Artigos

O cliente tem mesmo sempre razão – por Máucio

Almoçava com dois casais que possuíam algo em comum: um deles administrava um bar, o outro um restaurante. Ou seja, viviam profissionalmente experiências semelhantes. Daí para chegar-se a assuntos sobre cardápios, fornecedores, cozinheiros, garçons, clientes, era um tapa. Todo esse rosário foi sendo percorrido, até chegar-se ao atendimento e às dificuldades que se enfrenta para agradar à clientela. A conversa enriqueceu-se. Foi aí que Eduardo, dono do restaurante, contou uma história que passo a compartilhar com vocês.

– Acho que era sexta-feira. Lembro de uma noite fria e com um leve chuvisqueiro. Junho ou julho, por aí. Apesar do clima, o restaurante estava muito movimentado, porque era início de mês e havia muitas festas naquela ocasião. Nas noites assim também se intensifica o serviço de tele-entregas. Foi numa dessas que um cliente ligou e pediu sugestões de prato para envio.

– Alô, boa noite.

– Eu queria uma tele. Poderia me dar umas dicas aí?

– Pois não. O senhor prefere massas, filés, peixe…?

– Filé.

– Bem, temos: filé a parmegiana, califórnia. Filé com ervilhas, Filé da casa…

– Filé com ervilhas como é?

– É filé com molho de ervilhas e tomates, acompanhado de arroz.

– Esse aí então. Filé com ervilhas, só que sem arroz.

– Algo mais?

– Não, é isso.

E ai continuou o diálogo para anotar o endereço, passar o valor do prato, taxa de entrega, etc.

Eduardo recoloca o fone do gancho e segue atendendo no caixa, voltando à rotina típica daquelas horas. Mais uma tele aqui, outro fechamento de conta lá e de-lhe correria.

Cerca de uns 45 minutos depois, o restaurante no mesmo pique de movimentação, liga o indivíduo que pedira o filé com ervilha. Eduardo atende e na outra ponta da linha o sujeito fala:

– Seguinte, eu pedi um filé com ervilhas há pouco, aí.

– Sim, pois não. O pedido não chegou ainda?

– Chegou sim, só que tem um problema.

– Sim, pois não!

– O filé veio com arroz.

– …

– E eu pedi sem arroz.

– Oh, me desculpe senhor. É que nesse filé acompanha o arroz.

– Sim, mas eu pedi sem arroz.

– Desculpe, foi um erro. O arroz está numa embalagem separada. Colocaram automaticamente… Desconsidere. O preço é o mesmo. Deixe o arroz de lado.

– O senhor não está entendendo, eu pedi sem arroz e veio com arroz.

– Sim, eu entendi, senhor. Peço desculpas. Deixe o arroz e coma o filé com ervilhas.

– Vou repetir: eu não quero esse arroz.

Eduardo, já com certa vertigem, intui que o caso mereceria cuidado e, para minimizar, tasca:

– Faça o seguinte então, dê o arroz para alguém. Dê pro cachorro, pronto.

– Eu não tenhoo cachorroo!

Eduardo respirou fundo, pensou um segundo e sentindo-se quase sem saída, deu mais uma tacada em busca de uma solução.

– Ta bem, o que o senhor quer que eu faça? Se quiser, devolva a mercadoria e eu lhe devolvo o dinheiro.

E o maluco bateu o telefone abruptamente, sem dizer nada.

A essas alturas Eduardo estava suando no rosto com um olhar de espanto. Eugenia, sua esposa, que trabalhava ao se lado tratou de acalmá-lo, considerando que aquilo era mais um episódio de atendimento dentro da normalidade. Serviu-lhe um guaraná e mudou de assunto.

– Eduardo, tem um carro com problemas no estacionamento, tem que avisar o dono…

A situação logo pareceu voltar ao normal, mas, no entanto, cerca de trinta minutos mais tarde adentra ao restaurante um homem de estatura mediana, com casaco de couro pardo e uma sacolinha de supermercado na mão. Chega ao balcão e fala:

– Eu vim devolver uma tele que me enviaram errada!

Eduardo, Eugênia, e todos os garçons que estavam próximos, se olharam paralisados… Um silêncio preencheu o ambiente. Até que Eduardo, de súbito reage.

– Pois não, o senhor que pediu filé com ervilhas?

– Sim, quero devolver.

Eduardo agarra a sacola da mão do cliente, sorri e despacha.

– Aqui está seu cheque, senhor.

O cidadão, sem falar nada, pega o cheque e vira as costas rumo a porta de saída.

Um dos garçons que estava mais afastado do epicentro ficou observando pela janela e jura, até hoje, que o elemento deu uma ligeira risadinha ao entrar no táxi que o aguardava em frente ao estabelecimento.

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo