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Um voto ‘melhor’. Olha o preconceito aí, gente!

O “seu” Assis, meu pai, estudou até o 5º ano primário (quem passou dos 40, nem precisa ser muito mais, sabe o que é). Tem mais conhecimento de matemática, por exemplo, do que muita gente boa. Não lê jornais, exceto lááááá de vez em quando. Vê o Jornal Nacional. Ouve rádio, ouve muito rádio. E está sempre muitissimamente bem informado.

Lembro de, quando criança (faaaaz teeeempo), vê-lo e escutá-lo conversando com vizinhos e parentes (era um tempo em que criança só podia fazer isso: prestar atenção, sem interferir) sobre uma série de assuntos. Inclusive, ou especialmente, política. Às vésperas de eleições, então, eu me embebia da sabedoria dele, e de seus amigos. Discutiam tudo: da inflação à tortura (sim, porque era época da ditadura mais braba – que alguns ainda teimam em dizer que era um “tempo bom”) – do salário deles à falta de salário do vereadores (naquela época, não havia subsídios, férias e outros quetais). Nada era deixado de lado, proibição era proibida, para relembrar Caetano, outro que, brilho artístico a parte, anda meio esquecido daqueles tempos.

Dois detalhes: falavam baixinho, muuuito baixinho, que ferroviário falar alto àquela época poderia significar acordar sem ver o sol e o próprio emprego. E não tinham “instrução superior”, looonge disso. Mas eram politizados, oh, se eram.

A pergunta é: quem raios diz que pobre e sem “estudo” não discute e, portanto, escolhe “pior” seus candidatos? Isso é tese de, para usar outra expressão meio antiga, “pequeno burguês” que vive às custas do Estado. Pobre, e sem grau superior, não é necessariamente despolitizado. Acredite!

A única, repito, a úúúúnica diferença, são os interesses. Enquanto os na faculdade ou recém saídos dela estão preocupados porque correm o risco de perder o conforto da classe média, aqueles querem só uma vida digna. Só, entre aspas. O resto, gente, o resto é tudo preconceito.

Exatamente, aliás, como algumas das opiniões ouvidas pela repórter Alexandra Zanela, que as transformou em (boa) reportagem na edição desta terça-feira, do jornal Diário de Santa Maria. Dê uma conferida:

”Voto ‘estudado’ é voto consciente?
Alunos, professores e especialistas falam sobre a responsabilidade de votar para aqueles que têm mais tempo de estudo e mas acesso às informações

Decidir em quem votar nas eleições é uma tarefa que exige cuidados. Afinal, pelos próximos quatro anos serão as pessoas que os eleitores escolheram que irão dar o rumo das nossas vidas. E, em Santa Maria, na Cidade Universitária, será que o grau de estudo importa para selecionar melhor os candidatos? Essa pergunta deixa muita gente intrigada. Especialistas apontam que os universitários têm mais clareza para escolher os candidatos, por estarem no foco das discussões e possuírem mais quantidade de informação, embora um grande volume não seja sinônimo de qualidade.

A cientista política e coordenadora do curso de Ciências Sociais da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), Ana Regina Simão, lembra que, em tese, essa idéia é verdadeira. Segundo ela, os debates promovidos por universidades permitem um voto mais racional.

– Mas nisso há uma questão: o que é o voto correto? Sem dúvida, a escolaridade tem um papel importante. Os estudantes têm mais acesso a informações e, assim, possibilidade de discernir se o político é honesto.

Ricardo Worn, 28 anos, acabou de se formar em Zootecnia. Ainda com um pé na universidade, Worn acredita que os universitários escolhem melhor os candidatos.

– Na universidade, a gente debate mais. Os políticos são mais cuidadosos quando falam com a gente. Para as pessoas mais humildes, são mais vagos, até dá uma tapeada.

Já o estudante de Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Carlos Antunes, 23 anos, tem uma opinião diferente. Para ele, não faz diferença se o eleitor é universitário ou não:

– Entre um grupo de amigos que não são universitários, não vejo diferença, pode ter discussões do mesmo jeito.

Política também é tratada na sala de aula

João Henrique Mazetti, 26 anos, é estudante de Física e Filosofia na UFSM. Para ele, os universitários têm mais condições de escolher, mas ele avalia que ainda falta muito para os estudantes entenderem a política.

– Falta muito para o público universitário ter maturidade para escolher uma política coerente com um país de verdade. Ainda são muito alienados e não compreendem o contexto. Alguns estudantes não sabem nem da eleição do DCE, como é que vão saber das eleições gerais? – disse Mazetti…”


SE DESEJAR ler a íntegra da reportagem, pode fazê-lo acessando a página do jornal na internet, no endereço www.clicrbs.com.br/jornais/dsm/.

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