A segundona mandou a tradição para escanteio. De novo – por Dijair Brilhantes e Anderson Santos
Coluna Além das 4 linhas – edição da semana de 11 de julho de 2011 – por Dijair Brilhantes e Anderson Santos
O segredo do acesso
Foram definidos no penúltimo final de semana os dois times que participarão do Gauchão Coca-Cola (vende-se até onde jogador comemora gol, imagina nome de torneio!) do ano que vem. Avenida e Cerâmica se juntarão à elite gaúcha que cada vez mais joga para escanteio a tradição em troca de clubes que por algum motivo arranjam quem possa pagar um bom elenco.
O quadrangular final da Segunda Divisão do Campeonato Gaúcho definiu no domingo o seu último classificado para ascender à primeira divisão. No sábado à tarde, o já classificado Cerâmica apenas empatou por 1 a 1 com o Juventus e abriu espaço para o Avenida, de Santa Cruz do Sul, voltar à elite gaúcha após um ano fora com o título da Segundona.
O confronto em Farroupilha contra o Brasil local definiria a última vaga para o acesso. O Brasil começou na frente, mas sofreu a virada com três gols do Avenida, que comemorou junto com a sua pequena torcida o título e o acesso ao Gauchão Coca-Cola.
Santa Cruz do Sul é conhecida como a “capital nacional do fumo”, sediando grandes empresas produtoras de cigarro, como a Souza Cruz, o que garante recursos e empregos (a partir do vício alheio) para a cidade.
Cerâmica também subiu
Já na tarde da última quarta-feira, dia 06 de julho, o Cerâmica Atlético Clube conquistou a sua vaga na elite do futebol gaúcho com um empate em 0 a 0 com o Avenida, no estádio dos Eucaliptos. Os dois times que subiram conquistaram o acesso fora de suas casas.
O time de Gravataí foi fundado em 19 de abril de 1950, data escolhida para homenagear o aniversário de Getúlio Vargas, por funcionários de uma fábrica de cerâmica local que resolveram montar um time amador de futebol.
Só em 2007, o Cerâmica, sob o comando do presidente Décio Vicente Becker, deixou o amadorismo para se tornar um clube profissional. Já no ano seguinte o clube foi vice-campeão da Copa Lupi Martins (um torneio da Federação Gaúcha para manter os clubes pequenos em atividade), o que lhe deu vaga na Copa do Brasil de 2010, onde foi eliminado após goleada por 6 a 1 para o Paraná ainda na primeira fase.
Desde sua profissionalização o clube de Gravataí vem investindo nas categorias de base, principalmente nas escolinhas. Quando o atleta chega aos 16 anos, passa por uma avaliação para ser aproveitado na equipe júnior, o que garante uma boa estrutura para formação de novos atletas.
Apoio de montadora e do vice-prefeito dono de metalúrgica
Fora das quatro linhas, o tricolor de Gravataí fechou uma parceria em 2010 com a Chevrolet, que possui uma montadora na cidade, que passou a ser importante nas finanças do clube e um diferencial quando comparado aos outros clubes do interior do Rio Grande do Sul. Devido ao patrocínio, o nome do clube aparece constantemente nos eventos realizados pela montadora.
O presidente Décio Becker é empresário do setor metalúrgico, proprietário da Carlos Becker Metalúrgica, a qual foi visitada como motivo de descontração pelo grupo de atletas. Becker também é vice-prefeito de Gravataí e injeta dinheiro próprio no clube. O que gera a dúvida se o time pretende fazer história no futebol ou apenas gerar retorno financeiro ao empresário, já que o clube ainda não tem histórico para possuir uma grande torcida.
E a tradição, como fica?
Ficaram no caminho da Segundona gaúcha times com mais tradição, mas em cidades atualmente com muitos problemas econômicos. Só para citar dois exemplos de cidades que um dos autores deste texto esteve neste final de semana.
Bagé tem dois clubes. O Guarany venceu dois estaduais e o Bagé outro. Este ano eles disputaram a Segundona do Gauchão e pior do que não ter passado sequer da primeira fase, regionalizada e com muitos clubes, é que foram rebaixados para a inédita terceira divisão gaúcha, que começará no ano que vem e ampliará o fosso do futebol local.
A segunda cidade da lista é Pelotas, que tem o primeiro campeão estadual da história, em 1919. O tradicional Grêmio Esportivo Brasil, com uma apaixonada torcida e membro da agora restrita Série C do Brasileiro, passará mais um ano na segunda divisão gaúcha.
O time foi rebaixado após a tragédia com o ônibus da delegação do clube na pré-temporada de 2009, quando foi obrigado pela tabela, e pelo contrato de transmissão a se cumprir com a RBS, a disputar jogos no primeiro turno dia sim, dia não.
A cidade ainda tem o Pelotas na primeira divisão, campeão estadual no tapetão em 1930, numa final em que o time do Grêmio saiu do jogo.
Pelas dificuldades do momento atual do futebol, cada vez mais as classificações ficam divididas entre os clubes com dinheiro e dos clubes sem, geralmente os que recebem maior cota da TV e os que recebem menos – que ainda podem contar, como nos dois casos que ascenderam este ano, com apoios vultosos de empresas. O negócio está cada vez mais sobrepujando o peso da camisa e o forte grito do torcedor apaixonado.
QUEM ESCREVE:
Dijair Brilhantes ([email protected]) é estudante de jornalismo, Anderson Santos é jornalista e mestrando em comunicação social na Unisinos ([email protected])
Twitter da coluna: @alem_das4linhas
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