Ideologia. Esquerda só tem um terço dos votos no Congresso. E o restante, é de Direita?
Há quem entenda que esta é uma discussão antiga e superada. É. Talvez seja. Afinal, o que é ser de esquerda nos dias de hoje? Antes de 79, era corrente dizer que quem não era do governo da Arena, era esquerdista. Depois, viu-se que esquerda, esquerda meeesmo, não eram todos os que estavam no MDB. Nesse sentido, a antiguidade é óbvia.
Mas, e hoje, o que significa essa discussão? Que parâmetros podem ser utilizados? Ser do PT é ser de esquerda? Pode ser. Mas há gente dentro do PT que é considerada de direita por vários grupos petistas. Tem até uma corrente, chamada Articulação de Esquerda, que é considerada, digamos, conservadora.
Para não poucos, o PC do B é de direita. Assim como, e nisso há quase um consenso, o PPS, embora oriundo do antigo Partido Comunsita Brasileiro, é definitivamente de direita não importe o que esbraveje seu presidente, o ex-comunsita Roberto Freire.
Cá entre nós, é quase um anacronismo essa divisão ideológica, do ponto de vista prático. Vale muito para a academia, quase nada para, digamos, o Parlamento. Há, sim, e aqui quem fala sou eu, progressistas (que vêem a necessidade da regulação das relações entre trabalho e capital, que beneficiem a sociedade, e não apenas um lado) e conservadores (que querem que tudo fique como estava, nem é como está). Fora disso, vale a discussão. E pouco mais que isso.
A propósito dessa questão esquerda-direita, pode valer por exemplo o fato de as centrais sindicais entenderem como esquerdistas aqueles que defendam as idéias dela. E, nesse caso, provavelmente só nesse, há pouca gente do lado esquerdo no Congresso Nacional. Como, a propósito, trata do assunto o site Carta Maior, em reportagem assinada por Nelson Breve. Leia:
Esquerda no Congresso Nacional é minoria no governo Lula
Bancada que se orienta no Parlamento em sintonia com as organizações de trabalhadores equivale a um terço dos deputados e menos da metade da base governista, segundo votação de emenda do projeto da Super Receita.
Entendida pelas centrais sindicais como um divisor de águas entre os defensores do trabalho e os defensores do capital, a votação da emenda que retira dos fiscais da Receita Federal do Brasil a autoridade para reconhecer se uma determinada contratação pode ou não ser feita sem carteira assinada, esboçou um panorama mais concreto da correlação de forças no Parlamento neste início de segundo mandato do presidente Lula.
No início da tarde desta terça-feira (13), votaram a emenda 450 dos 513 deputados. Sendo 245 do Blocão Governista (PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB), que representou 54% do total de votantes; 61 do chamado Bloco Governista de Esquerda (PSB/PDT/PCdoB/PMN/PAN), 13,5%; 129 do Bloco Oposicionista, que já se desfez (PSDB/PFL/PPS), 29%; e 15 dos partidos que não se alinharam automaticamente com ninguém neste início de Legislatura (PV, PSOL, PHS e PRB), 3%.
Considerando que o PRB (com o voto de um deputado), mesmo não fazendo parte dos blocos governistas integra a base do governo, teríamos a seguinte divisão: votaram 307 deputados governistas (68%) e 129 oposicionistas (29%).
Primeira conclusão: a base do governo tem mais de dois terços da Câmara dos Deputados.
No entanto, os governistas ficaram divididos nessa matéria. Tanto que a Liderança do Governo liberou sua bancada. No Blocão, o líder, que é do PMDB, recomendou o voto SIM, a favor da emenda contestada pelas centrais trabalhistas. Mas o PT abriu uma dissidência interna, recomendando a sua bancada o voto NÃO. Dos 245 integrantes do Blocão que votaram, 150 ficaram do lado do capital (61%) e 95 do lado do trabalho (39%).
No Bloco da Esquerda não houve deliberação para encaminhamento de voto e a bancada foi liberada. Dos 61 deputados que votaram, 40 ficaram do lado do trabalho (66%) e 21 do lado do capital (34%). Juntando toda a base governista, tivemos 307 votantes, dos quais 172 (56%) votaram contra a orientação das centrais de trabalhadores e 135 (44%) a favor.
Segunda conclusão: a maioria da base do governo está do lado do patronato e a minoria do lado dos trabalhadores. Portanto, o governo Lula não pode ser um governo de esquerda.
No Bloco da Oposição, os líderes do PSDB e do PFL encaminharam o voto SIM, contra a orientação das centrais, e o PPS liberou sua bancada para votar como quisesse. Dos 129 votos dos integrantes dos três partidos, 124 (96%) ficaram com os patrões e apenas cinco (4%) com os trabalhadores. Note-se que todos os 57 deputados do PFL que votaram ficaram do lado do patronato e apenas dois dos 60 tucanos ficaram do lado dos trabalhadores. No PPS, apenas três dos 12 votantes (25%) ficaram do lado dos trabalhadores, inclusive o líder, Fernando Coruja (SC)
SE DESEJAR ler a íntegra da reportagem, clique aqui.
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