Antigo colaborador do sítio, o cientista social Dantro Guevedo estava sumido – ele que participou do último mandato do prefeito Valdeci Oliveira, em cujo gabinete trabalhava. Pois, agora, ele retorna. E de longe. Em período de intercâmbio na Irlanda, observando a cena nativa direto de Dublin, ele envia o texto que publico a seguir. O pano de fundo é o Mensalão do DEM, que agita o Distrito Federal. Confira:
“O futuro e o presente do Brasil
No dia primeiro de dezembro de 2009, 27 países do continente europeu comemoram e tornam efetivas as propostas e diretrizes do Tratado de Lisboa, ou seja, ao que o Primeiro Ministro Suíço Fredrik Reinfeldt declarou ser o inicio de uma “nova era” para a União Européia, um bloco de mais de meio bilhão de cidadãos, das mais diversas culturas, que reúnem um terço da economia mundial e que buscam mais “unidade, eficiência, modernidade e transparência” política e econômica para a solução dos problemas enfrentados por aqui.
Nesse mesmo dia, nós acompanhamos além-mar o desvelar de fatos e detalhes de mais um escândalo político, vendo deputados de um pequeno estado brasileiro e com muitos problemas sociais colocando dinheiro grosso nas próprias meias. E novamente voltamos a escutar a perguntas que não querem se calar será que isso um dia vai ter um fim ou terá uma solução?
A certeza de que nosso sistema político partidário está em crise é evidente. Pois estamos num ponto, como muito bem exemplificou o filme Tropa de Elite, em que o sistema deixou de existir para solucionar os problemas da população, e passou a ser “usado” como uma máquina para atender aos interesses de membros e grupos do próprio sistema, que em muitos casos reflete um patrimonialismo criminoso orientado para lavar dinheiro sujo e para o enriquecimento ilícito.
Por vezes, nós homens comuns, acreditamos que em momentos como esse o melhor seria fazer uma mudança radical, talvez até nos moldes dos antigos franceses, enfrentar a facão os inimigos, invadir os Palácios dos Governantes, degolar os corruptos, fazer uma revolução armada. Mas paramos e pensamos, o que restaria depois, a bagunça e a desordem? Como seriam os novos governantes, quais assumiriam os postos dos que se foram, quem seriam os novos lideres? Provavelmente nós. Então responda a si próprio, como você agiria se estivesse hoje no poder, você faria parte do esquema ou estaria fora dele e tentando combatê-lo? Se você estivesse no lugar daquele deputado com a oportunidade de ganhar todo aquele dinheiro fácil o que você escolheria, colocaria o dinheiro nas meias?
Acredite ou não, mas é a sua resposta, somada com outras milhares, que molda nosso sistema político. Estamos entrando em ano de eleições, e em ano de Copa do Mundo. Assim como desejamos que a melhor equipe seja escalada para ganhar os jogos de futebol, temos o compromisso de escalar os melhores representantes para vencer os desafios de nosso pais. O Brasil vive hoje um momento de sucesso e euforia, igual ao time que fez um a zero no primeiro tempo de uma final de Copa do Mundo. A questão é que ainda precisamos de muita seriedade e garra, pois o jogo não acabou.
Nosso país é a oitava potência econômica do mundo, temos um PIB anual de mais de um trilhão, fomos modelos de robustez e estabilidade para a maior crise econômica mundial desde 1929, atingimos marcas históricas para desafios como o desemprego, segurança alimentar e o déficit habitacional. Porém, não podemos parar, é preciso dar continuidade a essa trajetória de desenvolvimento, e encontrar soluções definitivas para problemas como os “juros” da divida externa que consomem aproximadamente 40% do que produzimos e nos impedem de investir mais de 5% em saúde. Nossa educação está longe de ser aquela que desejamos, nosso sistema ferroviário nem sequer existe, e a implementação de políticas pragmáticas para minimizar o efeito devastador da guerra civil que envolve a ilegalidade no “comércio de drogas” nem sequer é entendida como uma condição primordial para um salto no desenvolvimento social de nosso país.
Enfim, pessoalmente acredito e estou torcendo pelo Brasil, e sei que existem soluções possíveis, inclusive vejo exemplos de populações que trabalham por “unidade, eficiência, modernidade e transparência política e econômica”, mas sei também que qualquer solução depende da minha e da sua postura diária frente a questões que estão ao nosso alcance, começando por dizer basta à política tradicional e irresponsável, cadeia para os magnatas corruptos, restituição de danos e devolução do dinheiro publico. Nosso futuro pode ser ainda melhor, e por Deus, ele ainda permanece em nossas mãos.
Dantro Guevedo – Cientista Social – De Dublin (Irlanda)”
Correção: o Mr Fredrik Reinfeldt é Primeiro Ministro da Suécia. E mais uma vez parabéns pelo site Claudemir.