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Cultura. Estamira e as lições de uma catadora de lixo atormentada por problemas psíquicos

O evento “Cultura na Sedufsm” tem se caracterizado por proporcionar o debate de temas diferentes. Ou, pelo menos, fora do circuito, vamos dizer assim. E esse é um mérito da promoção já tradicional da Seção Sindical dos Docentes da UFSM.

 

A última é um exemplo eloqüente dessa circunstância. Um grupo de cerca de 30 pessoas assistiu ao documentário Estamira e, depois, participou de um debate pra lá de interessante. Os detalhes você encontra no material distribuído aos veículos de comunicação, pela assessoria de imprensa da Sedufsm. O texto é de Fritz Nunes, a foto de Renato Seerig. A seguir:

 

“Estamira, o filme: loucura ou lucidez?

 

O documentário “Estamira”, dirigido por Marcos Prado, é polêmico e pode ser analisado por diversos ângulos, como interpretaram os debatedores que participaram nesta segunda, 9, à noite, da 31ª edição do Cultura na SEDUFSM. A catadora do lixão de Gramacho, no Rio, aos 62 anos, foi a personagem principal de um longa-metragem de 116 minutos, realizado em 2006, que, mais do que mostrar o duro cotidiano de alguém que trabalha no meio do lixo, narra a vida de uma pessoa que, mesmo fustigada por sofrimento psíquico, diz frases de efeito que se parecem com lições proféticas. Cerca de 30 pessoas prestigiam a atividade do sindicato docente.

 

Foi esse o pano de fundo para debater questões sobre os limites entre a loucura e a lucidez. Os convidados foram o servidor municipal, coordenador do projeto “Catando Cidadania”, de Santa Maria, Carlos Alberto Flores (Kalu), o diretor de política de saúde mental do município, Douglas Casarotto de Oliveira e o servidor da UFSM e especialista em Saúde Mental, Alfredo Lameira. A coordenação da mesa de debates foi do diretor da SEDUFSM, professor do curso de Comunicação Social, Rondon de Castro, que também trabalha com a produção e direção de filmes.

 

Carlos Alberto Flores, que trabalha com catadores, destacou do filme o fato de que Estamira demonstrava prazer em fazer o trabalho de “catação”. De sua experiência, Kalu, registra que, por mais que possa parecer agressivo a forma de trabalho dessas pessoas, para muitas, esse é ainda um espaço de resistência, de sobrevivência, de busca de dignidade. Até mesmo as crianças, filhas de catadores, constata Kalu, gostam de ir para a “catação” com os pais, pois há todo um universo lúdico que a maioria da sociedade não percebe nesse tipo de trabalho. Flores não é favorável à manutenção dos lixões, mas defende a ampliação das políticas públicas para abranger esse segmento de trabalhadores discriminados.

 

“Soco na cara”

Rondon de Castro provoca e pergunta aos debatedores se a proposta do filme pode ser vista como uma tentativa de “dar um soco na cara” da elite dominante (da burguesia). Para Douglas de Oliveira, que é psicólogo, o entendimento de que pode ser “um soco” se for pensado como a tentativa de atingir a “psiquiatria”, um “tapa na cara da ciência tradicional”. Uma das coisas que Douglas diz ter aprendido ao trabalhador na área de serviço de saúde mental é que “não é só a ciência que determina o tipo de intervenção que se tem que fazer num paciente”.

 

Para o especialista em Saúde Mental, Alfredo Lameira, que durante muitos anos coordenou o programa de rádio “De perto ninguém é normal”, na Rádio Universidade de Santa Maria, o discurso de Estamira no filme pode ser para várias coisas. Uma delas é denunciar a “indústria da doença”, pois ela mostra em trechos do filme que os medicamentos receitados pelo médico mais atrapalham (são “dopantes”) do que a ajudam. Lameira avalia que é importante destacar que, após a reforma psiquiátrica, o fim dos manicômios, melhorou muito a forma de tratamento das pessoas que têm sofrimento psíquico. Contudo, destaca ele, a saúde pública ainda não tem uma estrutura para oferecer tratamento adequado a essa parcela “perturbada” da sociedade.

 

Reflexões filosóficas

Quem assiste ao documentário sobre a vida de “Estamira” pode se divertir em vários momentos, como por exemplo, quando ela repreende seu colega de trabalho no lixão, ou mesmo quando ela se enfurece e se revolta quando o filho ou o neto falam em Deus. Mas, certamente, quando se presta atenção na biografia da senhora de 62 anos, contada pelos próprios filhos, percebe-se o grau de sofrimento, pois foi abandonada pelo marido, estuprada duas vezes. Uma série de situações que, não apenas a perturbaram, mas também a fizeram cética quando a acreditar numa divindade. E, especificamente, na divindade apregoada pelos homens.

 

Nas suas elocubrações, captadas exclusivamente pela câmera do documentarista, Estamira deixa claro sua visão de mundo. Para ela: “Tudo é abstrato. O fogo, a água. Estamira também é abstrata”. Sobre o confronto ciência e religião: “Nenhum cientista viu o além dos aléns”. Sobre o materialimo-capitalista: “Eu não vivo por dinheiro. Eu faço dinheiro”. E sobre as relações sociais: “Comunismo é igualidade”.”

 

 

SUGESTÃO DE LEITURA – confira aqui, se desejar, outras informações oriundas da assessoria de imprensa da Sedufsm.

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