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Mídia. Ter o melhor advogado é fantástico. Desde que, claro, esteja defendendo meu interesse

Ando cada vez mais preocupado com a qualidade do que leio e ouço na mídia. E aquí não se trata da grandona, nem da que se acha. Mas de toda. Inclusive aqui, na nossa boca do monte. Vale tudo – desde que seja a meu favor. Parece ser isso o que move o “jornalismo”.

 

Ok, ok, ok. Estou num dia ruim, dirá você. Pode ser. Então, não leia a mim nem me ouça. Confira apenas o que escreve, na coluna “Circo da Notícia”, o experimentado (e insuspeito, digamos assim) jornalista Carlos Brickmann, que já trabalhou em todos os grandes veículos brasileiros. Ah, o texto semanal é publicado originalmente no site especializado Observatório da Imprensa. A seguir:

 

“Acusação & Defesa – prender é bom, soltar é ruim

Está num grande jornal, num artigo com excelente assinatura. Diz algo como “fica livre quem tem advogados pagos a peso de ouro”. A frase se repete, com algumas variações, como “quem tem bons advogados não vai para a cadeia”.

Como dizia Octavio Frias de Oliveira, a vantagem de ter idade é ter visto tudo acontecer, e também acontecer ao contrário. Não faz muito tempo assim, alguns jornalistas hoje indignados com os bons advogados tinham outra opinião: quando os delegados e promotores obedientes à ditadura militar iam atrás deles, corriam para obter o apoio dos bons advogados, que freqüentemente os defendiam de graça – e numa época em que o direito de defesa não era contestado pela imprensa, como hoje, mas por militares e policiais convencidos de que eliminar subversivos era sua função. Aliás, mesmo hoje, quando enfrentam processos, os jornais e jornalistas buscam o apoio de bons advogados, gente de primeiro time.

O problema é que, como dizia a líder revolucionária européia Rosa Luxemburgo, liberdade é a liberdade dos outros. E boa parte de nossa imprensa, embora preze a própria liberdade e busque os melhores e mais conceituados profissionais para defendê-la, vem apresentando o viés de condenar a liberdade dos outros.

Ao mesmo tempo, condenam-se os advogados que teimam em contestar a versão dos promotores, dos delegados e – suprema heresia! – da imprensa. Não dá: a verdade é que a imprensa não é a suprema instância, a verdade é que o jornalista não é juiz nem ministro do Supremo. A imprensa pode, deve, precisa investigar os casos a fundo, apresentar suas provas, contestar a defesa; mas não apenas a defesa, também a acusação.

É sempre bom lembrar, a propósito, que qualquer pessoa de bom senso irá optar pelo melhor médico possível. Um bom jornal só se faz com bons jornalistas, os melhores que for possível contratar. Um bom restaurante depende de bons cozinheiros. Se forem pagos a peso de ouro, melhor. Seremos nós, jornalistas, inimigos dos bons salários?…”

EM TEMPO: Para quem não sabe, o Octávio Frias a que se refere o autor do texto, morreu há dois meses e era o proprietário da empresa que publica os jornais Folha de São Paulo e Agora, da capital paulista. Ah, ele tinha mais de 90 anos.

 

SUGESTÃO DE LEITURAconfira aqui a íntegra da coluna “Circo da Notícia”, de Carlos Brickmann, no Observatório da Imprensa.

 

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