PRECONCEITO? “Barrada no baile”, uma cidadã indignada conta a sua história
Recebi correspondência eletrônica, na forma de artigo, da historiadora (formada na UFSM) e mestranda na PUCRS, Paula Rafaela da Silva. Ela fala de um fato constrangedor pelo qual passou. Seria apenas uma situação pessoal – não fossem, penso, as conseqüências e, sobretudo, as prováveis evidências de constrangimento e preconceito.
Imagino que o texto fale por si. E deixando claro que o espaço para o contraditório (como sempre) é garantido, reproduzo na íntegra – sem qualquer edição, em respeito às próprias emoções da autora, facilmente perceptíveis na correspondência. Confira:
“Barrada no baile
Escrevo com o objetivo de tornar público o constrangimento que vivi; vamos aos fatos: resido em Santa Maria e na semana anterior eu, meu esposo e meus pais fomos convidados para um jantar italiano de rodada de massas, sopas e vinho (uma beleza!). O local do jantar era o CTG Sentinela da Querência em Santa Maria, em razão disso fomos alertados que as mulheres não deveriam usar calça e homens não poderiam ir de calça jeans, também estavam liberadas as pilchas tradicionalistas.
Pois bem, eu que, apesar de gaúcha, nunca freqüentei CTGs, obviamente não tenho vestido de prenda, assim que, vesti uma saia lápis (para quem não sabe é um modelo de cintura alta e de comprimento 2 a 3 cm acima do joelho muito usado por executivas e para ocasiões formais e, portanto, não curta), uma blusa gola alta, manga longa, juntamente com um casaco de couro, meia-calça fio 40 preta (portanto, as pernas completamente cobertas) e, por fim, nos pés um sapato de salto fechado e nada de bijus. Enfim, eram visíveis meu rosto e minhas mãos. Assim que, chegamos ao local e, sem receber “boa noite”, pegaram nossos convites e nos deixaram literalmente plantados na porta, quando outra menina (que estava de vestido curto) saiu me olhou constrangida por estar sendo retirada de dentro do salão e me disse: “Você não poderá entrar”.
Então, tomei a iniciativa de perguntar para as pessoas da recepção que disseram que eu teria que ir para casa trocar de roupa. Em vão, expliquei que eu não tinha traje tradicionalista e que me avisaram que não poderia ir de calça, além do que, não informava no convite sobre saias. (No convite dizia o seguinte: Não é permitido: Jeans, tênis, legs e sobre legs, blusas de alça, roupas transparentes e homens com faca, brincos, chapéu ou tiara). Resultado: constrangida e revoltada, exigi meu dinheiro de volta (40,00 por pessoa) e acabamos nos retirando do local. Por fim, enquanto esperava em frente ao CTG o meu esposo vir com o carro do estacionamento ouvi uma prenda referir-se a mim como: ela estava “linda”, mas não pode entrar porque estava vestida para matar! (?)
Poderia eu, usar argumentos cujos tenho autoridade pela profissão, isto é, retomar a construção do mito do gaúcho, da invenção histórica que é o tradicionalismo que o MTG propaga, e nisso entram as vestimentas, especialmente as vestimentas femininas, visto que o vestido de prenda é uma adaptação conservadora que não está de acordo com as mulheres que lidavam no campo com o gado, enfim, uma história muito diferente daquela que o MTG insiste em contar.
No entanto, me posto aqui como cidadã, gaúcha, que vê em momento de copa do mundo o técnico da seleção brasileira ser julgado pessoalmente pela identificação com o seu estado de origem – no caso o RS – chegando a ser acusado (erroneamente) de reacionário pelo ex-jogador Sócrates, conforme acompanhamos a repercussão na última semana. Também sou gremista que canta o Hino Riograndense no Olímpico, justamente por entender que, apesar das contradições históricas promovidas pelo tradicionalismo, a cultura e a identidade são fundamentais para a união de seres históricos e para a formação que caracteriza determinado povo, por isso, reconheço a importância do CTG, do 20 de setembro e do hino cantado pelas torcidas da dupla GRE-NAL como ações culturais e identitárias da população riograndense.
Contudo, não me parece admissível que na sociedade em que vivemos, onde tantas foram as lutas traçadas em nome da liberdade civil e tanto se debate sobre a preservação dos direitos individuais dos cidadãos, que uma organização, como o MTG siga pregando conceitos preconceituosos e segregadores. Fiquei pensando como seriam recepcionados um casal de gays ou uma pessoa de fora do estado do RS, que desconhece as normativas tradicionalistas. Seriam barrados também? Sob qual argumento? Afinal, era um jantar italiano informal aberto ao público geral e não um evento para os sócios do CTG.
