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CRÔNICA. Orlando Fonseca, o clima e o governo de Jair Bolsonaro: uma analogia com previsão de tempo

Previsões do tempo

Por ORLANDO FONSECA (*)

Já estamos na primeira semana do segundo semestre. Além do inverno que ameaça, mas não se mostra como deveria, o país também não dá mostras de que vai entrar nos eixos. Segundo meteorologistas, o comportamento instável da estação se deve aos humores do El Niño, o qual neste ano não será pleno, mas que, mesmo assim deverá influenciar o tempo.

Já, quanto à conjuntura, a expectativa gerada com a mudança de governo parece que se vai ruindo, diante da falta de projetos consistentes para que o Brasil retome o crescimento. Os próprios ministros envolvidos com o projeto já afirmaram, secundados por economistas de todo matiz, a reforma da Previdência, por si só, não vai trazer recuperação financeira e social.

Eu ousaria dizer – assim como ainda não consegui tirar o sobretudo do guarda-roupa para me precaver das baixas temperaturas – que é melhor tirar o cavalinho da chuva, porque, a depender de Brasília, não há previsões de ventos favoráveis a esta nau desgovernada.

As mudanças climáticas têm sido tema de debates e programas governamentais pelo mundo afora. Ainda que o presidente americano e seus eleitores não acreditem, ainda que seu genérico brasileiro também ratifique e a cúpula chinesa se fazendo de galinha morta, a ação do ser humano, na busca por riqueza imediata, tem feito com que o clima reaja ao uso indiscriminado de poluentes.

Os resíduos desta insensata produção de divisas, com um desenvolvimento baseado na matriz energética da queima de combustíveis fósseis, compromete a estabilidade do ambiente. A Europa registrou, esta semana, temperaturas de 45°.

Por outro lado, o presidente brasileiro – dentre as muitas bizarrices produzidas no encontro do G20 – só assinou o acordo do Mercosul depois de voltar atrás em sua posição de deixar o acordo de Paris para o clima, por pressão do governo francês. Logo, o inverno destemperado é o menor dos problemas que temos a enfrentar no momento.

Em seis meses, ainda estamos a nos perguntar: qual é a agenda do governo federal para a recuperação econômica e social do Brasil? O que se percebe, na opinião de parlamentares e cientistas políticos, é uma constante tensão entre o Planalto e o Congresso.

O presidente já é campeão na edição de decretos, como os recentes, usados para regular o acesso às armas de fogo. Foram derrubados pelos senadores, e em breve o STF já deu mostras de que vai considerar a constitucionalidade das medidas presidenciais.

Não é por outra razão que a expectativa frustrada de uma maioria que lhe deu a vitória eleitoral vai-se diluindo. A pesquisa CNI/Ibope, divulgada semana passada, registrou o pior desempenho de Bolsonaro desde o início do mandato presidencial. Nos últimos dois meses, ele viu subir de 40% para 48% a parcela que desaprova a maneira de o presidente governar, e de 45% para 51% os que não confiam nele.

Ele se elegeu com o bordão de acabar com a “velha política”, ou seja, o desvio de recursos públicos em troca de votos no Parlamento. Reportagem da Folha, semana passada, dá conta que o congressista que apoiar o governo na comissão especial da Câmara sobre reforma da Previdência terá R$ 10 milhões a mais em emendas e outros R$ 10 milhões extras no plenário.

O que se vê é uma escassez de políticas públicas, motivada pela constante troca de cargos nos Ministérios; uma batalha ideológica, sem noção, também foi motivo para trocas em outros postos-chave, BNDES, Apex e Inep, órgão responsável pelo Enem.

O Ministério da Educação só tem feito agravar as condições do ensino no país. Em meio a bizarrices do seu titular, não se viu até agora uma proposta concreta para superar problemas como analfabetismo, evasão escolar e indicadores baixos de qualidade do ensino.

Isso que uma bomba está para explodir: o Fundeb vence em 2020, e não se vê movimento no sentido de apresentar algo que substitua ou prorrogue o Fundo, que tem sido a salvação das Prefeituras, encarregadas do ensino básico.

Pelo que se vê, o inverno pode não ser tão rigoroso, mas na conjuntura há indícios de chuvas, trovoadas, granizo, tornado e ventos de todos os quadrantes.

(*) ORLANDO FONSECA é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.

OBSERVAÇÃO: a imagem que ilustra esta crônica é uma reprodução da internet (Pxhere.com)

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2 Comentários

  1. O artigo é brilhante. Parabéns! A analogia do Bolsonaro é perfeita. Vi um novo coletor de lixo, que me chamou a atenção, muito criativo. Ele era laranja, estava escrito CHÃO. Gênio quem bolou, este coletor, é também filosófico. Profundoooo. O cenário que enxergo, é daquelas (mariposinhas) insetos da luz. Como chateiam, batem nos nervos de qualquer pessoa. A lâmpada apagada, algum conseguem escapar, mas a maioria jazem no chão. Este governo, só vê luzes, não atina para as trevas, nem ele e nem seu ministério, em especial o juiz Moro que empaturrou-se do seu próprio heroísmo, Dói. Isto vai doer muito nele… com o tempo resolve, mas ele vai sofrer de dolorosas constipações.

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