Filme Feliz – por Bianca Zasso
O diretor inglês Mike Leigh é um especialista em dilemas femininos. Seus filmes O segredo de Vera Drake e Segredos e Mentiras são bons exemplos de sua delicadeza ao conduzir histórias protagonizadas por mulheres batalhadoras e, ao mesmo tempo, frágeis. Sem perder o ritmo, em 2008, Leigh trouxe para as telas a história de uma moça que encara a vida de um jeito peculiar. Simplesmente feliz narra a trajetória de Polly, uma professora primária que não tem problemas. Ou que pelo menos encara-os de uma maneira diferente da maioria das pessoas. Polly encontra felicidade e motivo para risos em detalhes do cotidiano que de felizes não aparentam ter nada. Com 30 anos, solteira e dividindo o apartamento com uma amiga, Polly transforma seu trabalho e sua rotina num verdadeiro parque de diversões. Suas amigas já estão acostumadas com seu jeito risonho e quase inocente de levar os dias. Mas todo esse otimismo começa a fraquejar quando Polly conhece seu instrutor na auto-escola. Um homem metódico, rabugento, sério ao extremo.
Simplesmente feliz não é um filme comum. Nos seus primeiros momentos, a trama chega a ser irritante, já que sua protagonista tem uma leveza e um bom humor tão fortes que parece saída de uma fantasia infantil. Aliás, as crianças são um ponto importante dentro da trama. Polly enfrenta problemas com um aluno violento, o que ajuda a abalar sua intensa felicidade. O tom infantil da trama também está presente no figurino de Polly, que usa roupas coloridas e acessórios que parecem brinquedos. O que nos primeiros minutos de filme irrita, passa a ser o grande trunfo de Polly, que contagia até o mais convicto dos pessimistas. Mike Leigh conduz essa comédia com toques de drama de uma maneira leve, realista e tocante, sem em nenhum momento beirar o piegas e o extravagante. Apesar de ser repleta de momentos divertidos e diálogos feitos para causarem sorrisos, Simplesmente Feliz se encaminha para o amadurecimento de sua protagonista que, ao longo de suas aventuras, descobre que não há como ser feliz o tempo inteiro. Em algum momento, por mais otimistas que sejamos, a vida vai dar uma amarelada em nosso sorriso.
A atriz Sally Hawkins consegue uma proeza com sua intepretação em Simplesmente Feliz: nos primeiros minutos nos tira do sério com sua positividade sem limites, sorrindo aos borbotões mesmo com a grana curta, a vida sentimental errante e os problemas no trabalho. A primeira reação do público é odiá-la ou, no mínimo, achar que ela não está no seu juízo perfeito. Mas Hawkins vai chegando de mansinho, conquistando nos pequenos e singelos conselhos contidos em seus diálogos e acaba ganhando a simpatia do público, que torce para que a feliz Poppy tenha motivos pra ser ainda mais…feliz.
Premiada no Festival de Berlim e também no Globo de Ouro, Sally Hawkins e seu delicioso sotaque inglês fazem de Simplesmente Feliz um filme perfeito para aqueles dias onde se precisa de motivação. Passa longe da auto-ajuda, mas trata com inteligência o público que busca mais do que uma simples piada para esboçar um sorriso. Nem só de tristeza, sofrimento e duras batalhas se faz o cinema. Mike Leigh que o diga.
Simplesmente Feliz (Happy-go-lucky)
Ano: 2008
Direção: Mike Leigh
Disponível em DVD
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