Artigos

Rotas críticas – por Débora Dias

Participei do Seminário Internacional Rotas Críticas III: Situações Limite decorrentes da violência de gênero, que ocorreu em Porto Alegre nos dias 25, 26 e 27 de maio. Mas, antes de ingressar no assunto, gostaria de dizer do como é importante em alguns momentos sairmos de nossa zona de conforto, de nosso habitat natural, mesmo que a princípio isto não nos pareça relevante.

Saí de Santa Maria dia 25, por volta das 04h30min, cheguei em Porto Alegre às 09 horas, cansada. Iniciei a participação no seminário que é da área de saúde, com diversas palestras e oficinas com palestrantes ilustres como da socióloga MontSerrat Sagot, Universidade da Costa Rica e outros. O assunto era a violência contra a mulher, as situações limite enfrentadas decorrentes da violência de gênero, como o femicídio e também discussão sobre a violência relativa à diversidade sexual, etc.

O interessante é que quando encontramos e/ou enfrentamos pessoas de áreas diferentes às de nosso conhecimento, com visões diferentes, o embate é muito rico embora nos sintamos por vezes “vulneráveis”. Diante disto, a situação proposta nos força a analisarmos situação rotineira sob ângulo distinto. Realmente saímos de nossa zona de conforto.

O assunto, violência contra a mulher, é para mim caminho trilhado diariamente na delegacia de polícia especializada. Entretanto, o encontro foi com profissionais que atuam em outra área que não a segurança pública, assim para eles nós somos apenas uma delegacia de polícia ou a polícia com todos os conceitos e pré-conceitos decorrentes de um serviço público ou ainda de resquícios deixados por uma época que ninguém quer lembrar e ao mesmo tempo não pode ou quer esquecer, mas isso é tema para outro debate. Voltando ao assunto, eles para mim eram somente o pessoal da saúde ou da enfermagem, da medicina, mas…nós estávamos naquele momento unidos em torno de um único assunto, por demais relevante e com a mesma preocupação.

A visão de profissionais de outra área que não a da segurança pública ou do direito, com seu olhar peculiar de “cuidados” com o ser humano acima de tudo, em ver além da doença visível ou descrita pelo paciente, nos fez refletir, nos fez pensar que estávamos realmente muito próximos. E, ainda que a preocupação deles também é a nossa; lidamos com todos os percalços do enfrentamento da violência contra a mulher, como a falta de comprometimento de alguns profissionais, a falta de comprometimento do ser humano de um modo geral, a falta de um plano de Estado e não de governo que priorize a questão da violência contra a mulher, da segurança pública, da saúde e da educação, não somente nos palanques em épocas de eleição. Contudo observados que paralelamente a todas as dificuldades há mudanças, já foi pior e a inquietação de tantos com a questão não pode ter outro destino senão a de transformação. Quando nos encontramos fazemos o verdadeiro aprendizado.

A violência contra a mulher é considerada um problema de saúde pública pela OMS. A violência decorrente do gênero é causa de doenças físicas e psicológicas (depressão, dores crônicas, etc), além claro do que se pode visualizar dessa violência fisicamente como lesões, assassinatos e suicídios.

A discussão dos três dias veio fortalecer o que penso e sempre preconizo, isto é,  a violência contra a mulher, fenômeno multifacetado e complexo não é somente caso de polícia, mas é caso da saúde, da assistência social, da educação, da efetivação de políticas públicas previstas na lei Maria da Penha, de eficácia de políticas públicas que respondem de forma limitada, de vontade e ação políticas comprometidas no enfrentamento da violência, de quebra de mitos que naturalizam e banalizam a violência contra a mulher, de desconstrução e reconstrução social de valores, figurando a mulher como agente transformadora de sua história, nem vítima nem culpada, mas consciente que pode mudar, junto e com apoio de uma sociedade livre de pré-conceitos, de respeito aos direitos humanos.  Finalizo com uma frase da Médica e Professora  Ana Flávia d‘Oliveira, USP, que diz: A mudança da sociedade é a mudança de cada um de nós, porque a sociedade não está fora de nós.

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

Um Comentário

  1. Débora, ótima síntese dos dias que passamos juntas aprendendo um pouco mais sobre esse caminho intrincado que é trabalhar a violência de gênero. Parabéns !

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo