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Memória (10). Paulo Pimenta destaca posições corajosas de Dom Ivo durante a ditadura

Você também pode participar. Envie comentários (e até artigos, se assim desejar) sobre Dom Ivo Lorscheister, enterrado agora há pouco na cripta da Basílica da Medianeira. Ele morreu ontem, às 4 da tarde, em função de falência múltipla dos órgãos, decorrente de um quadro de septicemia. Ele estava internado há nove dias no Hospital de Caridade.

 

A seguir, publico artigo especial do deputado federal Paulo Pimenta (PT). Ele escreve, especialmente, sobre a importância da atuação de Dom Ivo em um período particularmente complicado da vida brasileira – em que o país esteve dominado por uma ditadura, especialmente à época em que comando estava com o general (com o bispo, gaúcho) Médici. Confira:

 

Um cristão não pode ter medo

 

Paulo Pimenta

Deputado Federal

 

Um ministro do evangelho não pede licença, nem desculpas, nem tem medo. Esse pensamento, expresso por ele próprio, sintetiza a personalidade de Dom Ivo Lorscheiter, natural de São José do Hortêncio, então distrito de São Sebastião do Caí. A voz fragilizada dos últimos anos devido à doença não foi suficiente para apagar da memória dos brasileiros, e dos gaúchos em especial, do papel cumprido como secretário-geral da CNBB, de 1971 a 1979, e presidente da entidade de 1979 a 1987, precisamente nos períodos mais duros do regime militar.  

 

Dom Ivo, que esteve à frente da diocese de Santa Maria (RS) durante três décadas (1974 a 2004), com o apoio de personalidades como seu primo, Dom Aloisio Lorscheiter e Dom Hélder Câmara, entre outros, se destacou pela coragem de questionar e criticar a conduta dos militares que comandavam o país. Em entrevista à Folha de São Paulo do dia 24 de novembro de 2002, Dom Ivo dá exemplos do que era “não ter medo”. Convidado pelo cardeal de Porto Alegre, Dom Vicente Scherer, a fazer uma visita ao então Presidente da República, Emilio Garrastazu Médici, também natural do RS, aceitou. Foi na visita que Dom Ivo teve a oportunidade de travar um diálogo memorável.

 

Incomodado com as críticas públicas da Confederação Nacional dos Bispos, o presidente Médici, no relato do bispo de Santa Maria, disse “(eu) vou pedir a vocês da CNBB que moderem as críticas ao governo. Por que se vocês não moderarem, nós vamos ter de mudar de posição. Eu, presidente, vou começar a dar catequese até que vocês mudem de posição e nos deixem fazer a nossa parte”.

 

A resposta de Dom Ivo foi de bate pronto: “Senhor presidente, nós não vamos mudar a nossa posição. Nós não criticamos vocês por aspectos técnicos, mas por aspectos éticos. Vocês fazem coisas moralmente injustas. Agora, se por isso o senhor começar a dar catequese, nós vamos ficar muito contentes, porque este não é um trabalho só dos bispos, é dos leigos. O senhor tem uma família, tem netos, será uma coisa boa começar a dar catequese. Nós não vamos ficar bravos, vamos até lhe aplaudir”. Depois dessa resposta, o general ficou em silêncio.

 

Assim era Dom José Ivo Lorscheiter, oriundo de uma família humilde de descendentes de alemães, cujo sobrenome deveria ter grafia usada com a letra “d”, mas que por provável erro do cartório de registros à época do nascimento, acabou tendo o nome grafado com a letra “t”. Dom Ivo foi um modelo dentro e fora do Brasil, lutando pelo cumprimento dos direitos humanos, contra a tortura e a perseguição política.

 

Todos nós, que militamos na esquerda, e que iniciamos uma trajetória política, seja nos anos 70 ou nos 80, tivemos a influência desse grande ser humano e hoje nos sentimos um pouco órfãos. Todavia, consola-nos o fato de que os ideais de justiça e fraternidade de Dom Ivo continuam mais vivos do que nunca.

 

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