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Yeda x Feijó. O que está por trás do confronto não é nem um pouco uma questão partidária

Até aqui, vamos combinar, o que se percebe no noticiário das divergências, que tem de inédito apenas a publicidade que delas se faz, entre a governadora Yeda Crusius e o vice Paulo Feijó, é só uma suposta disputa política por espaços. E aí, ao distinto público, informa-se que o PFL de Feijó, embora possa parecer inusitado, é relegado a último plano, e está na oposição. E por uma singela razão: quem manda, de fato, não é o vice, mas a governadora. E ponto.

Aliás, ponto e vírgula: a própria Yeda, entrevistada no “Canal Livre”, da TV Cultura e transmitido nacionalmente, colocou os pefelistas, notoriamente conservadores, ao lado dos capetas (a palavra é minha) petistas, nos embates parlamentares. O que confina a discussão a uma questão meramente numérica, ou uma disputa entre partidos, no qual o PFL é um mero risco no mapa do poder. Embora tenha participado da campanha e cedido o segundo (e agora ignorado) posto na chapa.

Quem primeiro põe os pingos nos ”is” não é um jornalista. Menos ainda um comentarista político com espaço na grande mídia gaúcha. O autor da façanha é um cientista político. Bruno Lima Rocha vai para bem mais adiante da mera guerra político-partidária. Antes, explica quem apóia quem, nesse imbróglio que eventualmente pode parecer (e até é, cá entre nós) chato, mas é, de fato, um elemento desestabilizador não apenas do governo de Yeda, senão que de todo o processo político-ideológico que move um projeto de poder.

Honestamente, não sei se concordo com Lima Rocha. E olha que ele não toca num outro tema, ao qual em algum momento voltarei: um esboço de projeto político-pessoal nacional da governadora. Mas não lhe tiro o mérito de suscitar, até que enfim, uma discussão para vários centímetros acima do raso chão do noticiário quotidiano. Vale a pena ler. A seguir:

”O vice-governador está na oposição

Mal baixou a poeira da derrota de seu projeto econômico na Assembléia e a governadora Yeda Crusius voltou à carga. Na noite do domingo passado, durante o programa Canal Livre da TV Bandeirantes, o país pode conhecer o affaire Yeda contra Feijó. Ou, para uma análise um pouco mais fina, a disputa pelo controle do Estado no interior de um mesmo governo.

Mesmo com ares de novidade, o Rio Grande do Sul se vê diante de um brete. Dentro do Piratini, estaria representado o campo da política, com seus cálculos mais sofisticados, intentando marcar uma gestão estruturante. Isto como elemento de discurso. No Palacinho do vice-governador, o outro lado dos poderes de fato do RS. A todo o momento fazendo força para desmerecer os entes estatais, se encontra o jovem líder empresarial indicado como vice-governador na chapa apoiada pelo sistema F (Fiergs-Fecomércio-Federasul-Farsul).

O apoio foi implícito no 1º turno, ainda dividindo votos e dividendos com o recalcitrante Rigotto. O dentista caxiense por sinal, concorreu aliado de Sônia Santos indicada pela legenda de Sérgio Zambiasi (PTB/RS). Nunca é demais lembrar que o senador radialista cumpriu fielmente o pacto de alianças. Apoiara o governo Lula no Planalto e o co-governo do PMDB/RS no pago. Com uma candidatura dúbia, estando o próprio Rigotto muito próximo de Lula nos dois primeiros anos de governo, a confiança estava abalada.

Eis que o empresariado decide concorrer com candidatura própria apoiando um racha forçado dentro dos tucanos gaúchos. Jamais imaginara que estaria na oposição com menos de dois meses de governo. Yeda tampouco imaginou ser alvo de aliança tão insólita. Na política, do PFL junto com a Frente Popular. No campo econômico, no pacto de classes, quando CUT e Força Sindical marcharam ao lado da patronal para brecar o pacote formulado por Carlos Crusius, Aod Cunha e seu time de confiança.

Qualquer análise realista, indo além das fantasias neo-institucionais, deve levar em conta o conjunto de agentes e fatores e indicar qual a determinância. Compreendendo que a geração de fatos midiáticos é uma das trincheiras permanentes das disputas de corredores, a coisa está pior do que aparenta. Yeda, ao vivo e em rede nacional, fez transparecer a incômoda posição do PFL, especificamente a do vice-governador Paulo Afonso Feijó.

Este é um recado direto aos aliados estratégicos durante os oito anos de governo Fernando Henrique. Sendo um partido fraco no estado e a governadora está contra a parede. Acuada entre os financiadores de sua campanha, as corporações da elite do Estado (em especial o Judiciário e o MP) e os aliados pouco ou nada orgânicos, o Núcleo Duro apelou. De forma discreta, se disse imbuída de um mandato com programa, delegado pela autoridade maior, a do voto nas urnas. Para arrasar de vez, associou a fala de Feijó com a do deputado estadual Adão Villaverde, fiel escudeiro de Tarso Genro. Segundo a professora de economia da UFRGS, a oposição tem na vanguarda o PFL e o PT.

Feijó contra-atacou no dia seguinte e não mandou recado. Tornou a referir-se ao “bando de burocratas” que controla o Estado e impede o “desenvolvimento das forças produtivas”. Entrou em uma arena delicada, onde todos os envolvidos têm telhado de vidro. Na busca por uma maior fundamentação para a gritaria empresarial, teve gente…”


SE DESEJAR ler a íntegra deste artigo, pode fazê-lo acessando a página do jornalista na Ricardo Noblat na internet, no endereço http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?cod_Post=46118.

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