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A corda está sendo esticada por Bolsonaro e não pelos governadores e prefeitos – Por Carlos Wagner

“Os fatos são mais fortes. O resto são cascas de banana espalhadas pelo chão”

O Presidente Jair Bolsonaro apostou, desde os primórdios da pandemia, contra a Covid-19 e perdeu. (Foto Reprodução)

O discurso político do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é curto e muito objetivo. Ele usa palavras-chave com o objetivo de despertar a atenção das pessoas como se tivessem sido atingidas por um balde de água fria. Palavras que têm sido utilizadas com cerca frequência durante os períodos em que o presidente foi encurralado pelas lambanças do seu governo: “Estão esticando a corda”.

No domingo, ele usou essas três palavras em um discurso para vender a ideia de que o isolamento social determinado pelos governadores e prefeitos é um atentado à liberdade dos brasileiros. E que tem o respaldo da Constituição para usar as Forças Armadas para devolver a liberdade à população. Essa é a versão dos fatos, conforme o presidente.

Na verdade, é ele quem está esticando a corda. É sobre isso que quero falar com os meus colegas repórteres, principalmente os jovens que estão na correria da cobertura diária nas redações. Vamos aos fatos.

Antes uma explicação que considero importante. É do jogo político tentar vender a sua versão dos acontecimentos. Agora, o que está acontecendo no Brasil nos dias de hoje não tem nada a ver com a disputa política tradicional que conhecemos. A história é outra.

Voltando ao assunto. Qual é a história? Os governadores e prefeitos estão agindo dentro da lei ao adotar o isolamento social e a consequente limitação da atividade comercial como estratégia para tentar barrar o avanço da Covid-19. O vírus está matando 3 mil pessoas por dia e levou ao colapso os sistemas de saúde público e privado em 26 dos 27 estados brasileiros.

Há filas nas UTIs, faltam leitos hospitalares e só há estoques para duas semanas de insumos (remédios) para intubação dos pacientes. A vacinação é a solução do problema. Mas está acontecendo a conta-gotas.

Como chegamos a essa situação? Graças ao negacionismo do presidente Bolsonaro em relação do poder de contaminação e a letalidade do vírus, que foi transformado em política de governo. É esse o xis da questão. O governo federal pratica uma política genocida para lidar com a pandemia causada pela Covid-19.

E a política genocida praticada pelo governo federal depositou na porta do presidente uma montanha de 280 mil cadávares de brasileiros. E ao acusar os governadores e os prefeitos de estarem “esticando a corda” ele quer sair de fininho do rolo, como se não tivesse responsabilidade. E ainda vestindo a roupa de herói, prometendo usar as Forças Armadas para “devolver a liberdade à população”.

Os colegas, em especial os jovens das redações, sabem que se existe uma unanimidade hoje entre os brasileiros é que o presidente é o culpado pela situação crítica em que o país se encontra diante da pandemia. A pergunta que nós jornalistas temos que fazer é quantos brasileiros mais precisão morrer para que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, 44 anos, e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, 51, se convençam de que a situação é dramática.

Os dois se elegeram com o apoio de Bolsonaro. Mas isso é do jogo político. O que não é do jogo é eles fazerem vistas grossas para a situação dos brasileiros a quem juraram defender quando assumiram os seus cargos. O presidente da República é um habilidoso em espalhar o medo.

Ao usar as palavras “estão esticando a corda” ele cutuca na memória de quem viveu a ditadura militar (1964 a 1985) ou se informou sobre o que aconteceu naquele período da história: prisões ilegais, torturas, mortes, censura à imprensa. Foi alegando que “estão esticando a corda” que, em 1968, os militares decretaram o Ato Institucional número 5, o AI-5, retirando os direitos políticos dos brasileiros.

Portanto, quando o presidente da República fala em “estão esticando a corda” é sobre isso que ele está se referindo. Não é por outro motivo que militares do alto escalão das Forças Armadas se apressaram a desmentir que se envolveriam em um golpe militar. A bem da verdade nem o presidente da República falou em golpe. Ele apenas usou uma série de palavras que sugerem isso.

Em outros tempos, falaria de maneira direta. Por que agora está medindo as palavras? Significa que está sendo assessorado por alguém que entende de leis e também sobre como manipular as informações. O seu objetivo maior é conseguir as manchetes dos noticiários.

Há um fato que o presidente e seus assessores não entenderam. O jogo mudou. Eles apostaram contra a Covid-19 e perderam. Não adianta sugerir golpe militar, ataques de comunistas ou outra ficção qualquer. Os fatos são mais fortes. Não há vaga nos hospitais. Não há vacinas suficientes. Faltam lugares nas UTIs. Pessoas estão morrendo asfixiadas nos corredores dos postos de saúde. O sistema de saúde público e privado colapsou em 26 dos 27 estados.

Esses são os fatos. O resto são cascas de banana espalhadas pelo chão pela máquina de fake news do Gabinete do Ódio, como foi apelido o grupo de pessoas que gravitam ao redor do presidente, entre elas os seus três filhos parlamentares: Carlos, vereador do Rio, Flávio, senador do Rio de Janeiro e Eduardo, deputado federal por São Paulo.

PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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3 Comentários

  1. Neste momento, pela visão antagônica, qualquer um que se oponha ao obscurantismo dele é vermelho, comunista. Até mesmo Eduardo Leite e Pozzobon. Seria cômico não fosse trágico. Ah. Sobre Marlon… Minha avó dizia que quando estava na privada estava obrando. Ou seja, ele está fazendo m… Como quem o defende.

  2. Bueno, caro amigo e colega, antes que o Marlon chegue. Até as pedras da Aracaju sabem do que falas. Tempos estranhos como diria M.A. Mello. O problema é quem está com ele. Os que se locupletam, os idiotas, os raivosos, são e serão algo em torno de 30 por cento. A porca torceu o rabo.

  3. Antes que Marlon chegue, caro amigo e colega jornalista, creio que o problema não é o anti-presidente, mas quem dá respaldo a ele. E não é a Constituição. Sabemos que em política, os primeiros a abandonar o barco são os ratos. Já o estão. Mas os raivosos radicais e os que se locupletam continuarão até o final. Triste.

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