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1989 – por Luciano Ribas

Foi há 20 anos que o mundo viu, em apenas 365 dias, cair o muro de Berlim, Bush pai tomar posse nos EUA e Menem se eleger na Argentina, o Bateu Mouche afundar matando 55 pessoas, os soviéticos se retirarem do Afeganistão, Edir Macedo comprar a Record, os Simpsons estrearem na TV americana, um solitário estudante chinês parar uma fila de tanques na Praça da Paz Celestial, a França comemorar os 200 anos da Revolução de 1789, o Legião Urbana lançar o disco “Quatro Estações” e morrerem Salvador Dali, o imperador Hiroito, o aiatolá Khomeini, a atriz Dina Sfat e o ator e diretor Lawrence Olivier, entre uma infinidade de outros acontecimentos.

Também foi em 1989 que o Brasil voltou a eleger de forma direta seu presidente, depois da longa noite do autoritarismo ter sido encerrada numa transição amarga através do governo José Sarney. Tudo era tão novo que até Silvio Santos aventurou-se como candidato por uns dias, ao lado de Enéas, Aureliano Chaves, Gabeira, Esperidião Amin, Mário Covas, Brizola, Ulysses Guimarães, Lula, do desvairado Collor e de outros que não me recordo.

Lembro, porém, vividamente daqueles dias. Com 17 anos eu era presidente de uma então forte e atuante União Santa-mariense dos Estudantes, a USE. Estudava no 3º C do Maneco, numa sala de aula que ficava no térreo, bem frente à escada principal do prédio, mais ou menos em cima da sede da Gemar. Tinha um título de eleitor novinho, assinado pelo Pedrinho Bortoluzzi, que me assegurava o direito de votar pela primeira vez, coisa muito importante para quem era um militante petista desde os 14 anos.

Tão importante que nos últimos meses de 89 decidi me dedicar a apenas uma coisa: a campanha para presidente do Lula. Decisão meio consciente, meio intempestiva, mas da qual não me arrependo por nenhum segundo, nem mesmo por ter atrasado um ano meu ingresso na UFSM. Na verdade, olhando tudo 20 anos depois, faria tudo de novo, pois tenho a sensação de que foram atos assim, pequenos e isolados, que ajudaram a definir e sustentar um projeto de país que hoje colhe resultados muito consistentes.

Duas décadas mudam as pessoas e as organizações que as reúnem. Mudou muito o PT, mudamos muito nós que estávamos lá, mudou o Lula. Descobrimos que mandar o FMI para “fora daqui” não significava necessariamente decretar moratória, por exemplo, e muitos perceberam que éramos falhos e que as nossas verdades não eram absolutas. Perdemos e ganhamos, um processo dialético que serviu para reafirmar o essencial, que é o compromisso em todos os dias preparar para amanhã um mundo melhor que o de ontem.

Confesso que ver o Brasil superando a crise mundial sem traumas, todos os índices demonstrando avanços sociais muito consistentes, a auto-confiança dos brasileiros crescendo e o mundo inteiro respeitando e ouvindo nosso país, me enche de satisfação e me distancia de vez dos sectários que compreendem o mundo apenas a partir de seus interesses e realidades particulares. Pesando as coisas boas e ruins, valeu a pena ter oito anos de um governo comprometido com o povo. Contra todos os preconceitos, a realidade é um argumento inquestionável.

Conquistar o direito de sediar uma Olimpíada é o símbolo disso e seu significado reside, neste momento, muito mais na mobilização positiva do imaginário de uma população que antes sentia-se fadada à derrota do que em qualquer outra coisa. Vinte anos depois daquele 1989, as lágrimas do companheiro Lula me deram certeza disso e me lavaram a alma, pois elas refletiam um sentimento de milhões de brasileiros anônimos.  E daqui a 20 anos, espero poder olhar para trás de novo e ver que aproveitamos esses símbolos e essas oportunidades, que as coisas não pararam, nem retrocederam. Acho que o Brasil merece e pode.

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Um Comentário

  1. É isso aí, Luciano. A direita se inquieta por não entender como o Lula pode superar o PIG (Partido da Imprensa Golpista). Pra mim, que também me emocionei, a resposta está nas lágrimas do presidente; ele é povo e não tem vergonha de demonstrar.

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