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Aos trinta – por Daiani Ferrari

Em setembro, fiz trinta anos. Virei uma trintona, uma balzaquiana, se quiserem chamar assim. Desde então fico pensando o que diferencia os meus vinte anos dos trinta. Aos vinte, tudo era fácil. Pensava em faculdade, dependia financeiramente da minha mãe, tinha uma vida pela frente com mil possibilidades e a cada dia uma me agradava mais. Sonhava com um príncipe encantado e correr o mundo com uma mochila nas costas.

Ver as amigas não dependia de mais que um simples convite para um encontro. Não levava muito tempo e todas estavam juntas, fosse para ir a um bar, uma boate (porque eu não sou do tempo da balada) ou ficar em casa, apenas conversando. Nenhuma tinha muitos compromissos. E foi, então, essa semana, que vi a diferença entre os vinte e os trinta, pois há quase dois meses estou tentando visitar uma amiga. O encontro seria entre três, ou seja, agora são três vidas que precisam se ajustar para que consigamos nos encontrar.

Aos trinta, temos filhos, casa para limpar, cachorro, marido, estudos ou uma dor de cabeça do inferno. Um dia uma não pode. No outro, outra tem um compromisso marcado há tempos e em outra ocasião a terceira está com o filho um pouco febril e é melhor que ele receba atenção da mãe. Desde quando a nossa agenda é tão cheia? Não sei se os imprevistos acontecem com mais frequência com o passar do tempo ou simplesmente passamos a não ter mais como escapar deles. Chega uma hora em que temos que fazer por nós mesmos.

Na verdade, não é a idade que faz diferença, é tudo o que aprendemos e fomos acumulando com o passar dos anos. Aos trinta, já não é mais época de bater o pé e fazer birra, temos que lidar com a vida que temos, com a nossa realidade. Eu não pude correr o mundo, mas aos poucos consigo viajar e conhecer algumas coisas legais. Não casei com o príncipe encantado, mas ele é o meu amor e tem olhos azuis, como os príncipes. Não tenho mais o corpo que eu tinha, mas agora tenho curvas que causam inveja em algumas pessoas. Não sou rica como sempre sonhei, muito menos tenho o melhor emprego do mundo. Não tenho filho, mas tenho uma enteada que é a coisa mais linda do mundo. E é quem eu sou e tenho que fazer disso o melhor possível.

Com o tempo a gente aprende que a nossa vida é o que ela pode ser. E ela é boa do jeito que é. E só vai melhorando à medida que vamos nos aceitando. Se antes era boa, está dez anos melhor. E nos quarenta estará dez anos melhor que os trinta e vinte melhor que os vinte. Nesse momento, os trinta são o novo pretinho básico. Pelo menos para mim.

Depois de tanto planejar, minhas amigas e eu conseguimos marcar um encontro. Sexta-feira, depois das 18h. Depois do trabalho, do médico, de pegar o filho com a babá, da aula de inglês e da visita à  casa da mãe. E vai ser trinta vezes bom.

 

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