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”Novos” deputados. Câmara que assume tem mais de 90% que já tiveram função pública

Convenhamos, não chega a ser exatamente uma renovaçãããão. Aliás, nem uma renovaçãozinha. Afinal de contas, a expressão não pode ser usada quando, vistos os nomes dos 513 parlamentares eleitos em 1º de outubro, nada menos que 469 já exerceram mandato ou tiveram um cargo público. Isso significa, na ponta da máquina de calcular, exatamente 91,42% dos deputados federais que assumem em fevereiro de 2007.

O trabalho que chegou a essa conclusão foi feito pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) e foi transformado em artigo do jornalista Antonio Augusto Queirós, que é analista político e diretor de documentação da instituição. O texto foi publicado no site especializado em política e, especialmente, em parlamento, do “Congresso em Foco”.

É uma pesquisa que, antigamente, se diria “de fôlego”. Descobriu-se, por exemplo, que mais de 80% dos deputados têm curso superior, que o PSDB se transformou num partido paulista (25% dos eleitos vêm de terras bandeirantes), só 20 deputados (3,9%) têm até 30 anos de idade, e mais da metade dos parlamentares é composta de profissionais liberais – pontificando, entre eles, os advogados, os médicos e os engenheiros, nessa ordem. E, depois, mas já bem atrás, com perto de 20% dos integrantes da Câmara, vêm os empresários. Só a partir daí é que surgem os assalariados urbanos, operários etc – que foram contemplados, pelo eleitorado, com cerca de 30% da composição total

Enfim, há uma série de dados que ajudam a compor o perfil da chamada “câmara baixa” do Congresso Nacional. E que, no desempenho do mandato, podem auxiliar a entender algumas das votações a serem feitas no parlamento. Não sei se você concorda comigo (não é obrigatório, claro) a respeito do que escrevi. Mas tenho certeza que vale a pena ler o artigo de Queiroz, nem que seja para saber a quem a população brasileira delegou o poder de legislar, pelos próximos quatro anos. Confira:

”O perfil socioeconômico da nova Câmara
Mais empresários e profissionais com curso superior, menos assalariados e no mínimo 469 deputados que já exerceram mandato ou cargo público

O Diap, após exaustivo levantamento, mapeou o perfil socioeconômico dos deputados eleitos em 2006. Pelo levantamento, conclui-se que a futura Câmara dos Deputados será composta predominantemente por deputados com graduação superior, idade entre 30 a 60 anos, experiência política anterior em cargo público, formação em profissões liberais e fonte de renda não-assalariada. Diferentemente da conformação partidária, que pouco mudou, o perfil socioeconômico poderá alterar o comportamento político e ideológico da nova Câmara.

Em termos de escolaridade, a futura Câmara será das mais instruídas. Pelos menos 413 (80,5%) dos 513 deputados têm curso superior completo. Em relação aos demais (100), pelo menos 37 (7,2%) têm formação superior incompleta; 51 (10%) cursaram o ensino médio e 12 (2,3%), o ensino fundamental. A julgar pelo grau de instrução, a Câmara não fica nada a dever aos parlamentos de países mais desenvolvidos culturalmente.

No quesito idade, a Câmara também pode ser vista como experiente, considerando que 493 deputados têm idade superior a 31 anos. De acordo com a faixa etária, o Diap identificou 20 deputados com idade entre 21 e 30 anos; 229 com idade entre 31 e 50 anos; 172 com idade entre 51 e 60 anos; e 92 com idade superior a 61 anos.

Apesar da expressiva renovação, da ordem de 48%, na verdade houve uma circulação no poder. Dos 244 novos deputados, assim classificados aqueles que não foram reeleitos, pelo menos 200 já exerceram algum mandato ou cargo público em algumas das três esferas de governo (federal, estadual ou municipal) ou em algum dos poderes Legislativo e Executivo.

Os efetivamente novos, entendidos como aqueles que nunca exerceram qualquer função pública, estão restritos a três categorias de eleitos: os comunicadores (apresentadores de TV, radialistas, artistas e cantores), os bispos e pastores evangélicos e os parentes de políticos tradicionais.

Em termos de profissão, a categoria que lidera a composição da futura Câmara é formada por profissionais liberais. São 265 ao todo, sendo 87 advogados, 54 médicos, 47 engenheiros, 20 economistas, 15 administradores, dez jornalistas, seis contadores, quatro sociólogos, três arquitetos, três farmacêuticos, três médicos-veterinários, dois cirurgiões-dentistas, duas assistentes sociais, dois historiadores, uma fisioterapeuta, um psicólogo, um enfermeiro, um biomédico, um geógrafo, um geólogo e um representante comercial.

A segunda maior representação na Câmara é formada pelos empresários, no total de 121, distribuídos do seguinte modo: 97 urbanos, sendo 83 empresários, 11 comerciantes e três industriais, mais 24 produtores rurais, sendo nove empresários, oito pecuaristas, seis agropecuaristas e um cacauicultor.

O terceiro grupo profissional é constituído dos assalariados urbanos, incluindo os trabalhadores da iniciativa privada e do serviço público, que somam 87 deputados. Por ocupação, eles estão assim distribuídos: 32 professores, 22 servidores públicos, nove radialistas, cinco bancários, três delegados, três policiais, dois técnicos em edificações, dois promotores de justiça, um comerciário, um procurador de Justiça, um procurador de estado, um gerente, um técnico em contabilidade, um inspetor de polícia, um analista financeiro, um técnico agropecuário e um defensor público.

O quarto grupo é constituído por operários urbanos e rurais, no total de 19, assim distribuídos: sete metalúrgicos, sete agricultores, um técnico químico, um técnico em telecomunicações, um técnico em artes gráficas, um ferroviário e um industriário.

O quinto e último grupo é de natureza diversa. É formado por um deputado de profissão indeterminada, cinco estudantes, três bispos evangélicos, dois cantores, dois padres, dois sacerdotes, dois líderes comunitários, um especialista em política de segurança pública, um atleta, um teólogo e um músico.

Regionalmente, três aspectos chamam a atenção na nova composição da Câmara. O primeiro é o fato de o PSDB, partido de perfil social-democrata, ter voltado a ser um partido paulista, onde elegeu um quarto de sua bancada. O segundo é a constatação de que o PFL também manteve concentração estadual, sendo a Bahia seu principal reduto. E terceiro é fato de os estados com forte vocação agrícola terem elegido muitos parlamentares vinculados ao setor, fortalecendo a bancada ruralista.

A conformação ideológica da nova Câmara, a julgar pela formação e fonte de renda, tende a ser menos social-democrata e mais liberal, o que pode aumentar a pressão por reformas liberalizantes. A redução da bancada de trabalhadores e o aumento das bancadas…”


SE DESEJAR ler a íntegra do artigo, e também a relação completa dos deputados que assumem em 2007, e a correlação de forças ideológicas da nova Câmara, pode fazê-lo acessando a página do Congresso em Foco na internet, no endereço http://www.congressoemfoco.com.br/Noticia.aspx?id=10868.

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