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Sobre o Desencanto – por Rogério Koff

Conheci Marcos Rolim nos anos 1980, quando ainda éramos estudantes de jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria. Ele era meu veterano, mas sua militância política e o consequente atraso de algumas disciplinas acadêmicas acabou nos colocando na mesma sala como colegas. Tempos depois, ele como vereador e eu como repórter em Santa Maria, tivemos novas oportunidades de convivência. Chegaram os anos 1990, conclui meu Mestrado em Filosofia na UFSM e, em diversas oportunidades sociais, travei debates interessantes com o Marcos sobre política e filosofia, nossas leituras, projetos e interesses futuros.

Em sua primeira campanha para Prefeito de Santa Maria, eu já era professor do curso de Jornalismo da UFSM. Auxiliei na assessoria de comunicação da campanha, ao lado do professor Ronaldo Mota, que chegou a ser apresentador de estúdio no programa de televisão. Mais tarde, o próprio Ronaldo tentaria seu vôo político, tendo se lançado ao cargo de Reitor da nossa Universidade. Perdemos, infelizmente, e aqui estou me referindo às duas campanhas, do Rolim no início dos 90 e do Mota em 2001. O futuro reservaria muito sucesso aos dois em perspectivas diferentes. Rolim foi deputado estadual e federal, Mota se destacou nos Ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia.

Acho que comecei a lembrar disso tudo depois de ler a entrevista do Marcos a um jornal da cidade, por ocasião do convite que recebeu para dirigir a Coordenação de Comunicação Social do Tribunal de Contas do Estado. Sua missão é de resgatar a imagem desgastada do TCE, em relação às suspeitas levantadas contra seu ex-presidente, João Luiz Vargas. De forma elegante, lembrou que o Estado de Direito reserva a todos a presunção de inocência, mas ressaltou que as instituições precisam ser preservadas.

Chamou a atenção, em seu depoimento, um trecho que fala do Partido dos Trabalhadores. Reproduzo textualmente, pedindo licença à jornalista Jaqueline Silveira: O PT no qual militei grande parte da minha vida não existe mais. O que restou dele são lembranças de coragem e dignidade oferecidas ao Brasil. Hoje, o PT é um partido tradicional assim como o PMDB ou o PTB. Há, é claro, pessoas dignas que continuo admirando. Não posso falar em decepção com posições do partido, porque o PT não tem posição sobre qualquer coisa importante há muitos anos.

De minha parte, nunca tive relação mais profunda com o PT, embora ainda tenha grandes amigos que estão na legenda ou que por lá passaram. Mas acredito que a declaração do Marcos vai muito além do PT. Trata-se de um desencanto com a política que, infelizmente, atingiu nossos mais valorosos quadros. Conheço gente que passou pela vereança em nossa cidade, por exemplo, e não quer mais saber de política. Não cito o nome porque não pedi permissão e porque sua decepção não foi tornada pública, como fez o Marcos.

Enfim, este é o cenário. Alianças políticas inexplicáveis ocultas sob o manto do pragmatismo, somadas a escândalos em profusão. E José Roberto Arruda, o homem do painel eletrônico flagrado outra vez esta semana, declarando que é impossível governar sem fisiologismo. Fiquei com saudades daqueles tempos de coragem e dignidade que o Marcos referiu. Acho que éramos mais felizes e não sabíamos.

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4 Comentários

  1. Só poderia ser o Ildo, até agora com dor de cotovelo, a misturar futebol com este belíssimo artigo do Koff… gostei muito da alusão que fizeste ao Rolim para falar de um fenômeno tão atual e instigante…
    excelente discussão, professor!

  2. Pô, Ildo, tá falando sério??? Nossos jogadores são trabalhadores e têm direito a férias. Merecem ir ao Rio de Janeiro e tomar chopp e água de coco.
    Um abraço

  3. Li o artigo e compreendo e concordo em grande parte com o que escreve o Rogério,mas gostaria de saber a opinião dele sobre o fato do Gremio entregar o jogo para o Flamengo porque isso também é um mau exemplo de pragmatismo salientando que condenei o Inter quando fez isso com o Gremio, receber “mala branca” para ceder resultado a meu ver é corrupção também!

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