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Mídia. Imprensa (especialmente a grandona) parece não aprender. Agora, vítima foi uma mãe

Este tem sido um espaço ocupado, também, para refletir o comportamento da mídia. Especialmente a grandona, aquela que acha que manda. Já foi assim no período pré e imediatamente pós-eleitoral. E será permanentemente. Não sou corporativista – e tenho deixado isso muito claro em todos os espaços que ocupo. Entendo que a tal objetividade da imprensa é uma balela, uma conversa-mole. E prefiro, inclusive, os veículos de comunicação que deixam bem claro o que pensam, sem prejuízo à cobertura correta do que for fato.

Lamentavelmente, o caso da “Escola-Base” (quando vários veículos de comunicação, sem o mínimo pudor, foram na conversa de um delegado – que depois voltou atrás – e provocaram o desmanche de uma família, o que faz com que muitos tenham que pagar gordas indenizações que não resolvem o drama das pessoas) parece não ter sido aprendido.

Quase diariamente se percebem absurdos nos veículos, notadamente nos grandões, aqueles que acham que podem tudo. E o pior é que podem o suficiente para acabar com vida e a reputação de não poucos. O caso da moça que teria matado a filha com cocaína (que chegou a ser chamada de “o monstro da mamadeira”) é apenas o mais recente. E é sobre ele, e outras questões envolvendo a atuação dos veículos de comunicação, o artigo do veterano jornalista Carlos Brickmann, que escreve uma coluna no site especializado “Observatório da Imprensa”. Vale a pena ler. E nem precisa (aliás, é interessante que não seja) ser jornalista. Acompanhe:

ASSASSINATO DE REPUTAÇÕES
Palavra que fere, palavra que mata


Aconteceu de novo: uma moça, Daniele Toledo do Prado, de Taubaté, detida pela acusação de matar seu bebê por overdose de cocaína, foi estripada pela imprensa, que mais uma vez aceitou como verdade aquilo que não passava de uma suspeita da polícia. Devido ao noticiário, que a tratou como Monstro da Mamadeira, a moça foi espancada por 19 presidiárias na Cadeia de Pindamonhangaba e teve o maxilar quebrado. Por pouco não foi morta.

Só que, concluído o laudo, verificou-se que não havia cocaína no bebê. A história toda era uma invenção. A imprensa está noticiando o caso em detalhes – todos os detalhes, menos um: a cumplicidade da própria imprensa na destruição da vida da jovem mãe. O principal jornal da região publicou, pouco mais de um mês atrás, frases como “a mulher foi presa domingo depois que sua filha morreu, às 10h40, após uma parada cárdio-respiratória provocada por overdose de cocaína”. Um portal de internet abriu com “Mãe que deu cocaína à filha deixa o hospital e é isolada”. Um dos maiores portais do país quase justificou a atitude das presas que espancaram a moça, “revoltadas com a brutalidade do crime”.

E como a imprensa está tratando seu próprio papel neste crime? Boa parte dos veículos de comunicação – excetue-se o ombudsman da Folha de S.Paulo, Marcelo Beraba, jornalista de primeiro time, que entrou fundo no caso – finge que não tem nada com isso: apenas informa que houve equívoco, bota a culpa na polícia e numa médica chamada Eryka, cujo sobrenome não é divulgado, e se cala sobre o noticiário cúmplice que publicou.

Um gigantesco portal de internet foi mais longe: seu título original foi “Mãe mata bebê com cocaína na mamadeira e é indiciada”. Na quarta-feira (6/12), comprovada a inocência da mãe, discretamente mudaram o título antigo para “Mãe suspeita de matar bebê com cocaína é indiciada”. É a prova da culpa: tentam reescrever a História. Colocaram o título correto só depois que o mal já estava feito.

As impressões digitais

O problema, em nossa época de computação, é que os leitores-internautas têm recursos para documentar a falta de caráter – pois o mínimo que os veículos de comunicação deveriam fazer seria reconhecer o erro e tentar desculpar-se. Nem isso fizeram. O atento leitor Marnei Fernando, de Goiânia, registrou as mudanças passo a passo. Não foi o único: veja, neste Observatório da Imprensa, os comentários à coluna Circo da Notícia da edição anterior.

Para nós, jornalistas, que vergonha!

Repetindo a nojeira

Na última coluna, relembrávamos o caso da Escola Base. Não adiantou a reflexão, não adiantaram as sentenças judiciais, não adiantou nada: alguns jornalistas amestrados continuam a se ajoelhar diante das “otoridades” e a render-lhes homenagens – em vez de, na boa tradição jornalística, duvidar do que dizem, investigá-los e saber se estão ou não falando a verdade. Autoridade também mente!

Na pior das hipóteses, caso os jornalistas não queiram mesmo se envolver com essa coisa desagradável que é trabalhar, brigar com doutores e excelências, lutar para encontrar a verdade, há o recurso de atribuir a versão a quem a declara. “O delegado disse que (…)”, “na opinião do promotor, o que aconteceu foi o seguinte (…)”, “o governador acha que (…)”. Jamais, como se fez, publicar uma opinião como se fosse fato, exclusivamente por ser a opinião de uma autoridade. E, naturalmente, ouvir a vítima dos ataques. No caso, a moça só foi ouvida depois que a própria polícia reconheceu o erro e a libertou.

Desafiando os ilustres

Detalhe importante: na semana anterior à morte do bebê, a mãe registrou queixa de estupro contra um médico-residente do hospital. Terá sua ousadia, de acusar um futuro-doutor, algo a ver com a tragédia que se abateu sobre ela, com a participação intensa das autoridades e da imprensa?

A pergunta que não se fez

Uma dúvida que deveria ter levado os jornalistas a desconfiar do caso: por que matar um bebê com cocaína, que é cara e deixa traços? Se a mãe fosse viciada, por que desperdiçaria cocaína com o bebê, em vez de cheirá-la?

Isso lembra outra história ridícula em que a imprensa esteve envolvida, quando uma grande fábrica de confeitos foi acusada de colocar cocaína nas balas vendidas à porta das escolas. E para que a indústria faria isso? Se os estudantes se viciassem em cocaína, quem…


SE DESEJAR ler a íntegra do artigo de Carlos Brickmann, pode fazê-lo acessando a página do “Observatório da Imprensa”, no endereço http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=411CIR001.

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