930 e está enterrada no Cemitério do Campo Santo, na capital da Bahia.

A autora cresceu em um engenho (o engenho Api), que servia também como núcleo cultural da região do recôncavo baiano. Sua obra apresenta um reflexo da sociedade, mas também demonstra interesse por questões feministas e abolicionista. Nota-se, que por toda a sua vida a autora havia vivido em um engenho regido pelo trabalho de escravizados que, segundo suas memórias, não eram maltratado pela família que recebeu bem a abolição, ainda que esta tenha levado a dificuldades econômicas dela e de seus parentes.

Sua obra pode ser dividida em romances sagrados e profanos.

Obras da autora:

“A filha de Jephté”, Rio de Janeiro: Tipografia da Rua da Alfandega, 1882.

“Abigail” , Folhetim publicado no “Diário da Bahia” em 1921.

“Alina”, conto.

“Anjos de perdão”, 1885. Romance regionalista. Publicado na “Gazeta de Notícias da Bahia”.

 “Dulce”, conto

“Helena”; 1901.

“Letícia”, Salvador: Reis e Cia, 1908.

“Lúcia”, 1903.

“Maria”, conto.

“Marieta”, conto.

“Os sonhos de Josefina”, conto.

“Violeta e Angelica”. Jornal de Noticias, 1906. Conto.

E o manuscrito “Suzana”, que permanece inédito.

“Os longos serões do campo”. Escrita em 1822, publicada em 1992. Memórias em 2 volumes.

Escreveu nos periódicos:

“Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro”, (1800-1882), “Paladina do lar” (primeira revista feminina católica baiana), “A Bahia”, “Jornal de Notícia”, “A Voz”,  Liga Católica das Senhoras Baianas”, “Gazeta de Notícias” da Bahia, “O mensageiro da Fé”,

Referências:

Marreco, Maria Inês de Moraes. “Anna Ribeiro de Góes Bittencourt: a atuaçºao marcante de uma escritora oitocentista”. In Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2012. Acesso via: https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwjvl67I7fOBAxXzrpUCHYDuDw0QFnoECBIQAQ&url=https%3A%2F%2Fojs.ufgd.edu.br%2Findex.php%2Fhistoriaemreflexao%2Farticle%2Fdownload%2F270%2F232&usg=AOvVaw3OLp5nMEhMwszGiHMbHOT6&opi=89978449.

Leita, Marcia Maria da Silva Barreiros. “Educação, cultura e lazer das mulheres da elite em Salvador, 1890-1930”. Dissertação -mestrado em História- Universidade Federal da Bahia, 1997.

Lopes de Oliveira, Américo. “Escritoras brasileiras, galegas e portuguesas”. s.l. Tipografia Silva Pereira, 1983, 81.

Oliveira, Marcelo Souza. “Uma catuense ‘ilustrada’: a historia de Anna Ribeiro de Goés Bittencourt (1843-1930)”. Acesso via: http://acervocatuense.blogspot.com/2017/11/uma-catuense-ilustrada-historia-de-anna.html

Oliveira, Marcelo Souza. “Anna Ribeiro de Góes Bittencourt na Santana do Catu imperial: história, memória e literatura”. In. Oliveira, Marcelo Souza; Rocha, Rafael Rosa da. “De Vila do Açucar à Cidade do Ouro Negro: capítulos da História de Catu”. Curitiba: Appris, 2022. Capítulo 6.

Oliveira, Marcelo Souza. “Uma Senhora de Engenho no mundo das letras: História, memória e identidade cultural em Anna Ribeiro de Góes Bittencourt (1843-1930)”. In. Revista Eletrônica História em Reflexão: Vol. 2, n. 3: UFGD,  2008. Acesso via: https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/historiaemreflexao/article/view/270

(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.

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