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ARTIGO. Luciano do Monte Ribas e a possível, sim, ligação entre Franciscos (papa e santo) e o ambiente

Comunhão

Por LUCIANO DO MONTE RIBAS (*)

Segundo o astrofísico Neil DeGrace Tyson, a cada inspiração entram em nossos pulmões mais de cem milhões de moléculas de ar, já respiradas incontáveis vezes por seres vivos que nos antecederam. Sim, esse ar que, nesse exato instante, entrou nos seus pulmões já havia ajudado a manter vivas um número inimaginável de outras criaturas nas centenas de milhões de anos em que existe vida na Terra.

Confesso que nunca havia me dado conta dessa obviedade, mas ela é um fato tão potente que, por si mesma, é capaz de provar a existência de uma comunhão universal entre todas as formas de vida da Terra e delas com o planeta. E, mais do que viajar em papo cabeça de inspiração hippie, aceitar essa verdade científica parece ser a única chance de nos salvarmos, enquanto salvamos esse planetinha onde a vida casualmente aconteceu.

Não foi por acaso, porém, que a fuligem das queimadas na Amazônia e no cerrado desceram aqui, junto com as chuvas ocorridas há umas três ou quatro semanas. Os ventos que trazem a umidade e fazem com que o sul do Brasil não seja uma grande região semiárida nos deram a prova material de que as consequências da irresponsabilidade humana são globais.

Infelizmente, para muitos isso é “besteira”, achando “impossível” que os resultados do “dia do fogo” incentivado pelo discurso do néscio que ocupa a presidência alcancem tamanha distância – o que não chega a me surpreender pois, para quem acreditou em mamadeira de piroca, não aceitar o que ensina a geografia é fichinha.

Por falar na ciência que faz a “descrição da terra” (e que é um desses terrenos férteis onde humanas e exatas resolvem as suas “diferenças”), aproveito para fazer um rápido deslocamento para Assis, na Itália.

Hoje, 4 de outubro, quando escrevo esse pequeno texto, é o dia de São Francisco, provavelmente a figura religiosa mais identificada com a natureza em toda a tradição ocidental. Mesmo sendo ateu, simbolismos como o dessa identificação e, em alguns casos, fatos historicamente comprovados, me fazem ter admiração por alguns personagens religiosos. Isso porque mitos, símbolos e exemplos ajudam a sintetizar e a propagar valores e ideias que nos tornam mais humanos e que são fundamentais para o aprimoramento da civilização.

A outra face de São Francisco de Assis, um tanto negligenciada até mesmo por parte dos seus “devotos”, possui ligação direta com o cristianismo primitivo: a opção pelos pobres.

Ela é menos pop e exige um desprendimento das coisas terrenas que nem todos estão dispostos a ter. Porém, não pode ser ignorada. Afinal, a indissociabilidade entre preservação do planeta e combate à desigualdade é uma verdade cada vez mais evidente. Não é possível resolver uma sem achar solução para a outra, tanto quanto é impossível ter votado no Bolsonaro e sinceramente comungar com a essência dos ensinamentos de São Francisco de Assis.

Ou alguém acha que o santo diria amém para um sujeito que fala “na porra da árvore” para justificar a entrega da floresta à exploração desenfreada e à devastação? Ou que ele aprovaria qualquer uma das tantas barbaridades já ditas e feitas por esse comissário da morte? Acho que nem o mais arraigado preconceito que alguém possa ter é capaz de levá-lo a responder “sim” a essas perguntas…

Pensando nisso tudo, é fácil concluir que não foi por acaso não ter existido, até 2013, um papa com o nome de Francisco. Afinal, sabemos que as igrejas, de modo geral, não são dadas a compartilharem os patrimônios que possuem no plano terreno.

Porém, quando o status quo piscou e veio o primeiro, esse Francisco nascido na América Latina deixou claro de que lado está, sendo capaz de frases potentes como essa, com a qual encaminho o encerramento desse artigo:

“Os direitos humanos são violados não só pelo terrorismo, a repressão, os assassinatos, mas também pela existência de extrema pobreza e estruturas econômicas injustas, que originam as grandes desigualdades.”

A esse ensinamento eu sinceramente digo amém.

(*) Luciano do Monte Ribas é designer gráfico, graduado em Desenho Industrial / Programação Visual e mestre em Artes Visuais, ambos pela UFSM. É um dos coordenadores do Santa Maria Vídeo e Cinema e já exerceu diversas funções, tanto na iniciativa privada quanto na gestão pública. Para segui-lo nas redes sociais: facebook.com/domonteribas – instagram.com/monteribas

OBSERVAÇÕES DO AUTOR. Foto: pandorga presa em árvore, fotografada no Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande (MS).

Neil DeGrace Tyson falou sobre o assunto no episódio 6 da primeira temporada da série “Cosmos”, chamado “Deeper, deeper, deeper still”.

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