A cidade das farmácias – por Máucio
Podemos conhecer o perfil de uma cidade e de seus moradores a partir dos estabelecimentos comerciais que possui. Se você, por exemplo, chegar num lugar e enxergar muitas peixarias, provavelmente tratar-se-á de um município litorâneo. Se forem várias adegas e cantinas, certamente você está numa região produtora de vinho. No entanto, se houver muitas farmácias onde será que você se encontra? Talvez em Santa Maria.
Em nossa cidade o número de farmácias é quase incontável, chega a ter uma ao lado ou em frente da outra. Na região central, de uma mesma esquina se avista várias. Dentre os motivos principais desse grande número de lojas, muito provavelmente, está o alto lucro. A conseqüência é uma concorrência desenfreada que provoca a empurroterapia, o sujeito chega para comprar um laxante e sai com três ou quatro produtos. É uma estratégia de vendas estúpida, agressiva e antiética – não estamos tratando de bijuterias e sim de medicamentos – e o pior, é exercida contra pessoas humildes e ingênuas.
O número de pontos de vendas de remédio em Santa Maria é em torno de 200, que corresponde a uma farmácia para cada 1.500 habitantes. A Organização Mundial de Saúde recomenda uma para cada 9.000 pessoas, ou seja, temos seis vezes mais que o aconselhado; 33 seriam suficientes. Enquanto isso, o número de fruteiras é ínfimo, não passa de seis ou sete. Pode-se contar nos dedos os locais que são especializados exclusivamente em frutas e verduras, e todos os existentes são tradicionais. Acho que nos últimos vinte anos não abriu nenhum novo local de venda de hortifrutigranjeiros. O número de padarias, por sua vez é mediano, perto de 100 pontos comerciais.
Cruzando-se os dados acima se chega a uma conclusão no mínimo curiosa: as pessoas que vivem na cidade Coração do Rio Grande, Cidade Cultura e Universitária, onde um terço da população é estudante, quase não consomem frutas e verduras. Alimentam-se de pão, bolachas e outras rações ricas em carboidratos. Em compensação, compram muitos remédios e para adquiri-los basta apenas dar um volta no próprio bairro que encontrarão, inclusive, mais de um fornecedor.
O pior de tudo nesse quadro é que não se vê nenhuma perspectiva de mudança. Os hábitos alimentares são uma das coisas mais difíceis do indivíduo modificar. Só ações governamentais, em todos os níveis, poderiam melhorar a situação. As feiras livres estão cada vez se reduzindo mais e em toda minha vida não vi nenhum prefeito dar atenção a isso. Sequer temos um mercado público em funcionamento. Creio que seria uma responsabilidade até mesmo de uma Secretaria de Saúde. Mas não, também nesse caso a preferência é por remediar. Custe o que custar.
Obrigado Tereza
pela contribuição precisosa nesta prosa.
Abrrr, Máucio.
Verdade isso sobre as feiras. Não sei se as pessoas não gostam de comer frutas e verduras. O fato é que elas se tornaram caras, talvez pela falta de concorrência. A maior fruteira (da Dona Maria) é bem sortida, a maior da cidade, a única que abre aos domingos( que eu saiba), mas é muuuuito cara. Aos sábados tem o Projeto Cooesperança, lá no terminal da Medianeira, mas insuficiente para S.Maria e não anda barato não. Nas quartas feiras chegam frutas e verduras nos mercados. A gente até encontra muitos produtos, mas não é tão variado não e nem é barato. Nos finais de semana e de segunda até quarta o que se encontra á murcho, estragado e o preço não baixa. Como aos domingos os mercados quase nunca abrem, não há alternativas para adquirir frutas e verduras, a não ser na Fruteira da Maria.Sem alternativas. Para fazer o hábito, tem que ser oferecido condições. Quem puder fazer horta e cultivar rúcula e radite, ótimo, senão…come-se pão, massa, carnes…É bom esse debate. É necessário porque se trata da saúde das pessoas.
É verdade, Cali. Vou ver se consigo tratar deles nos proximos textos. Abrrr, Máucio
Muito obrigado Franz,
não lembrei/ou não sabia desse episódio. Mas também acho que é verdade que, pelo jeito, a coisa ¨morreu na casca¨. É isso? Abrrr, Máucio
Apenas para fazer justiça. Não é correto que nenhum prefeito deu atenção às feiras livres. Não posso falar de todos os governos, mas me lembro que no primeiro governo Valdeci Oliveira (2001-2004), quando o secretário de Desenvolvimento Rural era o prof. da UFSM, Paulo Silveira, foi feito um projeto para qualificar as feiras livres da cidade. Foram, inclusive, buscados recursos junto ao governo estadual (Olivio)que permitiram uma padronização das bancas das feiras. Foi construída uma relação com a secretaria de Saúde também. Qualquer coisa, pode-se buscar com o próprio Paulo Silveira essas informações.
E o nº de açougues?
A pirâmide alimentar está, no mínimo, invertida… por isso é preciso tanto remédio!!!