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Mídia. O debate que não termina. O que é bom

Nunca, como agora, se discutiu tanto a participação da mídia na vida nacional. Especialmente, claro, a atuação dos grandes grupos que, objetivamente, mantêm real oligopólio do setor. E, portanto, influenciam sobremaneira nas decisões dos brasileiros.

Digo “influenciam” (o que já é muito, de fato) porque formar a opinião pública (tema que tratei na tarde de terça-feira, com alunos de Letras, Pedagogia e Artes Visuais, do professor Cláudio Dutra, no campus da UFSM) eles já não conseguem mais. Tentam, oh se tentam, mas não logram êxito.

O exemplo mais recente de tentativa de fazer a opinião pública rezar a cartilha elaborada pelos grandes grupos foi a eleição presidencial. O tema já foi tratado aqui. Mas não custa retomá-lo, a partir do artigo do jornalista, formado em Santa Maria, Marcos Rolim, publicado no domingo no jornal Zero Hora.

É verdade que Rolim não toca em assuntos fundamentais, como a oligopolização de que falei no primeiro parágrafo. E nem era, imagino, sua intenção, neste momento. Mas vai fundo, e bem, na análise do que ocorreu no período pré-eleitoral passado. E conclui, como outros pensadores que já publicaram sobre a questão, que, de fato, a mídia perdeu a eleição.

E o jornalista (e ex-deputado estadual e federal, pelo PT) diz isso, com todas as letras, no próprio título. Leia você mesmo:

”A mídia perdeu as eleições

Há um interessante debate no país sobre a conduta da mídia nas últimas eleições que, infelizmente, ainda não mereceu a atenção de muitos veículos de comunicação. Compreende-se. Certos grupos podem oferecer destaque a qualquer assunto, por mais irrelevante que seja, mas não julgam pertinente debater seus próprios compromissos ou condutas.

O Observatório Brasileiro de Mídia realizou estudo sobre a posição de 14 colunistas, de cinco entre os mais importantes jornais brasileiros: Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo, Jornal do Brasil e Correio Braziliense, quanto aos quatro principais candidatos à Presidência, apontando que o número de menções negativas a Lula foi quase quatro vezes superior às menções críticas para Geraldo Alckmin. Merval Pereira e Miriam Leitão, ambos da Globo, foram os recordistas nas críticas a Lula e, ao mesmo tempo, os que mais isentaram Alckmin.

A Globo, aliás, arquivou reportagens sobre o envolvimento de tucanos com a máfia dos sanguessugas e só foi superada no quesito parcialidade pela fábrica de maldades em que se transformou a (ex) revista Veja. Alguns dos melhores jornalistas brasileiros, como Luis Nassif e Paulo Henrique Amorim, têm insistido nesta crítica. Nassif publicou em seu blog um texto cujo título é “Réquiem do jornalismo”; enquanto Amorim escreveu em seu site “Conversa afiada” artigo em que condena o que chamou de “golpe de Estado que levou a eleição para o segundo turno”.

A conduta da imprensa brasileira ao longo de toda a campanha não considerou importante avaliar até que ponto o candidato Alckmin, por exemplo, poderia sustentar a idéia de um “Brasil decente”. Se a ética política foi um tema central no debate eleitoral e se Lula tinha muitas explicações a oferecer neste ponto, tudo se passou como se Alckmin estivesse imune às demandas por moralidade e fosse, implicitamente, uma resposta a elas. O resultado foi que a classe média ouviu uma história pela metade. Por isso, a interpretação dos resultados eleitorais que deram a Lula uma votação consagradora foram, quase que naturalmente, associados à ignorância e ao clientelismo. O fenômeno, entretanto, é bem mais complexo.

Cito, neste particular, a opinião do diretor do Vox Populi, Marcos Coimbra, que disse: “(…) Ganhou o voto de quem se sentiu satisfeito com o que está vivendo e convencido de que os pecados de Lula e do PT só serão resolvidos quando todo o sistema político mudar. Ganhou, portanto, um voto concreto e informado, o inverso do que imaginam alguns analistas, que mais tendem a repetir estereótipos que a criticá-los” (…). “Tenho acompanhado a eleição desde muito cedo e com diversos instrumentos de pesquisa. É, para mim, muito claro que foram os eleitores de “classe média”, de maior escolaridade e renda, muitos vivendo em cidades grandes e modernas, os que mais tenderam a ser ‘manipulados’. Foram eles os que mais se revelaram propensos a votar segundo a informação recebida, de maneira acrítica e, muitas vezes, superficial. Ou seja, cada vez que alguém se inflamava contra a ignorância dos pobres, dirigia mal suas baterias”.

Nesta discussão, não seria demais lembrar Paulo Virilio, para quem a mídia contemporânea é o único poder que tem a prerrogativa de editar suas próprias leis, ao mesmo tempo em que sustenta a pretensão de não se submeter a nenhuma outra. Tudo se passa, então, como se a crítica à imprensa fosse, em si mesma, um “atentado à liberdade de expressão”. Algo que o filósofo resume com uma única palavra: cinismo. A mesma conduta, aliás, dos que hoje silenciam sobre a absurda condenação de Emir Sader. (A propósito, os que não sabem sobre o que ocorreu com Sader, podem encontrar informações em http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirSecao&id_secao=13).

Enfim, para futuras eleições, será que a mídia (impressa e eletrônica) adotará comportamento verdadeiramente jornalístico, de modo a extrair dos candidatos o sumo do que efetivamente tenham para apresentar como programa de governo? Ou ainda estaremos, para sempre, condenados a votos oriundos de “crenças”, “simpatias”, “rancores”, “assistencialismos”, “promessas vãs”, “elite vs. povo”, “direita vs. esquerda” e outros clichês que mobilizam “torcedores” e potencializam a “cegueira” de parte a parte, fazendo da escolha verdadeiro “arrastão”?…”


SE DESEJAR ler a íntegra do artigo, pode fazê-lo acessando a página do jornal na internet, no endereço http://www.clicrbs.com.br/jornais/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&edition=6719&template=&start=1&section=Artigos&source=Busca%2Ca1343790.xml&channel=9&id=&titanterior=&content=&menu=23&themeid=&sectionid=&suppid=&fromdate=&todate=&modovisual=.

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