A expressão cinismo não foi utilizada pelo parlamentar. Mas a crítica foi forte, a feita por Paulo Pimenta (PT), o deputado federal santa-mariense, na tribuna da Câmara, na tarde desta quinta-feira.
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O petista apontou as incongruências da mídia, e usou um exemplo prático, do jornal carioca O Globo, para mostrar o que acontece. Os detalhes vêm no material produzido por sua assessoria. O texto é do jornalista Fabrício Carbonel, com foto da Agência Câmara de Notícias. A seguir:
“Deputado Pimenta critica silêncio da mídia sobre restrição de publicidade de cerveja como medida para redução de mortes no trânsito
Há cerca de 15 dias, no plenário da Câmara, o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) previu o comportamento da mídia brasileira que, após a quarta-feira de cinzas, se debruçaria sobre o número de acidentes no trânsito, em conseqüência da combinação carnaval, cerveja e automóveis. Na tarde desta quinta-feira (10), com exemplares de jornais, Pimenta demonstrou, na tribuna, a “preocupação” dos jornais brasileiros, com artigos e editoriais, sobre o tema.
O deputado criticou a posição da grande mídia, que em suas manifestações sobre a violência nas estradas brasileiras ignorou, mais uma vez, a medida apontada pela Organização Mundial da Saúde, que sugere a restrição da publicidade de cerveja como medida para redução do número de mortes no trânsito. “A combinação álcool e direção é abordada por vários ângulos pela mídia, entretanto, uma medida eficaz apontada pela OMS é sistematicamente deixada de lado. Eu gostaria que a imprensa fizesse editoriais cobrando, como faz com tantas temas, que o Parlamento tivesse coragem de aprovar uma lei restringindo a publicidade de cerveja. Por que não há uma cobrança forte, organizada da mídia nacional com relação a esse assunto”?, questionou Pimenta.
Em um exemplo simbólico, Pimenta utilizou a edição desta quinta-feira do jornal O Globo, que em uma página traz editorial sobre o número de acidentes e mortes no período do carnaval “Violência nas estradas é tragédia nacional”. Entretanto, esse mesmo jornal em uma página anterior ao editorial estampa uma publicidade de carros e na página seguinte, uma publicidade de cerveja.
“Chega a ser uma situação inusitada. Nós compreendemos que há muitos interesses e muito dinheiro envolvido, mas não há dinheiro que justifique uma omissão de um país como o Brasil. Os telejornais brasileiros trazem estatísticas das mortes no trânsito, e no intervalo o que se oferece é cerveja e mais cerveja”, protestou o deputado.
O parlamentar criticou também a omissão do parlamento que cedeu às pressões das grandes empresas de cerveja, quando em 1996 foi aprovada a lei que estabeleceu controles à publicidade de cigarros em horário nobre na televisão brasileira.
“Quando o Governo mandou para esta Casa o projeto de lei que proibia a propaganda do cigarro, no texto também estava prevista a proibição da propaganda da bebida. Na época, as agências de publicidade trouxeram para o Salão Verde da Câmara cantores, artistas e desportistas conhecidos, e esse grupo de especialistas convenceu a sociedade aqui representada de que era preciso colocar uma vírgula no projeto, para que a cerveja ficasse de fora da proibição. E assim foi feito. Mas agora, chegou o momento de repararmos esse grande equívoco que foi cometido”.
Pimenta ainda citou as orientações do Conselho de Autorregulamentação Publicitária (CONAR), que timidamente orienta para que não se vincule a publicidade das cervejas a esporte, carros, mulheres, sinal de maturidade que não são seguidas pelas agências de publicidade.”
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