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Anjos e demônios – por Luciano Ribas

O título até pode sugerir, mas meu assunto não é o best-seller de Dan Brown. Na realidade, o que me motivou a entrar no terreno pantanoso que, logo adiante, será percebido pelo leitor, foi a pesquisa que revela um impacto extremamente positivo do programa de combate à pobreza “Bolsa-Família”. Em síntese, cada centavo investido na redução da fome e da desigualdade abissal entre os mais pobres e os mais ricos rendeu 70% a mais em impostos em 2006, tendo um impacto de mais de R$ 43 bilhões sobre o PIB. Ou seja, se a solidariedade não é suficiente para que os mais céticos ou preconceituosos aprovem o programa, que o “lucro” o seja. E estamos conversados, por ora ao menos.

Para a humanidade, uma coisa (ou uma pessoa) ser “boa” ou “ruim” depende do lado em que ela e o emissor da opinião se encontram ou, falando de outra forma, de “quem” está contando e “em que momento” a história está sendo contada. Por exemplo, Tiradentes, nosso herói nacional, foi executado como traidor por Portugal e, na lógica lusitana de defesa do império ultramarino, de fato o era. Hitler, antes de ser a encarnação do mal, foi o salvador da decadência alemã pós-Primeira Guerra. Menachem Begin foi líder de uma organização terrorista sionista, o Irgun, e comandou um violento atentado à bomba contra o hotel King David em Jerusalém; passados alguns anos, foi o primeiro-ministro de Israel que assinou o histórico tratado de paz com o Egito de Anwar Al-Sadat. François Mitterrand, ícone da esquerda européia, antes de combater a invasão nazista flertou com a direita e o governo fantoche de Vichy. Helmut Kohl, chanceler alemão por dezesseis anos, terminou sua carreira política derrotado e envolvido em escândalos financeiros. Ibsen Pinheiro foi “anjo” como presidente da Câmara, “demônio” na difamação da Veja e, reposta a verdade, foi feito novamente “criatura angelical”. No Brasil, o Globo de Roberto Marinho, pai da homônima emissora (atualmente tão zelosa com a democracia), saudou o 1º de abril de 64 com um editorial de capa recheado de loas aos golpistas. Yeda Crusius, bem, é Yeda Crusius…

Ainda no terreno dos famosos, Maradona pode ser o exemplo supremo de um ser simultaneamente odiado e amado. O mesmo jogador envolvido com drogas, escândalos e, dizem, com a máfia napolitana, é objeto de culto de uma igreja auto-denominada “maradoniana” que reúne milhares de fiéis. Particularmente, não vejo problemas nisso pois, como em qualquer misticismo, cada um idolatra o que lhe convém e, de mais a mais, sobre Maradona há farta documentação comprovando sua existência.

Voltando ao Bolsa-Família, este é apenas um dos muito resultados positivos obtidos em praticamente todas as áreas nos quase sete anos do governo Lula. Resultados que, numa livre suposição, talvez não existissem se não tivessem acontecido as ações de pessoas como Zé Dirceu e Delúbio Soares, hoje inegavelmente incluídos na categoria “demônios” no imaginário da esmagadora maioria.

Antes que alguém conclua que acho que “os fins justificam os meios”, exatamente por ser um admirador do incompreendido pensador florentino Nicolau Maquiavel não concordo nem de perto com o sentido que o senso comum deu a esta frase. Mas também discordo de pessoas que, de forma direta ou indireta, se beneficiaram dos resultados nas horas boas e fizeram de conta que não tinham “nada a ver com o peixe” nas horas ruins. Pessoas como alguns ex-petistas que foram ministros ou cotados para o serem, por exemplo, ou que viabilizaram certas consultorias e assessorias em órgãos nacionais e internacionais, graças às suas capacidades pessoais, por certo, mas também às relações que construíram nos seus anos de petismo.

Resumindo, não sei se mais alguém além da minha avó Judite, do alto dos seus 90 anos, irá absolver (na verdade ela vai bem mais longe que isso) os protagonistas dos acontecimentos de 2005. O que sei é que pensar no que teria acontecido com o Brasil se Lula não tivesse vencido em 2002 não custa nada, como também não dói pensar no país mais justo e auto-confiante que, em meio a acertos e erros, emergiu no seu governo. A história poderia ter sido bem diferente e acho que muito dela ainda está por ser contado.

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4 Comentários

  1. @Márcio Dutra
    Estava sim, Márcio! Era 1987, III Congresso da USE, havia duas chapas, uma ligada ao PT e outra ao PCB; depois surgiu uma terceira, do MR-8. Foi um baita encontro estudantil, mesmo tendo terminado do jeito que todos terminavam naquela época, com um grupo se retirando e o outro fazendo tudo para garantir o quorum. Bom saber que tu também estavas lá! Grande abraço.

  2. @Luciano Ribas
    Compreendo e concordo. Digo que fui tomado pela necessidade de fazer aquela observação com o intuito de buscar reduzir, ou melhor, focar, minhas intuições que por vezes tendem a se espraiarem mais que o suficiente. Grato pela resposta.
    Em tempo: Mesmo não comentando, o teu artigo “1989” propiciou bons momentos de lembrança daquele ano e, como uma coisa puxa outra, lembrei de uma assembléia da USE, meio conturbada, acontecida em 88 ou 87 no auditório do Olavo Bilac. Pelo que escreveste no artigo, acredito que você também estava lá.

  3. Márcio, penso que parte da ideia pode (e deve) ser completada pelo leitor; por isso me reservo o direito de não ser explícito em algumas citações, mesmo o sendo em conceitos e posicionamentos. Tenho a certeza de que, pelo que tenho lido dos teus comentários neste site, podes intuir algumas possibilidades. Vale dizer, ainda, que me refiro única e exclusivamente a questões políticas e de trajetória, jamais a qualquer tipo de ato ilícito cometido por essas pessoas. Grato pela leitura!

  4. Caro Luciano,
    Já que você citou várias personalidades da história e da política, poderia, por favor, colaborar com minha compreensão completa da tua idéia e fazer o mesmo com as pessoas implicitas no no parágrafo:
    “Mas também discordo de pessoas que, de forma direta ou indireta, se beneficiaram dos resultados nas horas boas e fizeram de conta que não tinham “nada a ver com o peixe” nas horas ruins. Pessoas como alguns ex-petistas que foram ministros ou cotados para o serem, por exemplo, ou que viabilizaram certas consultorias e assessorias em órgãos nacionais e internacionais, graças às suas capacidades pessoais, por certo, mas também às relações que construíram nos seus anos de petismo.”
    Abraço

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