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Análise. Lula tenta se descolar ainda mais do PT, ao propor e implantar o governo de coalizão

Um embate se forma com alguma clareza (ou muita, dirão alguns) no relacionamento entre Luiz Inácio Lula da Silva e a sua sigla, o Partido dos Trabalhadores. Os petistas querem, legitimamente, se colocar como a agremiação presidencial e, como tal, capaz de influenciar fortemente na administração. Tanto quanto ou mais do que fez (em alguns pontos, desastradamente) no primeiro mandato que se escoa.

Já o Presidente, que procurou – e isso ficou muito claro, durante a campanha eleitoral – se descolar do PT, especialmente daquele que se viu tentado, para dizer o mínimo, pelas teias de corrupção e aliciamento, mesmo que às custas do afastamento de uns e outros, vai em busca de um governo que lhe legitime para além das urnas. É o que leva Lula a propor e implantar a chamada “coalizão”. E, através dela e do charme que a proposta ostenta em alguns setores, não necessariamente petistas, conduzir seu segundo mandato por caminhos bem diferentes dos trilhados no primeiro. Mesmo que, de novo, dando alguns safanões no partido que ele próprio criou.

Trata-se de uma discussão muito interessante, para quem quer conhecer a história recente do País. Muito além da mera disputa de poder. Que esta terá novos confrontos aqui e ali, e também mais adiante. Quem está tratando do tema com muita qualidade, penso eu, é o editor especial da revista IstoÉ, e repórter político de muita experiência, Rudolfo Lago, em artigo disponibilizado pelo site especializado “Congresso em foco”. E é exatamente este o texto que passo a reproduzir:

”O PT e Lula

Nunca houve tanta diferença entre o projeto do presidente e os planos do seu partido. É por isso que quando Lula tenta defenestrar parte do PT para abrigar seus aliados, os petistas reagem defendendo seus postos com unhas e dentes. Depois da história dos “aloprados”, em muitos momentos tudo o que Lula-lá deseja é ver o PT lá, naquela parte mesmo

Desde que estourou a crise do mensalão, o PT tem ouvido calado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva responder que “não sabia de nada”, que nada passou por ele, que tudo o que a cúpula do partido planejou de errado foi “trapalhada” e que os autores dessas invenções são uns “aloprados”.

Sem entrar na questão sobre quem de fato acredita nessas versões, se é possível que Lula de fato tenha passado por tudo como a Carolina da canção de Chico Buarque (aquela que o tempo passou na janela e só ela não viu), o fato é que essa versão é extremamente conveniente para o presidente e extremamente inconveniente para o seu partido.

Enquanto Lula permaneceu incólume e está aí reeleito com 58 milhões de votos, praticamente toda a cúpula petista que iniciou o governo com ele caiu. O presidente tem mais quatro anos de mandato, mas pelo menos dois projetos presidenciais ruíram na esteira dos escândalos: José Dirceu e Antonio Palocci. E destruídos foram vários outros projetos de poder que não se sabe até onde pretendiam ir: Aloizio Mercadante, João Paulo Cunha, José Genoino, Ricardo Berzoini, etc.

Quem acha que a cúpula petista ficou unicamente feliz com a reeleição de Lula e relevou esses outros pontos, das duas uma: ou é adepto da filosofia de Sacher Masoch ou leitor de Poliana. Enfim, ou está convicto de que os petistas gostam de sofrer ou só consegue enxergar o lado bom em tudo.

A verdade é que o PT agüentou quieto a estratégia de Lula de se isolar da crise durante a campanha porque, por pior que ficasse a situação para o partido, muito pior ela seria se o presidente não fosse reeleito. Projetos de poder demolidos só poderiam ter chance de ser reconstruídos num ambiente em que o PT permanecesse no poder. E também só assim se poderiam fortalecer os alicerces das reputações que foram apenas abaladas. Ocorre que, agora, Lula venceu a reeleição. Não há nenhuma disputa eleitoral no horizonte dos próximos dois anos. É a hora, então, de a turma que sofreu abalos tentar se recompor.

Por outro lado, uma lição da política é que não existe vácuo nas relações de poder. Se alguém sai de cena, outro imediatamente busca ocupar o espaço vago. Os escândalos derrubaram a cúpula paulista do PT. Ao fazer isso, deram vez a políticos de outros estados que passavam longe das denúncias.

Desde as eleições municipais, eles têm conspirado em torno do que chamam de necessidade de “despaulistização” do PT. Lula, no fundo, também aprova a idéia. Embora seja um político de São Paulo, ele não deve ao estado a sua atuação política. Na verdade, ele perde a eleição ali. E não tem nem nunca teve qualquer pretensão limitada à política paulista. Como não deseja ser nem prefeito, nem governador, nem sequer vereador em São Paulo, para ele faz pouca diferença a importância que dão ao comando do estado os antigos integrantes da cúpula petista.

Na verdade, ele partilha da interpretação de que é São Paulo que atrapalha entendimentos políticos mais amplos, especialmente com o PSDB. O primeiro a tentar preencher o vácuo foi Tarso Genro, quando presidiu o PT. Sentiu na pele a reação de José Dirceu e o peso que ele ainda tem na estrutura interna do partido. Agora, as eleições colocam na linha de frente da despaulistização nomes como Jaques Wagner, Marcelo Deda e Jorge Viana.

As reações do PT exigindo de Lula espaço no governo e na estrutura de poder são, então, a parte que aflora de duas brigas que acontecem nos bastidores. A primeira é a disputa interna pelo comando do próprio partido, sobre quem ascende ao primeiro time do projeto petista de poder. E a segunda disputa é entre projetos de poder mesmo.

Quando percebeu que a única tática que poderia lhe garantir a sobrevivência quando estouraram os escândalos era isolar no PT a raiz e a autoria de tudo, Lula estabeleceu que…”


SE DESEJAR ler a íntegra do artigo, pode fazê-lo acessando a página do “Congresso em Foco”, no endereço http://www.congressoemfoco.com.br/Noticia.aspx?id=12466.

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