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A ditadura da felicidade – por Luciano Ribas

Tudo bem que não acordei com o melhor dos humores nesta quinta-feira (o que alguns mais chegados diriam não ser nenhuma novidade), mas não é irritante essa obrigação de ser feliz que no período final do ano tentam nos impor? Como se felicidade fosse um estado induzido por cliparts de sinos natalinos e máquinas que aceitam todos os cartões de crédito. Ou, ainda, como se fosse possível estabelecer um período mágico de solidariedade, um momento de expiação coletiva onde as senhoras bem comportadas podem aliviar suas consciências pegando uma cartinha nos correios.

Evidentemente que não tenho nada contra a felicidade. Mas, contra as imposições e as artificialidades, tenho tudo. Afinal, como o fato de nos empanturrarmos de aves natalinas ou de enchermos uma árvore morta de falsos flocos de neve pode nos transformar em pessoas melhores?

Alguém diria que há um “sentido ritualístico” ou “simbólico” nisso, o que até pode ter sido verdade em algum momento, mas hoje não mais. Natal e Ano Novo são, nesses tempos pós-modernos, consumo, o que certamente não é algo ruim (especialmente para quem vive da propaganda, como eu), mas também não é a nossa redenção como seres humanos.

Nessa altura do texto, um leitor mais desavisado deve achar que vou lembrar o “sentido religioso” do Natal. Quem conhece as minhas ideias sabe que é óbvio que não farei isso, ao menos da maneira como o senso comum costuma fazê-lo. Se fosse para trazer para o terreno das crendices, eu o faria para lembrar que o Natal é uma festa adaptada da celebração do deus Mitra, além de uma data escolhida a dedo para ser a do nascimento de Jesus – sim, alguém muito esperto e poderoso um dia pensou “quem sabe pegamos a data em que os romanos comemoram o nascimento do invicto e dizemos que foi nesse dia que Cristo nasceu?”. Mas também não é o que quero fazer nesse artigo.

O que quero, então, ora bolas? Nem eu sei bem, para ser muito sincero. Sei, porém, que quero defender o direito da meia dúzia de desajustados que, como eu, não vêem a hora de acordar na manhã de 2 de janeiro para deixar para trás esses dias que eu chamo de “ditadura da felicidade”, onde tenho medo que um Robespierre vestindo barbas falsas e roupas vermelhas apareça para me dizer “ou fica feliz ou vai pra guilhotina!”. Um alívio que dura pouco, pois mal passa o período da felicidade imposta e já começa o da ditadura da alegria – e dá-lhe a-la-la-la-ô-ô-ô-ô-ô até março de 2011!

Haja ceticismo pós-moderno para conviver com tudo isso…

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6 Comentários

  1. @Luiz Reffatti
    Luiz, agradeço a leitura e retribuo os votos.
    Ainda sobre a felicidade, penso que quanto menos uma pessoa conhece, mais feliz ela é. É por isso que as religiões afirmam-se como portadoras da verdade única e cultivam a ignorância ao questionarem a ciência.
    Minha opção é, mesmo correndo o risco de ser menos feliz, procurar conhecer e entender o que me for possível do mundo que nos cerca, renunciando às “explicações” místicas que o mercado da fé nos oferece.

  2. o texto do Luciano é lógico (como sempre). Mas, felizmente, a vida não é feita apenas de lógica. A verdade (ela existe?) é mais importante que a felicidade? Isso me lembra o saudoso Luiz Menezes e seu poema “Além do Orizonte”: “… Por isso eu suplico ao Deus meu Senhor, que deixe nos sonhos do moço, da moça, do velho, de todos, um mundo bonito que além eu não vi, que cantem cantigas de mil esperanças, cantigas bonitas que eu fiz e perdi.” um forte abraço e um feliz Natal p/ ti Luciano hehehe

  3. Ainda bem que eu leio Claudemir , e posso encontrar mais
    pessoas como eu.
    Eu não estou sozinho.
    Salve, salve Luciano Ribas.
    Obrigado Claudemir!

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