Desconheço as questões legais sobre esse tipo atitude, contudo considero preocupante sob o ponto de vista da civilidade e da importância do movimento tradicionalista enquanto formador de opinião para muitos gaúchos. Sinto-me absolutamente contrariada diante de uma suposta autoridade que tem como base um discurso moralista para regular uma escolha que é absolutamente individual em um evento que é aberto ao público. Dessa forma fico com a impressão que as vestimentas estão associadas para o MTG a uma possível sexualidade ameaçadora, homens de tiara e brincos são associados a gays (gaúchos não podem ser gays), calças e xiripá para mulheres masculinizadas, e saias acima do joelho e blusas de alça para prostitutas. Por outro lado, as prendas usam vestidos longos, com saias de armação que escondem o corpo aos moldes da burca muçulmana.
Ok, posso estar me apresentando de forma radical, mas penso se há outra forma de se manifestar diante de uma atitude tão absurda? Na minha modesta opinião seguir promovendo esse tipo de ação e de valores significa fechar os olhos para uma prática social que vem sendo combatida veementemente desde o final do século XVII, quando as mulheres iniciaram uma longa luta política pela igualdade de direitos políticos, civis e sexuais.
Sei, também, que machismo soa como uma palavra démodé, que muitas pessoas podem associar a uma prática do passado ou de vitimização feminina e que qualquer membro do MTG ao ser questionado sobre isso negará com firmeza a acusação. No entanto, gostaria de provocar uma reflexão: Afinal, em que contribui para o RS, para a cultura e para a identidade gaúcha a valorização de práticas que promovem ações segregatórias e preconceituosas?
Paula Rafaela da Silva – Historiadora formada na UFSM, mestranda pela PUCRS.
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O MTG, se apossou das lutas dos verdaeiros ¨gauthos¨,que viviam nos campos do sul da América, e que eram caçados em tempos de guerras, para defenderem os interesses das classes dominantes. A história nos conta que a Peninsula Ibérica, foi dominada pelos turcos otomanos durante 800 anos, dai a indumentaria arabe: botas, bombachas, lenços.
O verdadeiro povo gaúcho nunca nos tempos passados teve acesso ha estas vestimentas usados pelos fazendeiros dominadores. Se continuar assim começarão a pedir Atestado de Virgindade para as prendas. Senhora toda a minha solidariedade. Quanto ao sr coordenador do mtg da região é candidato a coordenador estadual do mtg, portanto caso êle vença a eleição, com toda a certeza irão pedir o atestado de verdade.
Quando a sociedade vai dar-se conta de que todos somos realmente IGUAIS?(desculpe a caixa alta Claudemir)
E, também já é chegada a hora de revisar e ampliar as garantias da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Mas infelizmente algumas “Assossiações”(nacionais e internacionais) tanto de Direito Público ou Privado(incluem-se as religiosas)historicamente não fazem a mínima questão de que se quebre determinados paradigmas, é claro.
Como diria Bizola…, são os interésses.
Quantas Paulas Rafaelas não passam por isso todos os dias nas mais diferentes situações?
Quando as pessoas deixarão a hipocrisia de lado e deixarão que suas máscaras caiam?
Evoluímos muito nas últimas décadas, mas ainda temos muito o que evoluir.
Toda a regra que exista a mais de dez anos corre o forte risco de já estar ultrapassada.
A evolução da sociedade deve acompanhar a velocidade dos avanços tecnológicos. A informação já circula á alta velocidade, temos é que socializá-la urgentemente para acabarmos com a ignorância neste pobre planeta.
Tenho minha opinião sobre isto, e não vou me abster de explicita-la.
Primeiro de tudo, minha solidariedade a esta senhora.
Fiz parte por um bom tempo da patronagem de um pequeno CTG. Sei da dificuldade destas pequenas entidades se manterem com as portas abertas. Vejo erros na condução daquilo que o MTG entende por tradicionalismo. Lógico que algumas coisas devem ser mantidas para que não caiam no esquecimento. Mas, há muito exagero. E este exagero está esvaziando os CTGs. O que se nota é uma elitização do movimento. Pequenos CTGs tendo que contribuir para uns poucos fazerem cavalgadas pelo litoral. Acho que está havendo uma inversão. O que tornou o gaúcho este ser admirado por todos, foram suas lutas, sua coragem e tantas outras virtudes, mas hoje o que é mais valorizado pelo MTG é a ostentação, a elitização.
Penso que deveria ser trilhado um caminho inverso, favorecer e incentivar os pequenos CTGs, pois para quem convive minimamente com esta realidade sabe que é ali que as coisas acontecem, pelo menos aquelas coisas que realmente interessam aos gaúchos e seus ideais.
Será que o MTG não tem interesse em manter tanto os grandes CTGs (que são importantes também)como os pequenos?
Em época de campanha política eu via o “chefe maior” da 13ª Região Tradicionalista, mais preocupado em fazer campanha para o Schirmer na semana farroupilha do que com o evento propriamente dito.
Isto eu vi, ninguém me contou. Lógico que aparecerão posições contrárias aqui no site. Mas, esta é minha opinião.