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Anos de chumbo. É incrível. Torturadores do DOI-Codi têm coragem de falar em “difamação”

Quem tem pelo menos 35 anos sabe, e muito bem, o que foram os anos de chumbo, mesmo que tenha sido apenas no final. E os mais jovens, a cada dia, possuem mais bibliografia disponível para verificar, do ponto de vista dos perdedores – isto é, dos torturados e perseguidos – o que aconteceu entre 64 e o final dos anos 70, no Brasil.

E, inclusive por obra e graça de algumas ações no Judiciário, como a que quer ver declarada a ação do torturador Brilhante Ustra, o que foi aquele tempo de horror. Mas, ainda assim, surgem coisas exóticas. Uma delas é um documento secreto, que veio a público agora, com a “irritação dos militares” como que eles consideravam uma difamação à “imagem positiva” do organismo da repressão. E que teve Ustra como um de seus integrantes, aliás.

Trata-se, no mínimo, de muita cara de pau. E, em grau máximo, um desrespeito para com as vítimas e, sobretudo, em relação à história. Ou o contrário, o que você preferir. Quem trata do tema, em reportagem publicada no jornal O Estado de São Paulo, é o jornalista Marcelo de Moraes, da sucursal brasiliense do jornalão paulista. Acompanhe:>

”PCB foi acusado de difamar DOI-Codi
Em 1975, documento secreto mostra irritação de militares com tentativa de destruir ‘imagem positiva’ do órgão

Documentos produzidos pelo Centro de Informações do Exército (CIE) em 1975 e inéditos até hoje fazem apologia do trabalho dos integrantes do DOI-Codi, órgão de repressão da ditadura acusado de torturar presos políticos, e acusam o PCB de tentar difamá-los. Os textos confidenciais, guardados no Arquivo Nacional e aos quais o Estado teve acesso, mostram a irritação dos militares pela campanha “padronizada e orientada pelo PCB, com a finalidade de atingir os principais órgãos de combate à subversão”.

Parentes de “conhecidos e perigosos terroristas”, segundo o CIE, tentavam destruir “a imagem positiva” que os agentes do DOI-Codi “conquistaram na opinião pública pelo êxito obtido exatamente nesse combate”.

“O heroísmo, a abnegação e desprendimento na dedicação ao serviço de nossa pátria, o sacrifício da própria vida, todos esses aspectos do punhado de abnegados defensores do País que compuseram e compõem esses órgãos são transformados para considerá-los como ‘indivíduos bêbados, que não respeitam ninguém, desumanos, algozes, torturadores, sádicos, que ameaçam os familiares indefesos, inclusive filhos menores’”, diz o Relatório Periódico de Informações do Ministério do Exército do período de 1 a 31 de março de 1975, guardado no Arquivo Nacional, em Brasília, sob o registro ACE 82027/75.

Segundo o relatório, os adversários agiam de forma articulada para espalhar informações contra a ditadura. “Os políticos contestadores da revolução de 64, travestidos em opositores do atual governo, sob a regência do PCB/MCI (Movimento Comunista Internacional), vêm utilizando-se desse instrumento da guerra psicológica, com real proveito, materializado na mobilização de parcela ponderável da opinião pública”, diz. “As armas utilizadas são, de preferência, o boato, a canção de protesto, a charge humorística, divulgados ora pelos meios legais, ora pelos clandestinos.”

O documento mostra a preocupação do Exército com o novo estilo de ação dos grupos que considerava subversivos. O CIE registra que as principais bandeiras eram anistia geral, revogação do AI-5, restauração do estado de direito, garantia aos direitos da pessoa humana, extinção da censura e solidariedade aos presos políticos…”


SE DESEJAR ler a íntegra da reportagem, pode fazê-lo acessando a página do jornal O Estado de São Paulo na internet, no endereço http://www.estado.com.br/editorias/2006/12/24/pol-1.93.11.20061224.14.1.xml.

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