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Esta vida é um filme – por Rogério Koff

O diretor franco-polonês Roman Polanski comandou a produção de O Bebê de Rosemary em 1967. Lançado nas telas um ano depois, esta produção foi um marco na história do cinema de terror. Stanley Kubrick demoraria doze anos para dirigir algo parecido (O Iluminado), enquanto que Freddys e Jasons só surgiriam nos anos 1980, com séries intermináveis e distantes da genialidade de seus precursores. Mia Farrow foi escalada para o papel principal, fazendo uma esposa que espera seu primeiro filho e que se vê progressivamente envolvida em uma conspiração demoníaca. Não há em O Bebê nenhuma cena de terror ou violência explícitos, nenhum monstro, mas apenas um suspense psicológico de tirar o fôlego.

A vida de Polanski e outras coincidências estranhas se encarregariam de inspirar a mística sobre a “maldição” do filme. Dois anos depois, sua mulher, a estrela ascendente Sharon Tate, então com 26 anos e grávida de oito meses, foi brutalmente assassinada em Los Angeles, por um grupo de fanáticos liderados por Charles Manson. Polanski não estava nos Estados Unidos e soube pelos jornais que Manson dizia ter recebido mensagens cifradas que ordenavam o crime. Uma destas seria curiosamente a letra de Paul McCartney para Helter Skelter, música integrante do famoso White Álbum, sucesso dos Beatles em 1968.

Por falar em Beatles, após a dissolução do quarteto mais famoso da história da música pop, John Lennon foi morar nos Estados Unidos. Escolheu um apartamento no Edifício Dakota, com vista para o Central Park, e para lá rumou com Yoko Ono no início dos anos 1970. O resto da história nós todos conhecemos; um fanático de nome Mark Chapman matou Lennon a tiros na frente do Dakota em 8 de dezembro de 1980. Detalhe: o edifício foi integralmente utilizado como locação para a filmagem de O Bebê de Rosemary, doze anos antes.

Voltando a Polanski, ele viveu outro drama particular em 1977, quando, aos 41 anos e vivendo nos Estados Unidos, foi acusado de manter relações sexuais com uma jovem chamada Samanta Geimer, então com 13 anos. Às vésperas do julgamento, fugiu para a França, onde vive há mais de 32 anos. Há duas semanas, foi preso na Suíça, onde receberia um prêmio por sua obra. O que deveria ter sido uma homenagem, acabou como palco para uma operação policial que visava atender a uma ordem de prisão emitida pela justiça dos Estados Unidos. Aos 76 anos, Polanski aguarda na cadeia a decisão sobre sua provável extradição. Outra grande coincidência cinematográfica é que o julgamento de um possível indulto está nas mãos de ninguém menos do que Arnold (Conan, o Bárbaro) Shwarzenegger, governador da Califórnia. Suprema ironia. O crítico cultural norte-americano Neal Gabler já havia sentenciado que a vida está se transformando em um filme. Anônimos buscam a fama e celebridades têm suas existências vasculhadas pela mídia.

Muito cuidado aqui, porque não quero minimizar o crime de pedofilia, aliás, um dos grandes dramas de nosso país. Mas deixo uma perguntinha: se Polanski não fosse ele próprio uma celebridade o tratamento dado pela justiça ao caso teria sido o mesmo? Um anônimo estaria  nesta mesma situação? Qual o real motivo de uma prisão preventiva se, em 32 anos de vida na França, Polanski não cometeu nenhum outro crime. Acrescente-se ainda que a própria vítima já declarou publicamente que não desejava dar seqüência ao processo. Estamos falando de justiça ou de vingança?

Fica ao leitor esta provocação e outra: a de tentar encontrar novas coincidências numerológicas nas datas apresentadas ao longo do texto. Pura diversão macabra. Volto na próxima semana, quem sabe com alguma carta de protesto ou outra que me dê razão. Afinal, este blog já é um sucesso.

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2 Comentários

  1. Amei esta matéria. Há pouco, assisti ao filme ‘Capítulo 27’ – sobre o assassinato de John Lennon – e fiquei bem impressionada com as coincidências macabras relatadas no filme – exatamente como citado acima.
    Ainda bem que assisti ao ‘ O bebê de Rosemary’ no ano passado, senão ia ficar boiando ?. ? MACABRO !!!

  2. É,como vc disse, Rogério, um assunto delicado. Só que não foi estupro.
    O que me causa espécie, é que Polanski já foi ‘condenado’ por estupro pela opinião pública – leia-se várias publicações!
    Em 1977, ele, aos 44 anos foi contratado para fotografar meninas adolescentes para a publicação ‘Vogue Hommes’. Através de um amigo ele contactou a mãe de uma adolescente, que o convidou à sua casa. Após várias sessões de fotos com intervalo mínimo de duas semanas, Polanski levou a menina até a casa de Jack Nicholson – que estava ausente, e não havia ‘festinha’ como foi publicado – para fotografá-la a beira da piscina.
    Então aconteceu o suposto estupro.
    Quando acusado Polanski apresentou-se ao juiz encarregado e foi sentenciado – após negociações para não prejudicar a menina num julgamento público – ao período de no máximo 90 dias para avaliação psicológica numa prisão de Los Angeles – por intercurso sexual ilegal – não estupro.
    Ele cumpriu 42 dias e foi libertado.
    O juiz encarregado do caso,após a libertação, mostrou-se muito mais preocupado com a opinião pública – e de seus parceiros do clube de golfe – do que com a justiça propriamente dita.
    Após os 42 dias preso, e inocentado pelos psiquiatras encarregados, Polanski viu-se contra uma autoridade que estava prestes a mudar de ideia – e o enviar novamente para a prisão por tempo indeterminado. Então resolveu abandonar os EUA.
    Como vc disse, Rogério, a própria ‘vítima’ retirou a acusação.
    Bastante enojado com todo o sistema americano de justiça, o que mais me surpreende ainda é a desinformação da mídia quanto aos aspectos legais do caso.

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