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CIDADANIA. História de respeito e inclusão – um pouco do muito que se percebe na escola São Carlos

Por AMANDA SOUZA (texto e fotos), Especial para o Site

Em um dos bairros mais violentos da cidade de Santa Maria, há um lugarzinho onde a violência e as notícias do jornal não limitam os sonhos e a experiência humanizada da comunidade. Respeito e valorização da vida permeiam o ensino, o desenvolvimento e a potencialidade de cada uma das crianças que nascem e crescem no bairro Urlância. O lema é: se ame, se respeite, se acarinhe.

A diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental São Carlos, Roselaine Lorenzoni, aponta que os principais problema da escola são de disciplina dos alunos, porque não fazem as atividades escolares, ou querem sair da sala de aula. Algumas brigas entre os alunos acontecem de vez em quando. Porém, nunca houve flagrante de uso drogas ou problemas de violência dentro da escola; os professores estão sempre vigilantes, junto aos diretores, para prevenir.

Além do trabalho incansável da escola, as famílias dos alunos também são presentes, têm preocupações, vão até a escola e falam sobre o desenvolvimento do filho, apesar de que alguns alunos moram só com a mãe ou só com o pai. Os alunos relatam para os professores alguns problemas familiares ou com a comunidade. Quando estão tristes, a diretoria encaminha para os psicólogos, estagiários da Universidade Franciscana, que atendem aos estudantes.

O programa Saúde na Escola, do ESF (Estratégia Saúde da Família), também traz palestras para a escola, sobre saúde, violência, doenças, saúde bucal. Exames de visão também são feitos pelos profissionais para diagnosticar alunos que precisem utilizar óculos de grau. Eles ganham os óculos do governo federal, com o atestado e requerimento da oftalmologista do programa. A escola também recebe assistência do PRAEM e do CAPSI, com assistência psicológica e saúde em geral.

O NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da Família) é uma equipe multidisciplinar, composto por psicólogas, fisioterapeutas, fonoaudiólogo, e pelo CAPES. O programa é uma iniciativa da Secretaria de Saúde que atende às crianças e às famílias uma vez por semana, para ouvir e identificar problemas. O programa Mais Educação ainda não começou este ano na escola; elas estão esperando o retorno do governo.

A diretora Roselaine destaca que é importantíssimo ter o turno integral, com atividades extra-curriculares. “Acho maravilhoso essas atividades além do currículo. Se a escola pudesse ser integral para todos seria excelente, eles estariam na escola sob nossos olhos, teriam lanche, estariam envolvidos com projetos. A escola ideal seria a de turno integral para as periferias, onde a maioria dos pais trabalham e não tem condições de pagar um babá ou de estar com os filhos”, ressalta.

No São Carlos, hoje, há um jornal da escola, coordenado pela professora Lissandra Boessio, e pelos alunos, a rádio-escola, também executada pelos estudantes com orientação da coordenadora do projeto. Lissandra explica que as pautas são escolhidas de acordo com o que é feito na escola, ela tira as fotos e escreve sobre, junto aos alunos. Ou também sobre o que acontece na escola naquele mês, os dias e datas comemorativas.

Alguns alunos escrevem para o jornal, mas a maioria das notícias é escrita pela professora, devido à alfabetização e dificuldades dos alunos. É sempre um grupo de 10 alunos em geral, do turno da manhã, que ela convida, mas como alguns saem da escola, ou faltam muita aula, acaba diminuindo esse número. Algumas desavenças com os pais, com os vizinhos ou de briga entre a comunidade, acabam prejudicando os alunos, que trocam de escola ou faltam às aulas porque os pais querem que eles fiquem em casa. Há outros projetos na escola, como o Chá na escola, em que a professora cultiva os chás com os alunos e explica para que serve cada um e cada planta.

A professora Lissandra também fala sobre as notícias que saem sobre o bairro, de assassinatos, e que essa realidade não acontece muito lá. “Aqui não tem muito perigo, não temos medo dos traficantes, saímos na rua e andamos. É muito tranquilo, nunca tivemos problemas, são coisas bem separadas no bairro, a gente não vê tanta violência quanto é retratada na TV”.

A diretora Roselaine também fala sobre o respeito que os alunos têm com a escola e com as professoras. “Tratamos eles com humanidade, com igualdade, independente da realidade de cada um, tratamos com respeito, com valor, com acolhimento e essa relação é mútua e faz a diferença”, afirma.

Elas valorizam o aluno, o que ele apresenta e o contexto em que ele vive. “O mesmo cuidado que temos com a gente temos de ter com o outro”, afirma a diretora. O tema deste ano na escola é a autoestima: “se ame, se respeite, se acarinhe”. A escola acredita que a autoestima e a humanidade são pontos importantes para trabalhar e que precisam ser mais valorizados na sociedade e nas comunidades.

“A vida deles é fora do que podemos imaginar, o contexto é muito distante do que nós vivemos, problemas financeiros, de estrutura familiar, é muito diferente”, destaca a professora Lissandra. Por isso que o núcleo escolar ouve e compreende o contexto de cada aluno, para respeitar suas potencialidades e suas sensibilidades, sempre trabalhando a valorização, o cuidado e o respeito consigo mesmo e com o outro.

Inclusão e solidariedade
A escola também investe e tem um aporte para receber alunos com deficiência física ou mental. Os alunos especiais contam com o auxílio de profissionais de apoio desde o primeiro dia de aula, esse profissional auxilia na caminhada, no ensino, nas atividades. Há dois alunos autistas hoje na escola, que têm esse auxílio, para não deixar eles sozinhos e ajudar na sala de aula. Um outro aluno, de 15 anos, também necessita de um profissional, ainda não foi diagnosticado com precisão o problema.

A família traz o aluno com o diagnóstico médico e a escola procura o profissional de apoio adequado, que são estagiários, estudantes de graduação, ou de psicologia ou de pedagogia. Os colegas têm muita paciência e acolhem os alunos especiais, segundo a diretora. “Me impressiona como eles acolhem, são carinhosos, com esses alunos”.

A educadora especial é a professora Carmen Costa Carvalho e ajuda em todo esse suporte para cada um dos estudantes. Alguns alunos terminaram seu Ensino Fundamental na escola, um deles é cego e o outro tem paralisia cerebral, sempre com solidariedade dos outros alunos, com o aporte necessário, concluíram tranquilamente o ensino. “Tenho alunos com diferentes tipos de deficiência, intelectual, transtornos autistas, múltiplas (física e intelectual).

O trabalho é focado para que eles tenham acesso ao currículo, ao processo de alfabetização, ele precisa desenvolver a oralidade, ele precisa acompanhar a turma, ficar com o grupo mais próximo de sua idade”, conta Carmen. Alguns não conseguem chegar na quinta-série já sabendo ler, então é trabalhado isso. A escola faz adequações de metodologia, para ver o que esse aluno tem de potencial, de que forma ele pode participar na sala de aula, e atividades de acordo com o nível que ele está. O estudante tem um plano individual, com os objetivos dele, as ênfases para o que ele precisa desenvolver, suas dificuldades e suas potencialidades.

Os profissionais de apoio ajudam os alunos que ainda têm muita dificuldade de locomoção, de alimentação, motora, apoio físico para caminhar. Nesses casos, sem o profissional de apoio fica inviável, não acontece a inclusão. Segundo a professora, seria ideal concurso para profissional de apoio, com formação continuada, pois cada vez mais tem alunos especiais sendo matriculados. Se a rede tivesse já profissionais com formação na área, melhoraria muito o processo de inclusão.

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