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Doses de família perfeita – por Bianca Zasso

biancaA ideia da família americana estilo comercial de margarina, morando em uma bela casa e crianças brincando no quintal nasceu nos anos 50. E em 1955, o diretor Nicholas Ray imortalizou nas telonas a imagem dos jovens rebeldes que trincaram a imagem de lar perfeito que a América do Norte vendia.

Juventude Transviada, além de tornar o ator James Dean um astro, criou o mito do adolescente que se rebela com os pais e tenta chamar a atenção apostando rachas nas ruas e se metendo em outras confusões. A imagem de Dean usando sua jaqueta de couro vermelha é conhecida até por quem nunca passou perto do filme. Um ano depois de Juventude Transviada, Ray dirigiu uma outra história familiar com um ingrediente extra.

A medicina ainda desconhecia todos os efeitos da cortisona quando Delírio de loucura chegou às telas do cinema. A trama apresenta o cotidiano do professor Ed, interpretado por James Manson. Ao lado de sua esposa Lou e seu filho Ritchie, ele aparenta ter uma vida perfeita. No entanto,  esconde um segundo emprego numa frota de táxi para complementar a renda.

Após sofrer com crises de dores intensas, Ed descobre que sofre de uma doença rara e inicia um tratamento experimental à base de cortisona. Apesar dos bons resultados físicos, Ed começa a ter um comportamento estranho e utilizar doses acima do recomendado pelos médicos. E o que era um melodrama se transforma num pesadelo.

Delírio de loucura é focado no personagem de Manson e sua dependência, mas o grande trunfo do filme é Barbara Rush. Na pele de Lou, ela encarna a típica dona de casa que faz de tudo para manter as aparências e esconder dos vizinhos os problemas. Num tempo sem redes sociais para explanar a suposta felicidade plena, Lou usa de seu sangue frio para enfrentar o marido psicótico e tentar explicar para o filho o que está acontecendo. As cores saturadas presentes nos figurinos e objetos de cena contrastam com as sombras e a atmosfera sinistra que se abate sobre a casa quando Ed passa de pai e marido amoroso para um obcecado pela perfeição de Ritchie como estudante.

Nicholas Ray conduz Delírio de loucura com inteligência, fazendo um roteiro que poderia descambar para o caricato tornar-se um suspense com pitadas bem dosadas de crítica social. Isso sem falar na questão da dependência química, um tema ainda pouco explorado pelos filmes daquela época e que James Manson consegue transpor com talento. Anos depois, em 1962, ele voltaria a interpretar um viciado em Lolita, de Stanley Kubrick. Só que ao invés de remédios, seu vício é uma garota. Mas isto já é assunto para uma outra coluna.

Delírio de loucura (Bigger than life)

Ano: 1956

Direção: Nicholas Ray

Disponível em DVD e Blu-Ray

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