Polêmica. Uma resposta (ferina) à carta de FH
Mauro Santayana é um veterano jornalista. Trabalhou em praticamente todos os grandes jornais do país. Atualmente, é colunista político do Jornal do Brasil e da agência de notícias Carta Maior. E é exatamente nela que escreve, esta semana, sobre a Carta de Fernando Henrique Cardoso, em que ele, ao mesmo tempo em que critica Luiz Inácio Lula da Silva e elogia Geraldo Alckmin praticamente joga a toalha, no pleito presidencial. E, sobretudo, se posiciona para o debate político interno do PSDB pós-pleito.
Dependendo do veículo de comunicação, variando para mais ou para menos, o tom quase sempre foi compreensivo em relação ao ex-presidente. Só nas entrevistas, e o pefelista governador de São Paulo, Cláudio Lembo, é um deles, foi possível identificar alguma crítica mais contundente. Lembo, do alto da impunidade que lhe é concedida pela quase aposentadoria, chegou a dizer (Folha de São Paulo de hoje – que você pode acessar na versão online em http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ – que escrever cartas é coisa de velho.
Crítica, crítica mesmo, não chegou a haver alguma mais consistente, nos espaços de opinião. Então, muito confortável pelo fato de ter aqui republicado a carta de FHC (vai ao calendário, clique no dia 8 e a encontrará, na nota Eleições 2006. Tucanos, Fernando Henrique à frente, já fazem inventário da derrota eleitoral), resolvi reproduzir aqui pelo menos um artigo frontalmente crítico.
O escolhido é o de Santayana. Que tem a mesma (ou até mais) idade de FHC e tanta experiência na análise política quanto qualquer outro dos medalhões do jornalismo nacional. Confira o que ele escreveu:
A anatomia da inveja
Em Os velhos marinheiros, o clássico da literatura picaresca brasileira, Jorge Amado narra uma partida de pôquer em que o capitão Vasco Moscoso de Aragão depena o adversário. O perdedor procura insultar o ganhador de todas as formas – e um terceiro jogador observa: inveja mata, seu Chico, inveja mata.
Há alguns meses o médico Adib Jatene, senhor dos mistérios do coração, órgão em que se presume alojar a alma dos homens, dizia a mesma coisa que disse o personagem de Jorge. A competitividade, o afã de superar os demais, a inveja do êxito alheio, são os maiores aliados da morte por infarto. Provavelmente sejam também de outras doenças fatais.
O ex-presidente Fernando Henrique deve consultar já o doutor Jatene. As suas mais recentes declarações sobre Lula, a quase apoplexia com que, no encontro com os donos do poder econômico, se referiu ao Chefe de Estado (inveja mata: trata-se de um operário na chefia do Estado) mostram que o festejado intelectual está precisando de acompanhamento cardiológico. E não fez melhor o antigo presidente, quando falou em Macunaíma. Lula não tem o perfil do anti-herói de Mário de Andrade.
O ex-presidente é homem vitorioso. Não tem por que invejar o êxito de ninguém, porque foi brindado por todos os êxitos: na cátedra, na literatura sociológica, na presença no Senado e na Presidência da República. Nunca se atrapalhou com o uso dos talheres nos salões do mundo. Sabe perfeitamente como servir-se de chá no Palácio de Buckingham e conhece as anedotas que fazem Clinton divertir-se, embora, com precavida elegância, evite as que falam de charutos. Lula, para a sua razão aristocrática, é um brega. A sua missão histórica deveria limitar-se à liderança sindical, como fez George Meany, que dominou o sindicalismo norte-americano por décadas. Lula devia trabalhar para a conciliação de classes e se satisfazer em apenas reivindicar – e sem greves, como fazia Meany – participação modesta dos trabalhadores na prosperidade do capitalismo em geral. Mas Lula foi atrevido. Fundou um partido político, liderou intelectuais (alguns com muito mais estofo do que sua ex-excelência) e acabou chegando ao Palácio do Planalto. Tratou-se, como pensa o grande sociólogo, de um desaforo de pobre.
Fernando Henrique não tem por que invejar ninguém – mas se sente incomodado fora do poder. Há pessoas que se sentem predestinadas para o mando e se ofendem quando o perdem. Falta-lhes aquela consciência de efemeridade de todas as coisas da vida – e da própria vida. O poder político é uma concessão da vontade popular, e a vontade popular nem sempre é ungida daquele tipo de sabedoria que lhe reclama o soberbo professor.
Podemos entender o direito de espernear dos tucanos. A cada dia seu candidato voa mais baixo apesar da orquestração dos ataques por parte dos outros candidatos, todos aliados in pectore do ex-governador de São Paulo. Mas é muito divertido – e o vocábulo é este mesmo – ouvir o Sr. Fernando Henrique falar em moralidade pública…
SE DESEJAR ler a íntegra do artigo, pode fazê-lo acessando a página de colunas da agência Carta Maior na internet, no endereço http://agenciacartamaior.uol.com.br/.
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