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Passado. Ex-presidentes brasileiros não percebem que seu tempo já se foi e viram zumbis

“Algo precisa ser feito com os nossos ex-presidentes. É constrangedor, para o país e para os próprios, vê-los pedindo votos, padecendo derrotas temporãs, pendurando apaniguados na engrenagem estatal ou simplesmente perdidos em algum lugar situado entre a fronteira da amargura e do ciúme.”

Esse parágrafo é em si mesmo eloqüente da qualidade do texto e da opinião do jornalista Josias de Souza (da Folha de São Paulo), publicados na página dele na internet. Essa é uma questão relevante, afinal, diferente de outros países, não há, no Brasil, tradição (ou intenção de criá-la) de propor alguma coisa aos ex-Chefes de Estado. E, por conta disso, os quatro que temos, vivos, fazem coisas que…

Bem, o melhor é mesmo ler direto da fonte. Por isso, reproduzo o artigo de Josias, a seguir:

”Os zumbis da República

O grande livro ensina, em Eclesiastes (3,1-3) que “tudo tem o seu tempo determinado” debaixo do Sol. “Há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de colher; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derrubar e tempo de edificar…”. Na vida pública, há pessoas que perdem a noção do seu próprio tempo. É o caso dos ex-presidente da República do Brasil.

Em qualquer lugar sério do mundo, aos ex-presidentes é reservado, depois do exercício do mandato, uma posição de respeitoso recolhimento. Protegidos por vantagens do Estado – salário, transporte e carregadores de mala -, funcionam como os velhos pajés indígenas. Tornam-se os sábios da tribo. Pessoas às quais, de raro em raro, pode-se recorrer em busca de um ou outro conselho.

No Brasil não é assim. Há hoje no país quatro ex-presidentes vivos: José Sarney, Fernando Collor de Mello, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Os dois primeiros estão metidos na refrega eleitoral. O terceiro só não vai às urnas porque foi preterido pelo próprio partido. E o quarto deu para verter a própria amargura sobre manifestos extemporâneos.

Excetuando-se Collor, cujo passado não recomenda como conselheiro, os demais teriam credenciais, mais ou menos viçosas, não importa, para vestir o manto de pajé. Recusam-se, porém, ao recolhimento. Metem-se na refrega política com o vigor de jovens iniciantes. Comprometem as próprias credenciais na mesquinharia das disputas cotidianas.

Num país em que a política se confunde com a safadeza, parece despropositado tratar-se de uma questão como o retiro de ex-presidentes. Mas, numa época em que germinam as bases de uma reforma política, talvez seja o caso de arrumar um lugar no ordenamento jurídico para acomodar esses personagens.

Tome-se o exemplo dos EUA. Os presidentes que deixam o cargo voltam-se para fundações batizadas com os seus nomes. São erigidas em seus Estados de origem e guardam toda a documentação referente aos respectivos ciclos no poder. Não se imagina, por absurdo, que possam rebaixar-se em disputas para governos locais ou para o Congresso.

Há também o exemplo da Itália. Ali, os ex-presidentes ganham, ao deixar o cargo, cadeiras honoríficas no Senado. Não têm direito a voto. Mas podem subir à tribuna, de onde distribuem conselhos à tribo.

Entre nós, até ex-presidentes escorraçados vão às urnas com enorme sem-cerimônia, como faz Collor. Outros sujeitam-se a virar subordinados de…”


SE DESEJAR ler a íntegra da reportagem, pode fazê-lo acessando a página do jornalista na internet, no endereço http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/.

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