Breves Revoluções – por Rogério Koff
Thomas Edison inventou o fonógrafo por volta de 1877. Não sou físico nem estou preparado para explicações técnicas, mas funcionava mais ou menos assim: o aparelho tinha a forma de um tubo, capaz de reproduzir sonoridades através da vibração transmitida a uma agulha. Para escutar era preciso girar manualmente uma manivela para que a agulha percorresse os sulcos do material gravado, produzindo o fenômeno da vibração sonora. O gramofone, irmão mais jovem do fonógrafo, nasceu pouco depois, tendo sido o precursor dos discos de 78 rotações por minuto, substituídos mais tarde pelos discos de 33 rotações.
Como não sou tão velho assim, comecei minhas coleções por volta dos quinze anos de idade, adquirindo estes Long Plays 33 1/3 rpm. Meus amigos mais próximos sabem que sou um grande apreciador de cinema e música. Tornei-me desde então um voraz colecionador de discos, aqueles LPs de capas vistosas, dos quais alguns puristas afirmam que têm sonoridade mais pura do que os atuais CDs. Balela. A era do CD eliminou os desagradáveis chiados que teimavam em aparecer mesmo nos discos mais cuidados. Ainda assim, guardei quase que a totalidade da coleção de discos de vinil, por considerá-los peças de museu e porque as capas, estas sim, jamais poderiam ser reproduzidas nos formatos atuais. Algumas delas são antológicas, como o Sgt. Pepper´s dos Beatles ou o Dark Side of the Moon, do Pink Floyd.
A primeira grande revolução foi esta e ficou marcada pela possibilidade de se reproduzir em massa obras musicais. Antes do advento do disco e a ousadia inventiva de Edison, a música era executada em teatros e salões aos quais tinha acesso apenas uma elite privilegiada. As gravações popularizaram e eternizaram obras que, a partir de então, podiam ser apreciadas em qualquer residência que tivesse um fonógrafo, gramofone ou os toca-discos que os sucederam. Muitos torceram o nariz para esta democratização do acesso aos bens culturais, falando em vulgarização da cultura erudita, massificação, destruição da unidade da obra e tantas outras teses da Indústria Cultural.
Eu já tinha cruzado a barreira dos trinta anos quando adquiri meu primeiro aparelho de CD. Consumidor inveterado, repus em meio digital quase que a totalidade de meus discos de vinil, ou pelo menos aqueles dos quais mais gostava. Vieram a coleção dos Beatles, os individuais do John, do Paul e do George, os Stones e o Pink Floyd, é claro.
Vivemos na atualidade uma nova revolução, que é a da música digital. Para mim, não tem a mínima graça “baixar” música em formatos “MP qualquer coisa”, para ouvir em aparelhinhos de celular. Com isto, perdemos a noção de unidade de uma obra. Um disco é idealizado pelos artistas como uma seqüência que tem um significado próprio. Álbuns conceituais foram a grande sensação dos anos 1970, com músicas interligadas, partes de uma totalidade que parece estar se perdendo. Hoje as lojas de discos tendem a desaparecer. Em Santa Maria, não temos mais onde comprar bons discos, e mando buscar tudo o que me interessa nas lojas virtuais.
Esta revolução, definitivamente, não tem a mínima graça.
E está vindo uma nova revolução: “Vinil, o retorno”. O meu filho prefere o vinil e há um movimento (tanto local, como mundial) pela volta dos “bolachões”. É claro que a industria incorporou inovações como leituras a laser e outras coisas… como um aumento significativo no preço. Afinal, é o vinil, tem um adicional de qualidade e blá, blá, blá… A sorte é que não me livrei das minhas antigas paixões!