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O homem que arrastava o caixão – por Bianca Zasso

O cinema do diretor americano Quentin Tarantino é feito de referências que vão da música pop aos filmes de artes marciais mais toscos já produzidos. Sua produção Pulp Fiction  trouxe um novo fôlego para o cinema dos anos 90 e transformou Tarantino em ídolo. A cada novo filme, cria-se uma expectativa sobre qual será a sua fonte de inspiração.

Seu próximo lançamento, previsto para estrear no Brasil em janeiro de 2013, promete ser um copo bem cheio de whisky sem gelo. Django Livre será o primeiro faroeste de Tarantino. Pelo menos o primeiro oficialmente, já que Kill Bill tem fortes referências em seu roteiro do clássico A morte anda a cavalo, estrelado por Lee Van Cleef. Django Livre é uma história original, mas quem freqüenta a prateleira de faroestes das locadoras há algumas décadas conhece esse nome de outros duelos.

Django, lançado em 1966, tem direção de Sergio Corbucci, um dos grandes nomes do faroeste italiano. A partir do final da década de 50, com o sucesso estrondoso das produções americanas ambientadas no velho oeste, a indústria cinematográfica européia, em especial a da Itália e da Espanha, começaram a produzir filmes de faroeste em larga escala.

Apesar de seguirem o modelo hollywoodiano, com direito a duelo na rua principal da cidade ao pôr-do-sol, os chamados westerns spaghettis tinham o seu diferencial. A violência extrema e as decisões politicamente incorretas transformaram esses filmes em sucessos dentro e fora da Europa. Porém, Django merece lugar de destaque na lista do gênero por ter inaugurado o que alguns estudiosos chamam de “faroeste para maiores”.

Apesar do baixo orçamento, o Django de Corbucci tem imagens grandiosas, quase épicas, a começar pela belíssima cena de abertura, onde o público é apresentado ao protagonista de um modo enigmático, modo esse que vai percorrer toda a trama. É nesse mistério que mora o encanto do herói. Aquele homem vestido de preto dos pés a cabeça, caminhando na lama debaixo de uma chuva torrencial, esconde segredos que serão revelados aos poucos e sempre de maneira impactante, bem ao gosto de Corbucci, conhecido também por suas produções de horror que antecederam ao gênero Giallo, nome dado ao terror italiano produzido a partir da década de 60. A dúvida maior não é nem o motivo que leva Django a matar, mas o que ele esconde dentro do caixão que arrasta junto consigo o tempo todo. Será um corpo? Uma coleção de pistolas? Ou ele só quer impressionar seus inimigos?

Mesmo se valendo do mistério para cativar o espectador, Corbucci construiu em Django algumas das melhores sequências de sua carreira. Os closes no rosto enigmático do ator Franco Nero e as trocas de tiros na cidade lamacenta onde Django vai parar tinham uma construção até então inédita nos filmes de faroeste. Hollywood havia instituído até então que, por mais que houvesse vilões e tiros, era o bom coração do pistoleiro o que falava mais alto no final. A Itália deixou essa ternura de lado e mudou as regras do “oeste”. À bala, é claro.

Nas poucas declarações dadas por Quentin Tarantino até agora sobre Django Livre, o diretor deixa claro que a trama de seu filme é diferente da de Sergio Corbucci, apesar da semelhança na sinopse divulgada para a imprensa ser bem clara. Se seguir seu ritmo atual, Tarantino promete muita violência e tiradas inteligentes nos diálogos, bem ao estilo de seu último sucesso, Bastardos Inglórios. Aliás, o filme foi inspirado em uma produção italiana de mesmo nome dirigida por um contemporâneo de Corbucci, Enzo G. Castellari. O vinho italiano parece ter inebriado Tarantino. Que venha o brinde!

Django

Ano: 1966

Direção: Sergio Corbucci

Disponível em DVD

 

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