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Duas caras ou “a incompreensível volatilidade do ser” – por Luciano Ribas

Não sei se peço desculpas a Bob Kane, criador do Batman e da maioria dos seus inimigos, ou a Milan Kundera, autor do fantástico “A insustentável leveza do ser”. Na verdade, pela pequenez do tema que abordarei, devo pedir desculpas aos dois e também aos milhões de leitores de histórias em quadrinhos e da boa literatura. Com o perdão devidamente solicitado, vamos ao que o irresistível trocadilho do título se destina.

Quando tive a felicidade de ser secretário de município na segunda gestão do prefeito Valdeci Oliveira, me envolvi diretamente com o debate e as articulações em torno da CIP. Ao lado de pessoas com sincero interesse num futuro melhor para Santa Maria (muito bem representadas pela citação dos nomes do Dr. Werner Rempel e do saudoso professor Flávio Schneider) participei de debates sobre a importância e a inevitabilidade da instituição da Contribuição nos mais variados lugares. Lembro, por exemplo, de uma tarde de calor intenso na Vila Portão Branco e de um interessado grupo de cerca de 30 pessoas querendo saber o porquê do município querer criar “mais um imposto”; me recordo, também vivamente, do dia em que fomos entregar ao Legislativo o projeto e das expressões de jocosidade incontida de certos parlamentares.

Em ambos os grupos, com poucas exceções, as reações (e interesses) eram diametralmente opostas, tanto que as pessoas simples do limite urbano de Santa Maria entenderam exatamente quem eram os culpados pela necessidade de pagarem pela iluminação pública – FHC, Britto, PMDB, PSDB, PFL (hoje o DEM do dinheiro nas meias) e todos aqueles que bateram palma às privatizações mal explicadas daquele período. Entre os parlamentares, o oportunismo de quem põe o jogo “político” acima de tudo, inclusive do bom senso.

Fomos deslealmente combatidos e derrotados por Cláudio Rosa, Tubias Calil, Jorge Pozzobom, João Carlos Maciel et caterva. Na tribuna da Câmara e nos microfones das rádios vociferavam de forma virulenta contra o prefeito e os poucos vereadores que se mostraram isentos e leais ao governo da Frente Popular. Dominados pela raiva e, em maior proporção, pelos limites do intelecto, nem mesmo ao argumento de que havia a real chance de vencerem a eleição de 2008 (o que acabou por acontecer) e que poderiam evitar o desgaste de implantar a CIP (que seria inevitável) se ajudassem a resolver o problema ainda na gestão petista foram capazes de ceder.

Dá para dizer alguma coisa além de “bem feito” para esses senhores nesse momento em que serão obrigados a defender e a aprovar contribuição? Sim, dá, e o leitor pode ter certeza que o faço com muito gosto.

Podemos dizer-lhes que seu comportamento está entre o que existe de pior na política: a falta de princípios, de coerência, de honestidade nas ideias e posições assumidas, o ter “duas caras” ou mais, dependendo da ocasião. Em outras palavras, no oportunismo que caracteriza boa parte da política, a “insustentável volatilidade” a que o título desse texto faz referência.

Se os citados senhores, incluindo os que não votarão o atual projeto por estarem ou fora ou ausentes da Câmara, afirmarem em público o óbvio – que antes foram contra porque eram oposição e que agora serão a favor porque se tornaram governo, desdizendo todo o seu palavrório “de defesa do povo” de poucos anos atrás – retiro cada linha aqui escrita de bom grado. Desde que, é claro, o façam com a mesma disposição anteriormente demonstrada para o combate.

Infelizmente, pelo que conhecemos do caráter da maioria dos políticos, acho que  este texto permanecerá com o atual conteúdo.

P.S. – continuo favorável à instituição da CIP.

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5 Comentários

  1. Agradeço aos comentaristas pela leitura do texto e pelas opiniões aqui manifestadas. Marcio, concordo contigo com relação a atual oposição, mas ao menos dois já manifestaram a intenção de manter a mesma posição, os vereadores Fort e Werner Rempel (o primeiro contra a CIP, o segundo a favor). Com relação ao restante da bancada do PT, veremos qual a postura assumida. Um abraço a todos.

  2. Sou daqueles (não sei se somos muitos) que acreditam que os vereadores devem votar com liberdade, conforme seus princípios e convicções e também, como você mesmo afirmou, por lealdade ao governo ao qual pertencem, desde que este último item não vá de encontro aos dois primeiros.
    Coaduno-me ao teu pensamento quanto aos senhores Cláudio Rosa, Tubias Calil, Jorge Pozzobom, João Carlos Maciel et caterva. Mas digo que vou observar muito de perto o voto da oposição da legislatura atual. Quero ver se hoje, na oposição, existe o que você chamou de “pessoas com sincero interesse num futuro melhor para Santa Maria”, ou se devemos incluir mais alguém à lista do “et caterva”.
    Abraço.

  3. Pois é, sr.Luciano. Como simples cidadão e contribuinte, continuo CONTRA a CIP, pelo simples motivo que, a meu juizo, já desembolsamos demais, seja em impostos, taxas ou contribuições, permanentes ou provisórias.E, com contrapartida insuficiente. O que não me impede de concordar com seu artigo, grandioso e verdadeiro. Pois sintetiza, com alguns exemplos nominados e pontuais, o “modus-operandi” da maior parte dos políticos brasileiros, a começar no município e terminando pertinho daquela rampa famosa.Nada importa o cidadão e suas necessidades de educação, saneamento, segurança e dignidade.Importa o tal projeto político individual e o interesse coletivo, mas coletivo dos partidos e seus agora ou futuros aliados. Como diria o personagem “Justo Veríssimo”, o “povo que se exploda”. Grande abraço.

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