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ARTIGO. Luciano do Monte Ribas e um olhar além, para o tema nacional ‘causado’ por Thammy e Natura

Antes que te levem

Por LUCIANO DO MONTE RIBAS (*)

O episódio ocorrido nessa semana envolvendo Thammy Miranda e a Natura serve, a meu ver, para irmos além da óbvia, necessária e urgente denúncia da LGBTfobia.

Isso não significa minimizar as reações preconceituosas (e, em alguns casos, criminosas) de pessoas famosas e “anônimas”. Pelo contrário, creio que buscar o aprofundamento significa superar o simples “boicota” ou “não boicota” uma empresa – até porque a polêmica integra o cálculo feito por ela ao planejar uma determinada linha para a sua comunicação. A respeito disso, aliás, é importante dizer que, mesmo que a motivação fundamental possa estar no faturamento, é uma conquista termos cada vez mais empresas concluindo que não podem ignorar as mudanças comportamentais pelas quais o mundo passou.

Indo adiante, acho que fatos como esse demonstram o quanto é necessário que pessoas (sobretudo as “públicas”) assumam posições sobre questões sociais relevantes e compreendam que a neutralidade na maior parte desses assuntos significa, na prática, dar suporte aos preconceituosos e aos opressores.

Busco no próprio Thammy Miranda um exemplo para ilustrar isso. Quando perguntado por Fábio Porchat, em 2017, se preferia Jean Willys ou Bolsonaro, ele disse que eram o “nhá ruim” e o “nhá pior”, igualando-os de uma forma que até poderia ser chamada de ingênua, se não partisse de uma figura pública tão agredida por pessoas da estirpe do néscio.

Não sei se Jean Willys disse algo sobre as reações medievais ao comercial, mas tenho quase certeza de que ele as condenaria veementemente. Não por “bondade”, mas por fazer parte de um amplo espectro político que coloca valores humanistas acima das relações pessoais e que é capaz de se indignar mesmo quando a humanidade violada é a de alguém está “do outro lado”. Isso porque pessoas como Jean Willys podem discordar radicalmente do Thammy (que foi filiado ao PP do Maluf e do próprio Bolsonaro, em 2016), mas jamais diriam querer “fuzilá-lo” ou “exterminá-lo”…

Ainda sobre o ex-deputado do PSOL, se desconheço a reação dele à publicidade da empresa de cosméticos, ao menos sei o que disse para outro famoso agredido pelas milícias virtuais e reais do bolsonarismo. Nessa semana, Jean Willys se solidarizou com o youtuber Felipe Neto, outro que aprendeu quem é que defende a democracia, a liberdade de expressão, a humanidade e os direitos elementares de todos e quem os despreza completamente.

Não há sarcasmo em lembrar omissões ou opiniões “descompromissadas” ditas por alguém, no passado. Há, simplesmente, a necessidade de mostrar como elas podem e precisam ser superadas, antes que o “Intertexto” de Bertolt Brecht tenha sua enésima versão prática.

A propósito do poema do autor alemão, caso alguém desconheça ou não lembre da sua simplicidade aguda, esses são seus últimos versos:

Agora estão me levando

            Mas já é tarde

            Como eu não me importei com ninguém

            Ninguém se importa comigo.

Nesses tempos de menosprezo pela vida, ter empatia é um ato quase revolucionário.

(*) Luciano do Monte Ribas é designer gráfico, graduado em Desenho Industrial / Programação Visual e mestre em Artes Visuais, ambos pela UFSM. É presidente do Conselho Municipal de Política Cultural e um dos coordenadores do Santa Maria Vídeo e Cinema, além de já ter exercido diversas funções na iniciativa privada e na gestão pública.

Para segui-lo nas redes sociais: facebook.com/domonteribas – instagram.com/monteribas

Observação do autor, sobre a foto manifestação em apoio à causa palestina, em Florença, Itália.

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