A dona da noite, seu cão e a dança na 24 horas – por Luiz Alberto Cassol
Caminhava na 24 horas. Ou Rua Alberto Pasqualine. Como queiram. 22h. Noite quente. Um leve vento inspirador. O som forte de Raul Seixas, com justiça, abria passagem. Muitas pessoas caminhando e tantas outras sentadas. Bares lotados. Dezenas de pessoas na rua.
Então, a cena. Que bela cena. Deparei-me com aquela mulher que bailava com seu cachorro, seu companheiro. A cumplicidade dos dois e a força terna da situação me prenderam o olhar. Por instantes, reduzi o passo. Contemplei! Depois, olhei para os lados. Alguns não prestavam atenção. Outros olhavam com uma atenção que não saberia descrever. Seu bailar e sua felicidade deixavam o instante único. Fiquei acompanhando toda aquela situação.
Inusitada dança? Inusitado par? E o que dizer daquelas pessoas que riam ironicamente da cena? Fiquei profundamente triste por tantos que riam e caçoavam da mulher de meia idade e roupas surradas. A cama de papelão em frente a uma grande cortina de ferro fechada.
Sua condição de vida é lamentável. No entanto, naquela noite, naquele momento, ela foi a dona da noite. Não interessava ninguém. Ela estava absorta em sua felicidade na 24 horas. Que bom seria se fosse nas 24 horas. Mas, não é.
Talvez ela esteja na rua muito mais por aqueles que dão de ombros e preferem apenas caçoar de sua situação. Talvez…
Prefiro-a. Que marcantes instantes de felicidade plena. Esses instantes que ela deu de ombros a esses tantos me contagiou. Que cena. Que bela cena. E aquela mulher a dar rodopios e tapas metafóricos em todos nós.
Camarada Cassol. Esse lirismo do teu texto, para alguns pode soar forçado. Talvez não tão poucos como eu e tu gostaríamos. Me permito, com respeito e carinho, de agregar ao Máucio: Além de olhar de cineasta, é o olhar de alguém que compreende e se importa com a humanidade. Muito obrigado.
Olhar de cineasta! Abraço Cassol!
Máucio.