A Copa de 2014 e o grande golpe – por Anderson Santos e Dijair Brilhantes
Coluna Além das 4 linhas – edição da semana de 31 de outubro de 2011 – por Anderson Santos (editor) e Dijair Brilhantes
O GRANDE GOLPE NA COPA DO MUNDO
De Galvão Bueno a Paulo Vinícius Coelho. O anúncio da tabela da Copa do Mundo FIFA 2014, no dia 20, conseguiu desagradar a (quase) todos no Brasil. Como entender que um dos maiores palcos do futebol mundial, no maior evento do esporte, só possa receber uma partida dos donos da casa?
Ficamos até com receito de perguntar: Após tirarem palcos tradicionais como Belém, Goiânia e o Morumbi da Copa, o que mais podemos esperar de quem organiza o evento, Ricardo Teixeira e cia. na CBF, Blatter na FIFA, sob a intermediação do PcdoB no Governo?
Indefinição de estádios, denúncias de corrupção contra o presidente da CBF e também contra o interlocutor do Governo, o ministro dos Esportes, a Copa do Mundo FIFA 2014, a ser realizada no Brasil, não para de atrair as atenções quanto a problemas.
No dia 20 de outubro, a FIFA anunciou em Zurique as sedes para a Copa das Confederações de 2013. O evento contou com a presença do presidente da CBF e do Comitê Organizador Local, Ricardo Teixeira, que finalmente voltou a falar, após a polêmica da matéria na revista Piauí de julho.
Brasília, Recife, Salvador, Fortaleza, Belo Horizonte e Rio de Janeiro foram as capitais escolhidas para sediar o torneio-teste. A capital federal receberá a abertura e o Maracanã será o palco da final do evento.
Grandes cidades como Curitiba, Porto Alegre e São Paulo, devido ao atraso das obras, ficaram de fora dos jogos. Para o Mundial de 2014, os três estados seguem nos planos – apesar de termos uma “folga” de quatro sedes além do necessário, com estádios particulares esperando por sobras.
Kassab (PSD), Alckmin (PSDB), Andrés Sanchez (Corinthians), Ronaldo e Cafu, se juntaram a alguns trabalhadores no “Itaquerão” para ver o anúncio de São Paulo como a sede da abertura da Copa do Mundo – como se todos não soubessem que seria lá…
Fortaleza e Brasília se juntam à capital econômica do país como sedes da Seleção (cada vez menos) Brasileira na primeira fase. Passando de fase em primeiro, o time passará por Belo Horizonte, novamente Fortaleza, de novo BH na semifinal e só joga no Maracanã na final.
NUNCA NA HISTÓRIA…
Se você organiza um evento competitivo, mas não pode interferir diretamente no jogo – apesar que em alguns casos isso pode ter ocorrido, casos de 1938 (Itália/Mussolini) e 1978 (Argentina/Junta Militar) –, o mínimo que se pode fazer é que o país-sede joga o máximo possível nas suas principais cidades.
Assim, o Japão jogou mais em Yokohama, a Alemanha em Berlim e a África do Sul em Joanesburgo. No caso do Brasil, poderia ser São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, com uma ou outra cidade sendo incluída, principalmente nas fases iniciais. Mas não…
Se a escolha das 12 sedes foi feita de maneira que cidades com tradição no futebol, casos de Goiânia e Belém, foram excluídas para a entrada de Manaus e Cuiabá – atendendo, quem sabe, a um pedido de João Havelange, para “mostrar a floresta ao turista” –, o que esperar?
Tudo. Que se fizesse até um tour pelo imenso território brasileiro, mas nunca, jamais, em hipótese alguma, que o principal estádio só recebesse a Seleção numa decisão. Ou seja, o Maracanã, que recebeu o Brasil em cinco dos seis jogos de 1950, dos sete jogos que sediará em 2014 só poderá receber os “donos da casa” por uma vez!
Abrem-se duas possibilidade com essa decisão. A primeira é que provavelmente na única vez na história o país-sede não jogue no seu principal estádio, caso a Seleção (até agora) do Mano tropece no meio do caminho. A segunda é que, com a chegada na final, o “Maracanazzo” seja ainda ainda mais alimentado, numa grande possibilidade de versão século XXI.
Estudaram tantas formas de tabela, com o Comitê Organizador Local envolvido, para fazerem isso? Colocarem o Brasil para rodar mais de 3000 Km só na primeira fase enquanto o cabeça-de-chave do Grupo H andará três vezes menos, entre BH, Rio de Janeiro e São Paulo?
HIPÓTESES
Se a ideia é percorrer regiões do país, por que repetir Fortaleza e Belo Horizonte em jogos nas fases seguintes? O Sul não teria nenhum estádio apto para isso, ou até mesmo Salvador no limite sul da região Nordeste?
Apesar de não se ter como saber ao certo quais as relações político-econômicas que prevaleceram nesta formulação de tabela, cabe – ah, se cabe – tecer algumas hipóteses.
A primeira, e mais óbvia, é a escolha do estádio do Corinthians como abertura. Andrés, todo mundo sabe que o time o qual você preside iria construir o estádio de qualquer forma, mas a Copa fez com que os eternos projetos finalmente fossem transformados em realidade – melhor ainda se for tendo aproveitado a briga CBF-São Paulo Futebol Clube.
