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É o Brasil. Como é possível falar em corrupção, se todos cometemos nossa ‘corrupçãozinha’

Já contei aqui a história do vizinho que tentou, através de sondagem feita com gente da minha família, me convencer a permitir um “gato” da minha conexão com a TV por assinatura. E que sequer chegou a mim, porque sou refratário a esse tipo de comportamento. Não porque ache a Net a última bolacha do pacote; simplesmente, é contra meus princípios. Tanto que pago dois pontos da tal TV.

 

Curiosamente, a mesma pessoa que queria fazer essa ligação ilegal (mas pra lá de comum, como constam dos registros) bradava pelos corredores a sua fúria contra a “corrupção desenfreada que toma conta do País”. Vale a mesma pergunta que fiz, então: que moral temos, os cidadãos, para falar em corrupção (que existe e é desenfreada, sim), se nós mesmos somos corruptos?

 

Sei que a tese é polêmica. Sujeita a chuvas e trovoadas. Mas, agora, encontro guarida na excelente (e proba) jornalista Helena Chagas, diretora da sucursal de Brasília do SBT e que também é colunista do Jornal de Brasília. Leia só o que ela escreveu, no Blog dos Blogs (onde é parceira do também jornalista Tales Faria, diretor das sucursais brasilienses do Jornal do Brasil e da Gazeta Mercantil). Confira:

 

“Só os políticos são corruptos?

Na desinteressantíssima rodada do noticiário do fim de semana, algo digno de reflexão: a manchete do Correio Braziliense – “Por que jovens de classe média se tornam pit boys” – e a matéria de O Globo sobre pesquisa da Ogilvy Brasil. É de dois anos atrás, mas mostra que o brasileiro, coletivamente, se declara a favor de atitudes politicamente corretas, mas que, individualmente, não segue essa cartilha e comete uma série de transgressões.

Pois é, juntando lé com lé, cré com cré, vendo em conjunto, acho que as duas matérias nos ajudam a pensar. Sobretudo para reconhecer que não somos uma sociedade de anjos, um povo impoluto, incorruptível, governada por uma cambada de corruptos instalada nos três poderes – como, nos últimos tempos, muitos querem fazer crer. Acho que aí é que está o ponto quando se fala em lassidão moral, perda de valores, etc. Quando se diz que nossos políticos são os mais corruptos do mundo – e que o povo, coitadinho, não merece isso. A lassidão, a perda (ou a falta crônica) de valores, é de toda a sociedade.

Vamos pensar melhor nisso. Na hora em que furo a fila, avanço o sinal, estaciono em local proibido, fumo onde não é permitido… Ou então quando o verdureiro, ou o dono do bar, rouba na conta…Ou quando o coleguinha do seu filho leva o lápis dele para casa e a mãe nem tchuns com o lápis novo que apareceu na mochila do filhinho…Ou então quando o colega um pouco mais velho da faculdade se oferece para fazer o projeto final de alguém – e cobra por isso…Isso para falar apenas nos pequenos delitos do cotidiano. Que são pequenos, mas são delitos. Sou daquelas pessoas que acham que o tamanho do roubo não absolve o ladrão. E também não acho que ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão. Tanto faz roubar R$ 1 como R$ 1 milhão. Mas acho que a maioria não pensa assim – e aí é que está o problema.

Minha gente, é só olhar em volta. Temos um sistema político podre, que favorece a corrupção através do financiamento de campanhas. A política virou, de fato, uma atividade na qual o sujeito enriquece. É simplesmente uma vergonha. Temos ainda enormes deficiências no sistema educacional, o que, aliado à pobreza, gera eleitores pouco esclarecidos, mais vulneráveis ao clientelismo que traz esses políticos para Brasília. Mas eu pergunto: os corruptos são só eles? Nas grandes capitais a gente não vê também eleitor trocando voto por favor? Ou votando de forma apática? Ou apenas de olho em seus interesses pessoais ou corporativistas?

Não podemos esquecer um fato básico, sobretudo na hora em que muita gente arranca os cabelos em desespero porque temos políticos cada vez mais corruptos: basta não votar neles que eles não voltam para cá.

Indo além da corrupção básica de cada dia, um detalhe: para cada crime de corrupção em que é flagrado um corrupto, há por trás um corruptor. E quem são? Quase sempre, aqueles da elite branca e poderosa do país. De quem a mídia fala menos, muito menos do que dos políticos. Mas estão na outra ponta da corrupção, e enquanto estiverem lá ela também não acaba.

Então, com toda a franqueza, acho que cada um tem que fazer a sua parte. Continuar cobrando honestidade dos políticos corruptos, e se possível bani-los na próxima eleição. Mas também olhar em volta, certo?”

 

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