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“Guerra Civil”: o acordo entre polícia e bandidos

Ainda que todos os indícios apontam para uma verdadeira matança, em que policiais paulistas dizem ter atirado contra “suspeitos” de pertencerem ao PCC (Primeiro Comando da Capital) – que comandou a rebelião que atinge o Estado mais rico do país desde a noite de sexta-feira, 12 de maio – a verdade é que, aparentemente, a violência começa a retroagir aos seus níveis “normais”. E por que isso aconteceu?

Apesar de todas as negativas, há suficientes evidências de que houve, sim, um acordo entre as autoridades de “segurança” e os bandidos. E mais: gente muito bem postada no comando do Governo do Estado manteve contato direto com o comandante do crime organizado. É o que mostra, em texto publicado na noite desta terça-feira, no seu blog na internet (e provavelmente reproduzido nesta quarta pelo jornal Folha de São Paulo) o jornalista Josias de Souza. Leia você mesmo:

”Cessar-fogo em SP veio após reunião com bandido

O cessar-fogo decretado pelo crime organizado na guerra que travava desde sexta-feira com a polícia de São Paulo foi precedido de um inusitado encontro. Representantes do Estado reuniram-se com o manda-chuva do PCC (Primeiro Comando da Capital), Marcos Willians Herba Camacho, o Marcola. Deu-se nas dependências do presídio de “segurança máxima” de Presidente Bernardes.

Em entrevista concedida nesta terça-feira, o secretário de Administração Penitenciária de São Paulo, Nagashi Furukawa, reconheceu a existência do encontro. Relatou-o até certo ponto. O ponto de interrogação. Disse o seguinte, conforme relato da repórter Gabriela Manzini:

1. Iracema Vasciaveo, advogada e ex-delegada, entrou em contato com a polícia. Disse que poderia obter o fim da conflagração que subverteu a ordem de São Paulo se pudesse atestar a integridade física do bandido Marcola e se obtivesse a garantia de que não haveria revanche contra presos do PCC;

2. Marcola era o rosto escondido atrás da anarquia que tomara as ruas de São Paulo, espalhando pânico por meio de 251 ataques, dos quais resultaram mais de uma centena de cadáveres. No último domingo, a advogada Iracema foi embarcada num avião da PM;

3. A aeronave oficial voou de São Paulo para Presidente Bernardes. Junto com a porta-voz da bandidagem, viajaram ninguém menos que o comandante da PM, Ailton Araújo Brandão; um representante da Secretaria de Administração Penitenciária, o corregedor Antônio Ruiz Lopes; e o vice-diretor do Departamento de Investigação sobre Narcóticos, delegado José Luiz Cavalcante;

4. Chegando ao presídio de Presidente Bernardes, foram à presença de Sua Excelência Marcola, o delinqüente. Conversaram com a autoridade do crime por cerca de duas horas. Não se sabe ao certo sobre o que falaram. Daí o ponto de interrogação que ficou boiando na atmosfera espessa que envolveu a entrevista do secretário Furukawa;

5. De concreto, tem-se que, menos de 24 horas depois dessa reunião, estabeleceu-se um armistício na guerra que infelicitava São Paulo desde a sexta-feira anterior. “Não houve acordo”, disse Furukawa, repetindo uma jura pronunciada por todas as autoridades que se dispuseram a tratar do tema em público, a começar do governador Cláudio Lembo;

6. Transferido para Presidente Bernardes no sábado, o bandido Marcola encontrava-se submetido ao RDD (Regime Disciplinar Diferenciado). Estava proibido de receber visitas por pelo menos dez dias. Não podia falar nem mesmo com seus advogados. O secretário Furukawa disse que o governo abriu uma exceção por conta da “situação especial” que se verificava no Estado.

7. A interrupção da onda de violência foi ordenada por asseclas de Marcola, pelo celular, de dentro de um presídio paulista. A exemplo das autoridades governamentais, também a advogada Irene, guindada à condição de voz informal do PCC, disse que não houve propriamente um acordo. Define o encontro com Marcola à sua maneira: “Entendo que isto foi uma demonstração de boa vontade [do governo]”.

Como se vê, na relação com o PCC, a facção mais bem-estruturada do crime organizado pátrio, o governo paulista fez papel de marionete. Os criminosos, porém, não perdem por esperar. Ganham. Assim como terminou, a balbúrdia pode recomeçar a qualquer momento. Basta que o governo paralelo do PCC baixe um novo decreto. “


QUEM DESEJAR ler mais informações acerca da “guerra civil” paulista, através do normalmente bem informado jornalista, pode fazê-lo acessando o endereço http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/ .

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