Independente de qualquer coisa, não pensar em São Paulo como sede de abertura, um dos eixos do futebol no Brasil junto com o Rio de Janeiro – por vários motivos de ordem político-econômica também –, seria errôneo. Além de tudo, o Estado é a base do PT, do PSDB e do neófito PSD do Kassab, o antro do poder no Brasil.
Fortaleza é gerida pela prefeita Luiziane Lins, presidente do PT no Ceará, cujo estado é comandado por Cid Gomes (PSB). Marcado por ter pago passagem da sogra ao exterior com cartão corporativo, Cid é irmão do algumas vezes candidato a presidente e (a) ministro Ciro Gomes. O Ceará também é a base da família Jereissati, que ainda possuiu parte na gigante “nacional” das telecomunicações Oi, e é um dos principais grupos econômicos do país.
Já Belo Horizonte divide com Porto Alegre, e quiçá Curitiba, o posto no futebol da terceira cidade do país. Do mesmo jeito que não daria para se pensar uma Copa sem o Maracanã, e sem o Morumbi, não se pode imaginar um evento destes sem o Mineirão.
Apesar de o Estado ser comandado por Antonio Anastasia (PSDB), herdeiro político de Aécio Neves, a prefeitura da capital é gerida por Márcio Lacerda, também do PSB, que faz parte da base do governo petista.
COPA DAS OBRAS PRIVADAS
Quando foi anunciado que o Brasil seria sede da Copa do Mundo de 2014, foi dito em alto e bom tom que não haveria dinheiro público na construção de estádios. Que tudo seria feito em parcerias com a iniciativa privada. Mas onde não foi injetado dinheiro público as obras estão quase paradas. O caso mais emblemático é o Beira-Rio. O estádio colorado perdeu a Copa das Confederações e sofre fortes ameaças de perder também a Copa do Mundo.
Há mistério nas negociações do contrato entre o clube gaúcho e a construtora Andrade Gutierrez. Lembramos que o clube propunha bancar a obra sozinho, mas as “exigências” da FIFA – incluindo a de se ter as empreiteiras escolhidas por ela – fizeram com que a direção do time mudasse de ideia, dado o aumento nos valores para a reforma, que está 20% feita.
O presidente colorado, Giovanni Luigi, disse em nota oficial que foi bom para o clube ficar de fora da Copa das Confederações para ter mais tempo para 2014, além de nas hostes do Inter ter sido comemorado o fato de Porto Alegre receber um quinto jogo, este nas oitavas de final – justo num Estado que se orgulha de ser “diferente” do Brasil, apequenando-se para entidades privadas…
O governo gaúcho parece não ter concordado, já que o Estado deixa de arrecadar. Já o prefeito de Porto Alegre, José Fotunati, diz ter convicção que o Internacional e a Andrade Gutierrez entrarão em um consenso em breve. Os próprios conselheiros colorados não sabem qual rumo tomar. A única convicção é que o clube gaúcho virou refém da construtora e que o arquirrival Grêmio está na espera para ser escolhido como sede da Copa, já que sua Arena – mesmo após vários problemas com os trabalhadores – deve ficar pronta já em 2012.
ENQUANTO ISSO, EM CERTO PARAÍSO FISCAL EUROPEU…
A FIFA deu a dica à imprensa: a próxima reunião com o governo brasileiro seria intermediada por outra pessoa, já que Orlando Silva (PcdoB) seria afastado por conta da ligação com supostos casos de corrupção – a “santa” entidade ensinando ao Brasil como afastar corruptos, até parece que lá aconteceria isso…
Na semana passada, Orlando Silva, não o “cantor das multidões”, caiu. Quem assume o posto é Aldo Rebelo (PcdoB/SP) – para alegria da bancada rural. Mesmo após as divergências sobre a formulação do Código Florestal (pró-latifúndio), a presidenta Dilma resolveu “engolir (mais um) sapo” do PCdoB, mesmo querendo outra pessoa para o cargo.
O alagoano Rebelo foi o presidente da CPI Nike/Futebol, em 2000, sendo coautor de um livro proibido de ir às livrarias por decisão judicial pró-CBF, por trazer as relações escusas da entidade. Seria algo positivo então? Podemos ficar tranquilos e acreditar na “independência” dele quanto ao assunto?
Vamos saber o que fala a CBF, que se apressou em lançar nota pública e cujo presidente esteve na posse do novo ministro:
“Em nome do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo da FIFA, parabenizo o novo ministro do Esporte, Aldo Rebelo, e desejo boa sorte em sua nova missão. Que o ministro conte sempre com a nossa colaboração e saiba que as portas do Comitê estarão sempre abertas”.
São frases dedicadas a um “inimigo”? Nós achamos que não. Ironicamente, um viva a este Brasil!
QUEM ESCREVE:
Anderson Santos é jornalista e mestrando em comunicação social na Unisinos ([email protected]), Dijair Brilhantes ([email protected]) é estudante de jornalismo.
Twitter da coluna: @alem_das4linhas
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