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Unanimidade. No ímpeto da manada, mídia grandona (e a que se acha) nem sabe quem é Ali Babá

A mídia grandona (e a que se acha) é o grande Judiciário brasileiro. Denuncia, faz o inquérito, destrincha o processo e, claro, condena. Absolver? Ora, isso não é função de jornalista. A não ser no Brasil, claro, em que dono de jornal é “jornalista” – não raro com a adesão incondicional do próprio profissional.

 

Mas a mídia grandona (e a que se acha) às vezes é também burra, além de inquisidora (no sentido religioso do termo). E não conhece sequer as histórias das mil e uma noites, como mostra, com brilhantismo, o jornalista (este sim, da maior qualidade) Carlos Brickmann, em sua coluna “Circo da Notícia”, no Observatório da Imprensa.

 

Pra quem não sabe, Brickmann, que passou por todas as maiores redações brasileiras, e que conhece a mídia grandona como poucos, e por dentro, hoje faz consultoria. Inclusive para políticos. E, para mostrar sua insuspeição (no que toca ao que escreve), um de seus clientes já foi Paulo Maluf, quando este governava São Paulo.

 

Mas confira, você mesmo, o que ele escreve esta semana. Ainda que devessem, os representantes da MG não ficam nem corados. A seguir:

“JULGAMENTO DO STF
Síndrome de manada assalta a imprensa

Unanimidade: a imprensa toda festeja a aceitação, pelo Supremo Tribunal Federal, da denúncia do Ministério Público contra 40 acusados no caso do Mensalão. Tamanha é a alegria que sobram duas certezas para o consumidor de notícias:

1. Os réus já estão condenados;

2. A partir de agora, com a perspectiva de punição de graúdos acusados de corrupção, começa uma nova vida para o país.

Um terceiro grupo, mais radical e mais reduzido, diz que, com a aceitação da denúncia contra os 40, só fica faltando alcançar seu chefe, o barbudo Ali Babá.

Tamanha é a alegria, a alegria é tamanha, que faltou ressaltar no noticiário que os acusados se tornaram réus, mas não foram julgados. E só depois do julgamento poderão ser considerados culpados e receber a punição legal devida.

Mesmo se forem todos condenados, a vida não vai mudar tanto assim. Já tivemos presidente deposto, após nomear o irmão para a chefia de polícia do Rio, na época o cargo mais importante da repressão; já tivemos presidente que, para não ser deposto, suicidou-se. Já tivemos presidente afastado por impeachment, acusado de corrupção, com punições também a seus auxiliares mais próximos. Tivemos a CPI da Corrupção, que emparedou o governo Sarney. Hoje, os integrantes do governo Sarney, incluindo o próprio, e os mais ferozes inquisidores da CPI da Corrupção estão juntos, lado a lado, no apoio ao presidente Lula.

Tanta unanimidade, pois, só se explica por um motivo: a Síndrome de Manada, que assola boa parte do jornalismo brasileiro. O importante não é descobrir novos assuntos, novos ângulos, novos temas: é seguir a pauta da concorrência. E, é claro, assim fica mais fácil para as reportagens trabalharem em pool.

Como dizia Nelson Rodrigues, nunca suficientemente citado, toda unanimidade é burra. Tão burra que nem percebe que Ali Babá não era o chefe da quadrilha dos 40 ladrões. Ali Babá foi quem localizou seu esconderijo e os prendeu…”

 

SUGESTÃO DE LEITURA – confira aqui a íntegra da coluna “Circo da Notícia”, de Carlos Brickmann, publicada no Observatório da Imprensa.

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