Pelé, 70 anos. O bom de bola e ruim de sociedade – por Dijair Brilhantes e Bruno Lima Rocha
Coluna Além das 4 linhas – edição da semana de 25 de outubro de 2010 – por Dijair Brilhantes & Bruno Lima Rocha
Os 70 anos do “rei”
A rodada do último final de semana foi em homenagem ao ‘rei’ Pelé. Em todos os jogos, havia referências aos 70 anos daquele que foi considerado o atleta do século e disparado, o mais completo boleiro da história (dentro de campo).
Dentro das quatro linhas Pelé foi um gênio. Pode-se questionar a qualidade dos adversários, já que o craque da camisa 10 possuía um físico avantajado e uma disciplina de atleta quando ainda reinava a boemia (Garrincha que o diga!). Mas nenhum jogador de alta qualidade chegou próximo dos 1248 gols marcados por ele (obs: dizem que Arthur Friedenreich, o mago negro e filho de alemães do aristocrático Paulistano teria marcado mais golos que o moço de Três Corações, mas não foram contabilizados). Mesmo na seleção brasileira da copa de ‘70, (considerada a melhor de todas) Pelé foi destaque na conquista do tri-campeonato mundial.
Nem tudo são flores, ainda mais quando temos memória e referência ao milésimo gol e os controversos trabalhos junto a UNICEF. O Deus que a mídia do centro do país tentou criar está longe de cativar o coração dos brasileiros. Apenas no Santos (clube de coração do rei) o ex-atleta é idolatrado. Em grande parte dos estádios do Brasil, o “rei do futebol” já ouviu vaias quando era espectador. Bom de bola e ruim de sociedade.
Quando passou a atuar além das quatro linhas, Edson Arantes do Nascimento passou a ser muito contestado. Como ministro dos esportes de FHC, criou a lei do passe livre. Lei essa que aumentou consideravelmente a crise financeira dos clubes brasileiros, e enriqueceu mais os empresários dos atletas, já que estes passaram a ser os novos donos dos craques da bola.
Pelé também teve seu nome ligado a um desvio de dinheiro da UNICEF em 2002. Ele, o próprio, que ao fazer seu milésimo gol, no Maracanã e contra o Vasco, implorou ajuda as “criancinhas”. A empresa Pelé Sports Inc. (de propriedade do rei) teria recebido cerca de USS 700 mil dólares da UNICEF para realização de um evento que não ocorreu, e o dinheiro não foi devolvido. Pelé acusou o seu ex-sócio Hélio Viana pela movimentação do dinheiro. Tirou da reta e, seguindo a tradição do país do fontismo e das boatarias, ficou por isso mesmo.
Quando resolve falar “a coisa” piora muito. As vésperas da copa de 2002 ele apontou quase um dezena de favoritos para o título, e deixou a seleção brasileira (que viria a ser a campeã daquele ano) de fora, causando revolta entre atletas, comissão técnica, e torcedores.
Pelé em campo foi gênio, já fora dele, deixa muito, mas muito, a desejar.
Uma década sem vencer Gre-nal
No Rio Grande do Sul o clássico Gre-nal, vai muito além de 90 minutos. Na semana que precede o clássico, não há assunto que não termine no grande duelo. Vizinhos conversam sobre o tempo, as eleições, mas no fim o “papo” acaba nesse que é um dos maiores clássicos do Brasil, sendo disparada, a maior rivalidade futebolística tupiniquim. Como diz o técnico Celso Roth, “aqui no Rio Grande do Sul tudo é super valorizado”. A lenda dos gre-nais que o digam.
Tem razão o treinador colorado. Perder um Gre-nal pode mudar o rumo dos clubes da dupla, derrubando ídolos e atirando cartolas vitoriosos em temporário ostracismo (detalhe é que a cartolagem é como um fantasma, sempre paira e volta, assombrando a democracia interna e as finanças das agremiações). Voltando ao mundo da bola em sentido estrito, o próprio Roth sofreu na pele a importância dada ao clássico. Em 2009 quando ainda treinava o Grêmio e fazia ótima campanha na Copa Libertadores, foi demitido após uma má seqüência de resultados em jogos contra o arqui-rival Internacional.
A sina do técnico hoje consagrado, mas que na década de ’90 era maldosamente apelidado de “Felipinho” (em alusão ao Felipão Scolari, sua inspiração), continua. No último dia 7 de outubro, Celso Juarez Roth completou uma década sem vencer um Gre-nal. Foram 9 jogos, 7 deles pelo Grêmio e 2 pelo Internacional. Mesmo sendo gaúcho, o professor Roth parece não ter a “fórmula” de vencer o tão disputado clássico Gre-nal. Periga de sair campeão do mundo FIFA em dezembro e ainda assim vai ter de aturar repórter da província lembrando a amarga estatística.
Os últimos clássicos da década
A rodada do último fim de semana (sábado 23 e domingo 24 de outubro) foi “quente”, marcada por clássicos emocionantes, e mudanças consideráveis na tabela. Após sete jogos sem vencer, o Corinthians de técnico novo (Tite) venceu o Palmeiras de Felipão por 1×0, e ficou a um ponto da liderança. No Engenhão, Vasco e Flamengo (este que já foi considerado o clássico dos milhões) fizeram um jogo morno e ficaram no 1×1. Resultado esse que se repete no meio de semana, entre o Flamengo do Capitão Léo e o Corinthians do ex-presidente Alberto Dualib (!). Em Porto Alegre Grêmio e Internacional realizaram um dos melhores Gre-nais dos últimos anos, embora tenham empatado em 2×2. A polêmica ficou por conta do quinto árbitro que teria comemorado o pênalti marcado (corretamente) a favor do Internacional. O vídeo com a imagem percorreu o Brasil nesta segunda-feira e nos faz lembrar que o profissionalismo também tem muito de varzeano, em suas piores características, como o árbitro caseiro, o juiz amigo e a pressão externa.
Mas, nada foi mais emocionante que o clássico mineiro. Jogando no Parque do Sabiá, em Uberlândia, região do Triângulo Mineiro com torcida única (a do Cruzeiro) devido as condições de segurança, o Atlético-MG venceu por 4 x 3, sendo 3 gols do folclórico atacante Obina. O galo mineiro saiu da zona de rebaixamento após 21 rodadas (ufa!). Já a raposa caiu para o segundo lugar com 54 pontos mesmo número de pontos do Fluminense o ainda “novo” líder.
Dijair Brilhantes ([email protected]) é estudante de jornalismo & Bruno Lima Rocha ([email protected]) é editor do portal Estratégia & Análise
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