Debate. Mídia grandona virou partido político. Se for, no caso Renan, teve uma grande derrota
Há muita discussão sobre a influência da mídia grandona sobre a política brasileira. Muita mesma. Há quem a entenda como um grande partido político. E dos conservadores. Mais: exista quem a imagina interessada num golpe de Estado. Não chego a tanto.
Minha discordância, e isso vale para todas as mídias, é com o fato dela não assumir suas idéias, preferindo uma hipócrita, e pra lá de falsa, posição de defensora da verdade. Que verdade, cára pálida? A dela, obviamente.
Ser contra ou a favor de qualquer governo, não é problema. Todos são, de uma ou outra maneira. Desde que respeitado o fato. E que ele não seja negado. Ou, pior, retocado. Quando não subvertido. Tudo em nome de uma idéia. A dela. E ponto.
Dito isto, gosto quando um Estado de São Paulo (em 2002) assume que defende a candidatura José Serra. Mas tenho pavor do mesmo jornal que, quatro anos depois, defendia Geraldo Alckmin, e fazia de tudo por ele, em suas páginas. E não assumiu.
Assim como gosto da revista Carta Capital, que tem restrições a Lula, especialmente à sua política econômica. E não esconde isso. Mas defendeu o nome dele em 2002 e 2006. Sem que isso prejudicasse a cobertura correta dos fatos.
Pois, agora, não faltam órgãos da mídia grandona que beiram a venalidade, quando não a ultrapassam. É o caso, pelo menos, da revista Veja (da Editora Abril, que perdeu um contrato de R$ 125 milhões/ano, porque Lula resolveu abrir para mais empresas o fornecimento de material escolar). E de outros grandões (e alguns que se acham).
A Veja é a mesma que disse o que disse de Dom Ivo Lorscheister. E recebeu centenas de manifestações corrigindo as informações facciosas que publicou. Mas editou apenas uma – de um notório fascista e dedo-duro (na época da ditadura) santa-mariense, que a apoiou. Isso é exemplo prático de como se trata a verdade.
Dito isto, vou reproduzir a seguir dois textos de jornalistas. Um, de Cláudio Humberto Rosa e Silva, relatando encontro de figuras públicas num restaurante de Brasília. Outra, do veterano e respeitado Carlos Chagas, comentarista do SBT e da rádio Jovem Pan. Ambos têm como pano de fundo a sessão que julgou Renan Calheiros. Mas tratam, muito, sobre a questão da imprensa. Ah, para constar: se fosse senador, este (nem sempre) humilde repórter votaria pela cassação. Mas não por que a mídia grandona queria. É só uma questão de consciência. Que ela não tem.
Confira os textos de Humberto e Chagas, a seguir.
CLÁUDIO HUMBERTO:
Quem manda
O deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), que já enfrentou seu calvário em uma cassação de mandato, almoçou ontem com o ex-deputado e ex-ministro Luiz Roberto Ponte no restaurante Piantella, em Brasília. O papo, claro, era a cassação do senador Renan Calheiros. Ibsen observou:
– Pois é, meu caro, a gente ainda vai ter concurso para parlamentar e eleição para editores [jornalistas]. São eles que governam o País…
CARLOS CHAGAS
O choro dos vencidos
Regra centenária na imprensa é de que não devemos brigar com a notícia. Nos tempos atuais, porém, trata-se de norma fartamente esquecida. Não raro o jornalista e o dono do jornal insurgem-se contra os fatos, transcendendo das lamentações e críticas muitas vezes justas para um choro que seria cômico se não fosse trágico. Porque poder lamentar e criticar atos e fatos acontecidos é da essência da democracia. Mas negar o que se passou fica apenas ridículo.
O Senado absolveu Renan Calheiros. Essa é a noticia, aberta a reparos e condenações posteriores, mas jamais sujeita a negativas de sua própria natureza. Torna-se perfeitamente lícito que parte da mídia verbere a decisão dos senadores, mas parece infantil a saraivada de vitupérios sobre eles e contra a instituição. Melhor seria que provassem o erro da absolvição, se conseguissem.
O que não dá para aceitar é ver os senadores chamados de covardes, mortos-vivos, traidores e sucedâneos por conta do voto exarado. A crítica tornou-se pranto dos derrotados, especialmente daqueles que até no dia da votação divulgavam informações erradas e distorcidas quanto ao seu resultado.
Um pouco de humildade não faria mal a ninguém, em especial por parte dos que imaginam a opinião pública como sendo a opinião publicada. E, pior ainda, a sua opinião, tanto faz se pessoal ou de grupos. A consequência aí está: desmoralização para quantos se imaginaram donos da verdade absoluta, aquela que não admitia alternativas mas terminou desmentida.
SUGESTÕES DE LEITURA – confira aqui, se desejar, outras notas publicadas pelo jornalista Cláudio Humberto.
Vale a pena ler também, pode acreditar, o texto Renan: a maior derrota da imprensa, de Paulo Henrique Amorim, da TV Record e editor do site Conversa Afiada.
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