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Coisas de meninas – por Daiani Ferrari

Vai fazer um ano que minha avó morreu. Eu achava um sacrifício ir visitá-la, pois era sempre a mesma conversa:

– E então, Daiani, já arrumou namorado?

– Não. (eu era de poucas palavras com ela!).

– Mas como não? Olha que idade tu já tens. Com essa idade tua mãe já era casada e tinha uma filha. (a criança em questão era eu).

Esse devia ser um dos motivos pelos quais eu não frequentava a casa dela, não o mais forte, mas um deles. Ficava e ainda fico possessa quando vejo demonstrações de preconceito com as mulheres. Em que tempo vivemos? Ela achava, enquanto viva e já na minha época, que vivia naquele tempo em que trancava minha mãe em casa e não a deixava ir às aulas de educação física para que não ficasse exposta aos meninos que poderiam lhe fazer algum mal.

Nunca tive namorado antes de conhecer meu “namorido”, o que também não me fez falta nenhuma, mas eu percebia a reação de pessoas que achavam um absurdo ou falta de vergonha na cara sair para tomar uma ou várias cervejas entre amigas, sem moço nenhum. Para alguns, ainda hoje, meninas saindo sozinhas tem o único, e exclusivo, motivo de arrumar namorado.

Gente, isso é preconceito! Isso é pensar como minha avó. Já não vivemos mais no tempo em que desde adolescentes começamos a fazer um enxoval para o casamento. As mulheres demoram mais para arrumar namorado e marido, elas são donas de seus narizes. Outra história absurda é dizer que homens e mulheres não podem ser amigos. Meus melhores amigos eram meninos. Na escola minha turma era composta por uns sete ou oito meninos e duas meninas, eu e mais uma. E nunca isso pendeu para o lado da sem vergonhice.

Meninas solteiras querem sair durante o dia ou durante a noite sem dar satisfação. Querem sentar numa mesa de bar, ou café ou restaurante e conversar sobre coisas que só meninas entendem. Querem falar sobre trabalho, estudos, família e meninos. E podem ter certeza, falamos muito sobre meninos, para o bem e para o mal, com ou sem um exemplar. Gostamos de rir alto, de nos sentirmos donas do campinho, mostrar que fazemos o que fazemos porque podemos e, sobretudo, porque queremos.

Com 25 anos, quando arrumei um namorado, minha avó deve ter ficado radiante, tanto que quando o conheceu fez um interrogatório, decerto para saber se, nas palavras dela, “prestava”. Ela morreu e não aprendeu que não vivemos na busca constante por um marido e mulheres e homens podem ser amigos sem um interesse sexual por trás.

Há quem diga que “o outro” é a conquista de um porto seguro, mas estar sozinho não significa não ter o barco ancorado em lugar nenhum.

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