O leitor habitual deste sítio sabe que, aqui, dificilmente se tratará de futebol. Digo, do esporte “dentro das quatro linhas”. Há gente mais habilitada para tratar disso e sobra espaço na internet. Mas isso não significa alienação. Ao contrário, o repórter “se aposentou”, mas não esqueceu. E até acha, modéstia às favas, que melhorou – ainda que a uma distância prudente do dia-a-dia do jornalismo esportivo.
Aliás, aqui se escreveu, e se escreverá muito, ainda, acerca da próxima Copa do Mundo, a que o Brasil sediará. Especialmente do entorno, se me entendem. Mas, na noite de domingo, vendo, ouvindo – na TV fechada (que a aberta é cada dia mais insuportável) – sobre o entrevero entre a Rede Globo e o treinador Dunga, decorrente da entrevista deste após a vitória brasileira sobre a Costa do Marfim, acabou caindo-me às mãos um interessante texto.
Publicado originalmente no sítio “Direto da Redação”, editado a partir dos Estados Unidos pelos jornalistas Eliakim Araújo e Leila Cordeiro, trata exatamente das diferenças de tratamento conferidos por… Bem, garanto que vale a pena ler. Entenderá muito mais facilmente que o meu próprio trololó. Acompanhe o artigo assinado por Mário Augusto Jakobskind. A seguir:
“FUTEBOL E ESQUIZOFRENIA
É tempo de futebol, e também do esquizofrenia na área midiática quando os locutores pregam a “defesa da pátria” nas quatro linhas. E isso os galvões buenos e outros menos votados o fazem nos mesmos canais que se alinham ao que é há de mais antipatriótico no espectro político brasileiro.
Já virou rotina as tentativas da mídia em estabelecer o esquema pão e circo. Não que o futebol em si seja alienante, mas o que há em redor cumpre esse papel com a colaboração inestimável dos meios de comunicação conservadores. Exemplo mais recente nesse sentido ocorreu, para variar, na TV Globo, em uma reportagem de Nova York com argentinos lá residentes acordando cedo para assistir um jogo da seleção de Maradona.
Em determinado momento o repórter foi ouvir um indiano torcendo pela Argentina e dizendo que tinha ”ódio do Brasil”, pois “se ama a Argentina tinha que ter ódio do Brasil”. Mas o pior da história foi que o indiano não apareceu falando, sendo apenas “traduzido” pelo repórter.
Ficou claro que os “patriotas” da TV Globo aproveitaram o embalo para envenenar, ou seja, colocar o tema não como uma rivalidade normal de disputa futebolística, mas jogar um país contra o outro, como fazem ao longo dos anos. Na prática essa gente joga contra a integração latino-americana, que tem como ponto relevante a aproximação brasileiro-argentina.
A mídia conservadora preferiu ignorar que a seleção argentina ao se despedir dos torcedores numa apresentação em Buenos Aires ergueu uma faixa informando que os jogadores apoiavam a indicação das Avós da Praça de Maio para o Prêmio Nobel da Paz. Ou seja, a seleção comandada por Maradona deu toda força a um grupo de senhoras mobilizadas desde 1977 para cobrar o desaparecimento político de netos e filhos durante a ditadura. Já imaginaram uma seleção brasileira defendendo direitos humanos erguendo uma faixa o que faria a mídia conservadora?…”
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